Neste texto, Pedro Veriano dá uma circulada na memória para lembrar os flashes de sua infância belenense junto com o primo Carlos Alberto Direito, falecido esta semana. Mas também deixa espaço para recomendar um filme. (LMA)
“Amanheci o mês de setembro com a notícia da morte de meu primo Carlos Alberto. Ele era Ministro do STF, ápice de uma carreira que deve ter orgulhado o meu tio Lulu (Luiz Nunes Direito), o pai que ele amava e que morreu em seus braços depois de uma cirurgia.
O Beto, ou Betinho como os parentes de Belém chamavam, morou algum tempo na minha casa da S. Jerônimo, época em que ainda era criança e gostava de ouvir as histórias que eu inventava e que era obrigado a contar seguidas vezes para moderar a sua natural inquietação infantil, tarefa solicitada por minha mãe.
A família do Beto mudou-se para o Rio de Janeiro quando a primogênita, Ângela Maria, morreu aos 11 anos decorrente de apendicite que julgaram impossível de ser tratada cirurgicamente. Na época, ele tinha pouco mais de 3 anos e o irmão mais velho, João Luiz, 8. Assumindo a cidadania carioca fez-se advogado e palmilhou uma carreira muito edificante, aquilo que seu “pai coruja” sonhava para um de seus herdeiros.
Já figura pública, quando vinha à Belém, Betinho procurava-me. Lembrava que eu sempre fui “um palito” (nunca fui gordo), e gostava de atiçar o tempo ido, a tia Noca (minha mãe), o tio Pedro (meu pai), a casa do Mosqueiro (que ainda hoje existe e está na família), o pessoal de meu irmão (José Maria, conhecido pelo sobrenome Direito Álvares).
Recordo o Beto no período em que a turma mais velha brincava no porão imenso da casa de meus pais. Ele era o menor do grupo. Depois, numa de suas férias, quando a tia Carmen adoecera no Rio e dele se escondia o diagnostico de vários aneurismas cerebrais, um caso muito difícil de ser resolvido posto que inoperável. A noticia no jornal informava que ela havia sofrido um “insulto cerebral”. Beto leu e gritou “que diabos era aquilo”. Foi uma luta consolá-lo.
Já professor universitário disse-me uma frase que não esqueço a propósito da onda de invasões de terra no período pré-revolução de 64: “- Não temos forma agrária como pensar em reforma agrária?” Nessa altura percebi que o menino de ontem virara um adulto inteligente como sonhava o velho Lulu.
A trajetória de Carlos Alberto foi rápida e o final prematuro. Disseram que “no Brasil quem é Direito dura pouco”. No caso dele é certo. Outra vez foi injuriado por uma revista que fez sensacionalismo de um direito (não o sobrenome) dado às autoridades e familiares nos aeroportos. Botaram até a foto do Beto na capa. Não sei como a coisa repercutiu nele, uma pessoa que tratava a probidade administrativa, a honradez, a família, como dogmas. Sei que a sua religiosidade (era católico praticante) não embotava o raciocínio critico. Votou a favor da pesquisa com células-tronco. Não poderia deixar por menos sendo o que o pai alertava ao sobrinho que não tinha pegado Ita no norte (ou melhor, Constellation da Panair em Val de Cães).
Casado, pai, avô, escreveu livro e deve ter plantado uma árvore. Desse jeito cumpriu aquela sentença hindu de realização em vida. Mas partiu novo para a estimativa atual (66 anos). Tomei um susto ao saber de seu falecimento. Mas quando penso que todos da minha velha casa já se foram, tirando é claro a gente que foi nascendo (ou se criando) por lá, muito mais nova, me conformo. No arquivo de minhas emoções estão essas figuras que vibram como chegaram a ele (arquivo). É o conforto de um filme gravado pelos neurônios e projetado quando quero nas circunvoluções cerebrais.
