Há pouco foi exibido em Belém o filme “Wesh Wesh, O Que Foi ?” (Wesh Wesh, Qu’est-ce qui Passe ?/França, 2001) de Rabah Ameur-Zaimêche. Por coincidência agora, na mesma sala (Cine Olympia) vai ser exibido “Povoado Número Um” (Bled Number One/França, 2006), do mesmo diretor, que interpreta o principal papel nos dois filmes, na mesma personagem. O francês Kamel, preso por tráfico em Paris e banido para a terra de seus ancestrais, a Argélia, onde vive durante cinco anos. O primeiro filme apresentava Kamel chegando à capital francesa, sendo recebido festivamente por sua família, mas logo envolto novamente no tráfego porque não conseguir emprego. Em “Povoado Número Um”, embora tenha sido um filme posterior, o argumento regride e trata de Kamel chegando a Argel. O objetivo é claramente um documentário etnográfico, focalizando pessoas e costumes do lugar. O roteiro logo abandona o personagem para se inserir em tipos e situações de um cotidiano onde emerge a cultura patriarcal disseminada, com as relações sociais entre os gêneros sendo mostradas de forma diferenciada e preconceituosa. A exemplo, numa matança de boi, ritual extremamente violento, as mulheres terão que levar sua parte do animal para não fazer refeições ao lado do homem (“é pecado”, diz uma pessoa). Um crime como o furto é punido radicalmente com a morte do réu. Filmado em locação com a câmera sempre manual (possivelmente uma digital), o teor documental salta em primeiríssimo plano. Falas, posturas e canções argelinas estão em foco. E é interessante ver diversificações entre regiões, com as mulheres deste espaço trajando apenas o véu na cabeça, longe da “burka” usada em países como o Afeganistão. Há um episódio familiar que mostra, contudo, a sujeição de uma filha que é punida pela mãe e irmão por ter abandonado o marido que a submete a maus tratos. O cinema de Rabah Ameur-Zaimêche foi saudado em festivais famosos como Cannes e Berlim. Ele foi considerado a revelação jovem destes primeiros anos do século XXI. Fiel a seu povo e sua cultura consegue captar o que conhece como herança posto que é residente em Paris e faz cinema nos estúdios franceses. O seu trabalho, no entanto, não é solitário no panorama cinematográfico da África do Norte. Mesmo longe dos grandes centros exibidores nós vimos em Belém filmes do tunisiano Abdel Kechiche: “A Esquiva”(L’Esquive/2003) e “O Segredo do Grão” (La Graine et le Mullet”/2007). Através da França estes filmes de povos distantes alcançam países como o Brasil graças ao respaldo dados pelas mostras internacionais de onde, geralmente, saem com prêmios.“Povoado Número Um” estará em cartaz no Cine Olympia a partir desta 3ª feira.
Cotação: *** (Bom)
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