Há 50 anos o cinema sofreu mudanças. Críticos da revista francesa “Cahiers du Cinema” conseguiram financiamento para passar da teoria à pratica. Do grupo, três se destacaram: François Truffaut, Jean Luc Godard e Claude Chabrol. É possível citar ainda: Jean Pierre Melville, Jacques Rivette, Eric Rohmer, Alain Resnais e Louis Malle. Esses cineastas procuraram dar uma nova forma à linguagem cinematográfica, instituindo os cortes sem continuidade, desobedecendo a cronologia das histórias, na verdade, desimportando-se com o status de “contar uma história”, já estabelecido e usando o cinema como uma arte bem independente, mais ligada à introspecção.
Do grupo, foi Jean Luc Godard quem mais se destacou em termos de rebeldia aos cânones obedecidos desde o tempo de atuação de David Wark Griffith (1914 com “Nascimento de uma Nação”). Logo na sua estréia, com “Acossado” (À Bout de Souffle) subverteu a métrica filmica e fez uma aventura policial imaginada pelo colega Truffaut de um jeito que trocou a emoção do “thriller” pela admiração da própria narrativa, do modo como se construiu a odisséia de suas personagens: um ladrão e uma estudante norte-americana (respectivamente interpretados por Jean Paul Belmodo e Jean Seberg).
Devido a esse evento – cinqüentenário de um movimento importante na história do cinema, movimento que se espraiou por diversas partes do mundo (inclusive o Brasil com o “cinema novo”) – a ACCPA está reservando títulos de filmes dos três pioneiros do movimento para os espaços que oferece programas na cidade de Belém: Sessão Cult (Cine Libero Luxardo), Sessão do Cine Clube Alexandrino Moreira (IAP) e Sessão Cinemateca (Cinema Olympia).
O filme “Acossado” (À Bout de Souffle, França, 1960) será o programa do dia 8 de agosto, no Libero Luxardo, às 16h30, como parte da Sessão Cult. Quem não conhece o primeiro filme de Jean-Luc Godard terá a chance de conhecer. Importante: participar do debate sobre o trabalho – e a obra do diretor, depois da projeção, sendo conduzido pelo godardiano (entre nós) Vicente Frans Cecim.
“Os Incompreendidos” (Les 400 Coups, França, 1959 ), primeiro filme de longa metragem dirigido por François Truffaut, estará no dia 10, na Sessão do Cine Clube AGM, no IAP. Pode-se dizer que esse filme inaugurou o movimento “Nouvelle Vague” no ano de s eu lançamento. Apresenta traços biográficos e lança o ator Jean-Pierre Léaud como o “alter ego” de Triffaut, personagem que seguirá pela adolescência e idade adulta em filmes seguintes como “Beijo Roubado”, “Domicilio Conjugal” e “Amor em Fuga”. Truffaut faleceu em 1984 vitima de um tumor maligno no cérebro.
“Quem Matou Leda”( À Double Tour , Itália/França, 1959) é o terceiro longa-metragem de Claude Chabrol e o primeiro em cores. Também é o primeiro na esfera do gênero policial que ele admira a partir do seu cineasta preferido, o inglês Alfred Hitchcock. Neste filme, que também conta com Jean Paul Belmondo, o roteiro cobre o assassinato da personagem-título e as suspeitas que recaem sobre um leiteiro, amigo da empregada da casa de uma família de classe média-alta. Ocorre que o namorado da filha dos donos da casa, um “bom vivant”, detestado pelos pais da jovem por seu comportamento extrovertido, mostra-se defensor do acusado revelando pistas para elucidar o crime.
No final dos anos 1950 e inicio dos 60, os novos cineastas franceses ganhariam festivais, passando a influenciar colegas até mais antigos que atuavam em diversas partes dom mundo, inclusive na famosa Hollywood. Alain Resnais faria “Hiroshima Meu Amor” usando o tempo como elemento narrativo; Louis Malle impressionava com o seu “Ascensor Para o Cadafalso”, usando, inclusive, a unidade de tempo que se via em filmes como “Punhos de Campeão” e “Matar ou Morrer”. Jacques Rivette chamaria atenção em 1965 com “A Religiosa” e Eric Rohmer com “Le Signe de Lion” em 1959 (só agora visto no Brasil, em DVD).
A geração que viveu a época em que esses filmes foram lançados constatou que houve mudanças acentuadas na face de um tipo de cinema que era realizado. Não demorou e as conquistas estéticas seriam incorporadas ao processo industrial e o cinema norte-americano passaria a adotar os métodos, especialmente a montagem, não se importando mais em ser explicito na passagem de seqüências indicando espaço de tempo ou mudança estrutural. Sobre esse debate entre o que era a linguagem estabelecida e as contribuições da “nouvelle vague” há uma literatura sugnificativa. Recomendo o livro “Cinema, Arte, Ideologia” (Editora Afrontamento, 1975), com textos de grandes teóricos como: Amengual, Baldelli, Bazin, Comolli, Coursodon, Delahaye, Guback, Kane, Lenne, Metz, Sadoul e Tavernier. Além de entrevistas com: Bresson, Gravas, Godard, Glauber Rocha, Rossellini, Rouch e Straub.
Para o grande mestre Jean Luc Godard somente agora é que o cinema sai da pré-história. Para ele, o potencial dessa arte está longe de ser esgotado. Ele consedera a pesquisa da linguagem tudo o que renova e em cada filme seu ele introduz um elemento para o repensar essa arte que abraçou como uma amante. Seus novos filmes indicam um caminho em busca da exploração exaustiva desse potencial. Por não seguirem de perto o compasso do que se produz nos grandes centros produtores ainda causam impacto para certo público. Na verdade, a “nova onda” foi mesmo um tusiname na arte das imagens em movimento. Daí ser capital assistir aos filmes pioneiros desses autores.
Tenho admiração incondicional pela obra de Godard, principalmente “Duas ou Três Coisas Que eu sei Dela” (2 ou 3 Choses Que Je Sais d'Elle, França, 1967). Ele trata de Paris dos anos 1960.
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