No dia 1° de Novembro de 1967 foi criado o Cine Clube da Associação Paraense de Críticos Cinematográficos (APCC). O palco de atuação desse cineclube foi bastante amplo: sede social da AABB, auditório do Curso de Odontologia da UFPA, do Grêmio Literário Português e o Cine Guajará da Base Naval (Val de Cães). Isto sem contar um curto período na sede da Escola de Teatro da UFPa, incendiada em 1968, e algumas sessões na sede social do SESI.
As ações desse cine-clube se pautavam em exibições de filmes (película) em 16 mm, realizadas nos dois primeiros espaços referidos (AABB- na hoje Av. Governador José Malcher; Odontologia(na Praça Batista Campos). No Grêmio Português (Rua Manoel Barata) e no Cine Guajará, usou a bitola profissional (35mm).
Foram 19 anos de cinema. As suas atividades encerraram-se quando foi inaugurado o Cine Libero Luxardo (Centur) programado, na ocasião, por Pedro Veriano que no período anterior, ou seja, nos espaços de atuação do CC-APCC foi não só diretor-programador como, no caso dos filmes em 16 mm era o projecionista.
Exibir simultaneamente nos finais de semana era a “ginástica” cineclubina. Os filmes eram alugados das distribuidoras com sede no nordeste (Recife, Campina Grande) e também no sudeste (Rio de Janeiro e S. Paulo). Muitos filmes não chegaram nem chegariam às salas comerciais da cidade. A confiança das distribuidoras partia do pagamento muitas vezes antecipado das faturas, algumas feitas com base em borderôs (relatórios) do que se auferia na porta, cobrando-se ingresso a preço simbólico (aproximadamente de R$ 2,00 a R$5,00).
Alguns momentos marcaram essa programação polivalente. Pode-se mencionar a estréia, em Belém, de “Morangos Silvestres”, de Ingmar Bergman, na sede da AABB em uma noite de domingo. As cadeiras do salão não deram conta de tantos espectadores. As do bar serviram para minimizar a “enchente”. Outro momento, nesse local, foi a apresentação do filme “Paris Vu Par...”, de vários diretores, com a presença do embaixador da França que visitava Belém.
Foram programados cursos de cinema, com entrega de diplomas aos freqüentadores, entre os quais o saudoso cineclubista Francisco Paulo Mendes.
Muitos programas impressionavam pela boa acolhida. Certas sessões, no Cine Guajará, lembravam um “drive-in”, com as portas abertas e as pessoas vendo o filme em seus carros, no estacionamento lateral. Impressionava, sobretudo, como certos filmes considerados “difíceis”, ou, como se dizia então, “de arte”, eram bem recebidos pelo público, Uma produção suíça “Jonas que Fará 25 Anos no Ano 2000” ficou l5 dias em cartaz nesse cinema, com sessões diárias. Esse fato impulsionou a criação dos Cine 1 e 2, com a firma administrada por Alexandrino Moreira chamando-se de “Cinema de Arte do Pará Ltda”.
O que caracterizava a programação dos diversos espaços era uma busca pela oportunidade dos temas. Uma data comemorativa de um diretor, atriz ou ator exigia uma retrospectiva, um filme em homenagem, fosse aniversário, morte etc. Se um assunto dizia respeito a um problema social do momento, mesmo numa época de censura rigorosa (o chamado “anos de chumbo”), procurava-se um titulo que registrasse o tema nem que fosse tangencialmente (e um debate posterior à exibição evidenciava o fato).
Houve um momento muito especial. No Natal de 1977 faleceu Charles Chaplin. O cineclube havia alugado uma cópia de 35mm do documentário inédito comercialmente “O Genial Vagabundo”, um relato da vida desse comediante genial que inaugurou a primeira sessão do CC-APCC, em janeiro de 1978. Com o salão do Grêmio Literário Português lotado, no final, com a imagem do velho Chaplin caminhando por um bosque de sua casa com a sua esposa Oona, o público presente se levantou e aplaudiu de pé. Um momento de emoção que traduziu não só o amor que Chaplin devotou ao cinema, mas, o amor que as platéias devotaram e ainda devotam a ele, afinal o símbolo de uma arte.
Todos que viveram esses 19 anos sentem saudades posto que além do que se mostrou e se instruiu ficou o embrião de outros movimentos, inclusive de produção. Um episódio histórico.
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