Bem, para não deixar de tocar em cinema, recomendo “Up, Altas Aventuras”. Uma seqüência sem falas que narra a vida de um casal, do namoro ao túmulo é um marco na história do desenho animado. O filme da PIXAR reafirma que o gênero “animação” não é mais restrito às criancinhas. Esta “alta aventura” atrai adultos. E só não ganha o anterior “Wall E” porque perde tempo numa perseguição do tipo gato-atrás-do-rato. (Pedro Veriano)
O Beto, ou Betinho como os parentes de Belém chamavam, morou algum tempo na minha casa da S. Jerônimo, época em que ainda era criança e gostava de ouvir as histórias que eu inventava e que era obrigado a contar seguidas vezes para moderar a sua natural inquietação infantil, tarefa solicitada por minha mãe.
A família do Beto mudou-se para o Rio de Janeiro quando a primogênita, Ângela Maria, morreu aos 11 anos decorrente de apendicite que julgaram impossível de ser tratada cirurgicamente. Na época, ele tinha pouco mais de 3 anos e o irmão mais velho, João Luiz, 8. Assumindo a cidadania carioca fez-se advogado e palmilhou uma carreira muito edificante, aquilo que seu “pai coruja” sonhava para um de seus herdeiros.
Já figura pública, quando vinha à Belém, Betinho procurava-me. Lembrava que eu sempre fui “um palito” (nunca fui gordo), e gostava de atiçar o tempo ido, a tia Noca (minha mãe), o tio Pedro (meu pai), a casa do Mosqueiro (que ainda hoje existe e está na família), o pessoal de meu irmão (José Maria, conhecido pelo sobrenome Direito Álvares).
Recordo o Beto no período em que a turma mais velha brincava no porão imenso da casa de meus pais. Ele era o menor do grupo. Depois, numa de suas férias, quando a tia Carmen adoecera no Rio e dele se escondia o diagnostico de vários aneurismas cerebrais, um caso muito difícil de ser resolvido posto que inoperável. A noticia no jornal informava que ela havia sofrido um “insulto cerebral”. Beto leu e gritou “que diabos era aquilo”. Foi uma luta consolá-lo.
Já professor universitário disse-me uma frase que não esqueço a propósito da onda de invasões de terra no período pré-revolução de 64: “- Não temos forma agrária como pensar em reforma agrária?” Nessa altura percebi que o menino de ontem virara um adulto inteligente como sonhava o velho Lulu.
A trajetória de Carlos Alberto foi rápida e o final prematuro. Disseram que “no Brasil quem é Direito dura pouco”. No caso dele é certo. Outra vez foi injuriado por uma revista que fez sensacionalismo de um direito (não o sobrenome) dado às autoridades e familiares nos aeroportos. Botaram até a foto do Beto na capa. Não sei como a coisa repercutiu nele, uma pessoa que tratava a probidade administrativa, a honradez, a família, como dogmas. Sei que a sua religiosidade (era católico praticante) não embotava o raciocínio critico. Votou a favor da pesquisa com células-tronco. Não poderia deixar por menos sendo o que o pai alertava ao sobrinho que não tinha pegado Ita no norte (ou melhor, Constellation da Panair em Val de Cães).
Casado, pai, avô, escreveu livro e deve ter plantado uma árvore. Desse jeito cumpriu aquela sentença hindu de realização em vida. Mas partiu novo para a estimativa atual (66 anos). Tomei um susto ao saber de seu falecimento. Mas quando penso que todos da minha velha casa já se foram, tirando é claro a gente que foi nascendo (ou se criando) por lá, muito mais nova, me conformo. No arquivo de minhas emoções estão essas figuras que vibram como chegaram a ele (arquivo). É o conforto de um filme gravado pelos neurônios e projetado quando quero nas circunvoluções cerebrais.
Bem, para não deixar de tocar em cinema, recomendo “Up, Altas Aventuras”. Uma seqüência sem falas que narra a vida de um casal, do namoro ao túmulo é um marco na história do desenho animado. O filme da PIXAR reafirma que o gênero “animação” não é mais restrito às criancinhas. Esta “alta aventura” atrai adultos. E só não ganha o anterior “Wall E” porque perde tempo numa perseguição do tipo gato-atrás-do-rato. (Pedro Veriano)
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