Não lembro muito bem do filme de Joseph Sargent, com o mesmo titulo do atual “O Seqüestro do Metrô 123” ora em cartaz. Sei que os personagens centrais eram interpretados por Walter Matthau (Tenente Zachary Garber) e Robert Shaw (Blue). O original baseava-se numa novela de John Godey que agora é reescrita para o cinema por Brian Helgeland (no primeiro filme era Peter Stone). A novidade desta versão atual parece ser a tecnologia da mesa de edição por computador: os desastres homéricos, as corridas de autos pelas ruas mais movimentadas de Nova York (isto em parte, pois muita coisa foi feita mesmo nas ruas com a produção se esforçando para esvaziar os espaços). E a menção política da história, com o prefeito sendo mostrado como um corrupto que diz não estar concorrendo à reeleição, mas não deixa de apresentar a imagem de um bajulador de votos.
É possível resumir o enredo da seguinte forma: um ex-presidiário, famoso por golpes de grande porte, resolve seqüestrar um vagão do metrô de Nova York (o 123 do titulo). O encarregado de dirigir o tráfego, Tte, Grauber (Denzel Washington), é quem recebe a mensagem do seqüestrador e solicita tempo para conversar com os agentes da prefeitura a fim de recolher os recursos exigidos pelos criminosos para resgatar os passageiros do veiculo. O tempo é curto, a prefeitura é acionada, e começa uma ligação forte entre Ryder (o seqüestrador, interpretado por John Travolta) e Grauber. Sabe-se, pelas falas, que o segundo andou metido em uma transação ilícita numa viagem ao Japão para adquirir comboios novos. Através da intervenção policial há uma composição da imagem de Ryder pela conversa que mantém com Grauber e desse contato cria-se um perfil do ex-presidiário. Mas o que interessa é a angustia do tempo passar e o inicio da execução dos passageiros. Para alimentar essa angustia, o filme é pontuado pelo relógio. Não é bem uma ordem cronológica como a que se viu em “Punhos de Campeão”(The Stet Up/ 1949) e “Matar ou Morrer”(High Noon/1951). Mas a menção dos minutos impulsiona o “thriller”, alicerçada pelos gritos de Ryder/Travolta. É claro que todo mundo no cinema percebe a punição dos malfeitores no final (o seqüestrador-chefe e seus dois comparsas). Mas a figura do “mocinho” vulnerável pelo seu currículo apresentado se torna a tensão nas ultimas seqüência. Será que ele morre? Ainda mais quando vai pessoalmente entregar a soma do resgate?
Em 1967 o filme “O Incidente”(The Incident), dirigido por Larry Peerce, com Tony Musante (estreando), Martin Sheen, Beau Bridges e muitos outros nomes depois famosos apresentou um tema semelhante: assalto a um carro do “subway” de Nova York por dois marginais. Ali o enfoque maior era o comportamento dos passageiros. Sabia-se um pouco de alguns e comungava-se do que sofriam nas mãos dos bandidos. Era uma produção em preto e branco, que por aqui chegou não só aos cinemas comerciais como aos alternativos (do Cine Clube APCC). Neste “Seqüestro do Metrô 123” falta justamente maior enfoque sobre os passageiros do vagão seqüestrado. O que mais se destaca é um jovem que aciona o seu laptop e se comunica com a namorada. Em meio á “borrasca” ela pede-lhe que confesse o seu amor por ela. Isso na hora de perigo. Mesmo o comportamento dessa personagem é meio descolado da situação que ele enfrenta. Chega a ser um dos “eleitos” do seqüestrador para morrer. Também outras figuras surgem reticentes. O olhar de uma criança que acompanha a mãe parece a imagem mais condizente com a situação. Mas é só comparar com “O Incidente” para ver como este novo filme do diretor Tony Scott troca de opção: prefere a espetacularidade do caso aos detalhes mais micro, ou seja, vale mais a pirotécnica da caçada à dimensão do crime.
A edição conduz a narrativa ao clima de tensão proposto na base. A fórmula desse tipo de suspense ainda consegue prender o público. Mas esse efeito hipnótico só vem a ressaltar o poder de persuasão do cinema, um mestre do ilusionismo como dizia Georges Mèliés.
Cotação: Razoável (**)
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