segunda-feira, 3 de agosto de 2009

FRANCESES NA TELA





Três filmes franceses tiram da semana a monotonia das continuações. Explico: os cinemas comerciais prosseguem com os lançamentos do verão americano, títulos que lotaram as salas nas férias e em seguida esperam a visita dos veranistas que passaram o período longe da cidade. Os filmes franceses são: “O Último dos Loucos” (Olympia), “Uma Velha Amante” (Libero Luxardo) e, só em DVD no Pará (foi exibido no sudeste e recorde de público na França) “ Tempos Que Mudam”.
“O Último dos Loucos”(Le Dernier des Fous/2007, 96 min.) é dirigido por Laurent Archard e trata de uma família anômala, vista pelo mais novo membro, um menino de 11 anos que tudo observa de um espaço reservado. Mãe catatônica, pai dependente do avô, avó vivendo de devaneios, o irmão mais velho alcoólatra, o mundo em uma fazenda é um pesadelo que enlouquece. O conforto que recebe vem de um gato, Mistigri, e de uma amiga marroquina, Malika. O filme foi apresentado em Locarno e ganhou o Prêmio Jean Vigo, um dos mais prestigiados da França.
“Uma Velha Amante” (La Vielle Maitresse/2007, França, 114 min.) é da diretora de “Romance” (1999), Catherine Breillat. Neste novo filme ela focaliza um triangulo amoroso na aristocracia do século XVIII. Escrita por Barbey d’Aurevilly, centra a história em Ryno, noivo de uma cobiçada donzela, Hermangarde, mas o seu relacionamento no passado com uma espanhola libertina (interpretada por Ásia Argento),vem a tona e o jovem confessa a verdade à Marquesa de Flers, tutora da noiva. A narrativa em “flashback” acompanha a demonstração de sexualidade do personagem e de sua companheira. Os críticos viram no papel feminino um estereotipo da espanhola insaciável, mas houve quem achasse este filme o melhor da diretora.
Rafael Mesquita, da revista eletrônica Contracampo (www.contracampo.com.br) diz: “Para os que esperam ver muito sexo explícito em Uma Velha Amante – como de costume nos filmes de Catherine Breillat – aviso logo que irão se decepcionar. Ainda que haja corpos nus e cenas de sexo, seguramente não é isso que caracteriza o filme, e nem tampouco é objeto de desejo do espectador durante boa parte da projeção. Mas se à primeira vista o filme parece pudico (em se tratando da diretora), um olhar atento logo nos faz ver que se trata de uma história ácida, contada com muita categoria e imponência. Por trás da imagem forte e distante está contida toda a perversão que Breillat não explicita. (...)”.
“Tempos que Mudam”(Les Temps qui Changent/2004, França, 98 min.) é assinado por André Techiné e tem no elenco as duas maiores estrelas do cinema europeu: Catherine Deneuve e Gerard Depardieu que já contracenaram em muitos filmes, a exemplo de uma dupla conhecida dos velhos cinéfilos: Marcello Mastroianni e Sophia Loren, dirigidos por Vittorio De Sica. O enfoque de Techiné é sobre o personagem de Depardieu, um engenheiro que vai a Tanger observar uma obra, mas, na verdade, quer rever a amada da juventude (Deneuve) que desencontrou há mais de 30 anos. Já casada, tem um filho, enquanto o ex-namorado prossegue solteiro aguardando a chance de tê-la ao seu lado pelo resto de seus dias. Fria, no contato atual, não demonstra o drama que vive ao revelar ao marido médico, a orientação sexual do filho, com isso agravando o desgaste que o casamento já vinha sofrendo. O ex-amado, por sua vez, sofre um acidente com o desabamento de um terreno na construção que inspeciona e por pouco não perde a vida. O filme não quer atender à uma solução romântica. Usa uma narrativa fragmentada, para desconstruir o emocional, com o elenco contornando alguns óbices e apresentando um desempenho que eleva a produção bem acima da média.
Se hoje chama a atenção a produção francesa mantida no circuito extra ou nas videolocadoras, não foi sempre assim entre nós. A exibição comercial em Belém, na década de 1960 (pelo menos a que acompanhei como residente nesta cidade) era prolífica em filmes europeus, principalmente italianos e franceses. Estes eventos também circulavam nas cidades do interior onde havia pequenos cinemas mantidos por distribuidoras locais. Com isso, havia uma diversificação de escolas cinematográficas que davam ao público acúmulos culturais variados, favorecendo um itinerário artístico extremamente rico. Essa facilidade vinha de empresas como a França Filmes, por exemplo, sediadas no Brasil e mantendo uma programação sistemática com as “praças” do Norte, cujos cinemas, no nosso caso, o Cine Olímpia, o Moderno, o Independência, o Cine Art primavam pelos lançamentos dessa companhia. Hoje nossas casas exibidoras mantêm o domínio de uma produção norte-americana ficando no sul e sudeste os grande festivais do cinema europeu.
O matiz cinematográfico está voltando agora através da programação feita pelo cinema extra que teve sempre o papel de enfrentar o status quo, ou seja o domínio estabelecido. Assim, os filmes em cartaz de um mesmo ano vindo de Paris, os franceses estão na "praça" considerando a programação da ACCPA com vistas nos 50 anos do movimento “nouvelle vague”. Começou no domingo, com a exibição de “Quem Matou Leda?” de Claude Chabrol, na Sessão Cinemateca do Olympia. Prossegue sábado próximo (08), na Sessão Cult (16h30) do Libero Luxardo com “Acossado” de Jean Luc Godard e encerra na 2ª. feira, dia 10, no IAP, com “Os Incompreendidos” de François Truffaut.
É o ano da França no Brasil mas esses cartazes foram agendados fora de programação oficial do evento.

Nenhum comentário:

Postar um comentário