Há uma hora
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
AVATAR
Os créditos de “Star Wars” mencionam “um planeta muito distante” como cenário das aventuras dos jedis & ETs vilões. “Avatar” (EUA, 2009) o novo filme de James Cameron (“Titanic”, “Segredo do Abismo”, “Alien 2”, “O Exterminador do Futuro”) passa-se em um planeta distante anos luz da Terra onde uma espécie peculiar de seres inteligentes vivem em harmonia com a natureza e cultuam uma fonte energética que parte de uma arvore. Neste preâmbulo já se encontram citações diversas na idéia do diretor, mais tarde um roteiro e muito mais tarde uma realização que pede efeitos especiais impensados anos atrás.
Em resumo, o argumento trata de um ex-combatente paralítico que substitui o irmão cientista na pesquisa de um minério importante para a sobrevivência da Terra encontrado num mundo chamado Pandora. Para conseguir isso ele precisa criar um avatar (uma representação para o seu corpo) para poder viver em uma atmosfera hostil e se infiltrar na sociedade dos Na’Vi, os habitantes do lugar. A cópia do ex-combatente dedica-se não só ao ambicioso plano, mas à defesa das criaturas simples de Pandora. E acaba se apaixonando por uma jovem guerreira.
O filme é principalmente um prodígio de efeitos especiais. Criado para ser visto em 3D, apresenta um outro mundo com uma grandeza de detalhes a suplantar até mesmo o que se viu até hoje em animação (é só comparar com a floresta de “Up”). Mas não é só isso. A temática implica em critica à política bélica norte-americana, aludindo às campanhas no Vietnam e agora no Afeganistão (para citar só algumas), à ambição dos poderosos, à ofensa à ecologia, ao tratamento dado aos nativos que ainda utilizam armas primitivas em seus combates (pode-se generalizar para os subdesenvolvidos), à opressão em nome da ciência, à materialização dos sonhos, à questão do “outro” ou a intolerância à diversidade, à revisão constante dos estereótipos de herói e vilão, ao papel da mulher, antes passiva nos filmes de aventura (as exceções correm por conta de heroínas de gibi como Nyoka), hoje guerreiras a lutar ombro a ombro com os seus parceiros homens, enfim, à uma série de conceitos que não se limitam a um determinado tempo e determinado espaço.
Também (o roteiro) é uma colcha de retalhos de filmes famosos. Há citação de “King Kong”, de “Star Wars”, de “Matrix”, de “O Senhor dos Anéis” e até mesmo de “Apocalipse Now”, numa seqüência em que, apesar da utilização de outra música, fica na memória do fã “Cavalgada das Valquirias”.
Nada dessas alusões representa falhas na obra de James Cameron, ausente de filmes de longa metragem desde “Titanic” (ainda a maior bilheteria da história do cinema), realizado há doze anos. Afinal, quem vive cinema pensa cinema e a prova está no que Quentin Tarantino idealizou com “Gloriosos Bastardos”, citando filmes & cineastas de diversas nacionalidades e épocas.
O “show” de Cameron, superlativo de blockbuster até pela qualidade artística, é longo, mas não aborrece. Pode-se discutir a metragem da seqüência de batalha final, cerca de 20 minutos das 2 horas e 40 do filme. Mas não dispersa a atenção e, apesar do enredo ser minúsculo diante da magnificência do projeto, não se perde o sentido romântico que o preside. Chega-se a ponto de um final que pode ser visto como uma licença poética: o homem que sonha (e gosta do que sonha) pode “viver” este sonho (mesmo que não abdique de sua qualidade humana).
O filme está recebendo a acolhida que o cineasta esperou. Pena que por aqui esteja sendo exibido em cópias “standard”, ou seja, em 2D. Mas chegará no inicio do ano em 3D. E, no caso, valerá a pena ver de novo.
Cotação: Bom (***)
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