terça-feira, 28 de julho de 2009

INIMIGOS PÚBLICOS







Johnny Dillinger viveu intensamente seus relativamente poucos anos nos Estados Unidos da pós-Primeira Grande Guerra, época da crise econômica, da lei seca, do banditismo que desafiava os policiais e, muitas vezes, ganhava a simpatia de certo público. É possível dizer que Dillinger foi um dos mais afamados gangsteres mundiais. Por isso deu motivo a muitos filmes. A primeira versão conhecida data de 1945, com Lawrence Tierney vivendo o personagem, sendo dirigido por Max Nosseck. Não conheço essa versão, mas a dirigida por John Milius, protagonizado por Warren Oates enquanto Martin Sheen vivia o policial John Purdy.
Creio que o trabalho de Mann está acima das comparações. Não só em termos de produção, que recria os EUA dos anos 30, como na posição de não reforçar os tradicionais estereótipos, chegando a pintar um Dillinger “nem bom nem mau”, apontando muito mais para o ardiloso que consegue não só fugir de prisões tidas como inexpugnáveis como até mesmo de zombar da policia, “passeando” por uma delegacia enquanto os policiais estão nas ruas atrás dele.
O filme de Michael Mann, “Inimigos Públicos” (Public Enemies, EUA, 2009, 140 min.), com roteiro do próprio diretor e de Ronan Bennett e Ann Biderman, se baseia no livro de Brian Burroughs. A argumentação não está preocupada com a gênese do criminoso, ou seja, não focaliza a sua origem e as possíveis dificuldades que encontrou na sua formação. Interessa a caça ao homem: Dillinger (John Deep). E nesta caça se incorpora a visão critica da base do FBI, o “Bureau Investigation” de J. Edhar Hoover (Billy Crudup). O organismo governamental esbarra na astúcia dos gangsteres e seu condutor é repreendido (e afastado da subvenção do Estado) quando Dillinger afronta a sociedade norte-americana com os seguidos assaltos a bancos. A figura de Hoover é posta como o de um administrador que se julga onipotente, enquanto Melvin Purvis (Christian Bale), seu devotado auxiliar é repreendido por deixar Dillinger escapar embora em uma perseguição tenha eliminado o gangster Pretty Boy Floyd (Chaning Tatum). São focos de tensão que acirram os ânimos da corporação policial na caçada ao chamado “inimigo público n° 1”, com a decisão de trazê-lo vivo ou morto.
Segundo a narrativa, Dillinger enamorou-se de Billie Frechette (Marion Cotillard), a ponto de arriscar-se a encontrá-la. Billie teria escrito ao namorado para afastar-se dela pelo perigo que o mesmo corria. Mas ele insistia. Presa e torturada serve de trunfo nas mãos da polícia. Depois disso, há dois caminhos para o personagem: um novo assalto e a persistência em reencontrar a amada. As armadilhas são sempre inevitáveis e só assim Purvis consegue seu intento através de uma amiga do gangster. Á saída de um cinema onde é exibido um filme “de gangster”, com Clark Gable (“Vencido Pela Lei”/ Manhattan Melodrama,1934) de W. S. Van Dyke, Diligger é alvejado e morto.
Tratando a vida de um personagem famoso, de uma época conturbada, de um cenário (seja no aspecto cinematográfico seja no teatral) muitas vezes abordado pelo cinema, “Inimigos Públicos” podia muito bem se acomodar nos “clichês” e ser “mais um” titulo de uma linha que se confunde com um gênero (há livros publicados detendo-se nos chamados “filmes de gangsters”). Mas Michael Mann consegue ir um pouco além. Sem sair do que se sabe sobre o tipo-chave, ele procura dinamizar a abordagem do tempo e ampliar a odisséia do bandido para um quadro em que se vê a força do crime ao desafiar a lei. Também mostra o companheirismo existente em certas falanges do crime, como a fidelidade e preocupação de Dillinger com seus “colegas” e o modo como ele se arrisca gastando tempo para que muitos saiam da prisão na hora em que ele consegue dominar a guarda e sair “pela porta da frente”. Por fim, o filme não se detém na moldagem da dupla romântica como uma nova Bonnie & Clyde. Nem reforça o melodrama a dizer que o herói-vilão morreu por amor. A linha é mais documental, mais tangente ao realismo, mesmo que isso torne a biografia reticente.
Trabalho interessante de um diretor muito talentoso.
Cotação: Muito Bom (****)


Nenhum comentário:

Postar um comentário