quarta-feira, 22 de julho de 2009

NAS CORDAS

Primeiro filme dirigido por Magaly Serrano, “Nas Cordas” (Dans les Cordes/França, 2007, 93 min.) é um curioso ensaio que faz uma analogia entre o boxe e conflitos familiares. O roteiro, da própria diretora associada a Pierre Chosson e Gaële Mace, trata de duas jovens primas: Angie (Louise Szinepindel) e Sandra (Stephanie Sokolinski), criadas pelo casal Joseph (Richard Anconina) e Térésa (Maria de Medeiros) pais da primeira. As meninas crescem no meio do boxe amador e são seduzidas por esse esporte, visto que Joseph, hoje dono de uma academia, foi lutador, deixando de competir quando nocauteado. Elas tornam-se competidoras na área especifica (feminina, de pesos pluma e médio). Mas em um primeiro embate, enquanto Sandra vence com brilhantismo, Angie perde feio. A luta diferenciada mostra esta ultima mais na defesa do que no ataque. Isso gera a explosão de um conflito que se alimenta de fatos familiares culminando na descoberta de que ambas são irmãs e que a vencedora espera ir à revanche contra a rival da prima embora este incidente não seja bem visto pela perdedora que espera por si própria reaver a sua dignidade ferida. E considera esperteza da prima o “acerto de contas”.
O filme caminha pelo mundo do boxe com uma técnica que se usou nos melhores exemplares do gênero como “Punhos de Campeão” (The Set Up), de Robert Wise, “O Touro Indomável” (The Braving Bull) de Martin Scorsese, “O Invencível”(The Champion) de Mark Robson. As tomadas são rápidas, com muitos closes, a fotografia é prudentemente sombria, o elenco porta-se muito bem, com muita espontaneidade, o que é difícil em filme de estréia.
Observando a odisséia das primas-irmãs, pensa-se numa batalha final entre as duas. Mas, inteligentemente, Magaly Serrano apressa esta contenda e a fúria de Angie se faz num treino com a parceira. Ela prova, dessa forma, que sabe lutar, como o faz num encontro em que abandona o ringue na hora em que está ganhando. O que interessa à lutadora é a sua dignidade antes perdida, é hora de satisfazer o seu amor próprio mostrando domínio do esporte, não para ganhar uma batalha, mas reconhecer a sua força, o mais importante.
Há um ponto que destoa na qualidade do filme: o modo como Angie descobre fatos de sua vida. O uso de um recurso aparentemente casual – ela abre um rádio e ouve um telefonema da mãe lamentando uma passagem de infidelidade do marido com a irmã falecida há 28 anos –, com isso circunscrevendo a emoção da lutadora a esse episódio, ao fortalecer sua raiva em manter-se no ringue e garantir a competição jogando a prima para o escanteio de forma agressiva.
Trata-se de um efeito vulgarizado por filmes com predominância no déjà vu, numa seqüência capital no argumento. Seria preferível que a autora usasse uma forma mais sutil de revelar os laços familiares das personagens, certamente menos explicito, deixando um pouco a cumplicidade da platéia.
Mesmo assim, “Nas Cordas” não “joga a toalha”. A diretora retornou à televisão e provavelmente voltará a dirigir em breve. O filme não chegou aos cinemas comerciais brasileiros.

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