sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

ENTRE CONCEPÇÕES E PERDAS







Entre as várias concepções sobre cinema a diferenciação entre filmes de arte e filmes comerciais tornou-se o centro determinante da distinção entre grupos de espectadores. Os que tendem ao primeiro grupo são vistos como experts, enquanto os do segundo são os que aceitam somente as produções “não cerebrais”, as digeríveis que o mercado lança. E daí em diante, outras subdivisões vão se tornando estigmas com rótulos que a maioria das vezes, produzem preconceitos e discriminações sobre os supostos “conhecedores” e os “não conhecedores” da arte cinematográfica.
Essa perspectiva divisionista tem levado a sérios desafios para as relações humanas. Na verdade, aqueles que se julgam no primeiro grupo supõem dominar o saber cinematográfico específico e podem estar acima dos que tem uma visão de um modo geral mais simples sobre cinema aceitando qualquer coisa que o mercado do filme lança. Essa tendência a reconhecer os bons filmes e os que não levam a lugar nenhum, a meu ver, pode estar nos dois grupos. O diferencial está no acúmulo de leituras possíveis de fazer sobre uma determinada obra, não somente embasadas no informativo (resenhas) de produção e referenciais históricos, mas na soma destas informações com as teorias do filme, as contribuições analíticas dos autores e estetas da imagem (que podem ser os diretores ou os estudiosos agrupados nas várias escolas de cinema). E, tal como os produtores do conhecimento científico, criaram as concepções visuais sobre o movimento de câmera, perspectivas de luz e sombra, enquadramento, montagem etc., ou seja, elementos da linguagem cinematográfica produzida à medida que os filmes foram sendo realizados em suas varias dimensões.
O divisionismo não deve criar distanciamento entre esses dois grupos de espectadores. Mesmo porque ninguém tem a verdade absoluta sobre as coisas e muito menos sobre filmes que refletem, a partir de suas tecnologias cada vez mais avançadas, as maneiras de os diretores/autores reproduzirem uma dada realidade, quer num enfoque critico, quer reproduzindo/narrando histórias a partir de experiências culturais, políticas e sociais acumuladas considerando-se também uma perspectiva de classe, raça e gênero.
A visão dicotômica entre os conceitos arte e comércio, que é dada para a produção cinematográfica, tem um plano que poucos percebem que é do cinema ser um produto e se constituir numa mercadoria, como bem definiu Adolfo Sanches Vásquez em “As Idéias Estéticas de Marx” (Paz e Terra, 1978). Esse autor evidencia as concepções da arte em geral a partir dessa corrente de pensamento, procurando aplicá-las como instrumental explicativo da arte contemporânea em seus múltiplos aspectos. Num dos capítulos desse livro Vásquez reflete sobre a mercadoria-cinema e aponta-a como a única arte eminentemente capitalista. Dessa forma, configurada como objeto de arte, não deixa de ser uma mercadoria (e nessa perspectiva evidenciam-se as características próprias, diferenciada de outras no processo produtivo). É na maneira de as escolas se direcionarem na construção narrativa que se estabelecem as diferenças. Assim, cinema é arte em todas as suas pré-visões de ser um produto comercializável.
O filme de James Cameron, “Avatar” (EUA, 2009) considerado um blockbuster, ou seja, um filme de grande produção (US$ 250 milhões) e de grande apelo de público e sucesso de bilheteria não é visto como “filme de arte”. Porém se aplicarmos um olhar não divisionista é possível verificar nele as formas de reprodutibilidade da arte ( no uso de uma linguagem do cinema). O tema revela as grandes preocupações mundiais (meio ambiente, domínio econômico e cientifico e banalidade da guerra), através de uma narrativa linear, tem apelo popular (romance), seguindo as demandas do mercado de seduzir o maior numero possível de espectadores. Usa tecnologia de efeitos especiais inovadora para o tipo de tema que o diretor quis usar.
Como se vê, os elementos narrativos usados por Cameron fazem parte do padrão aplicado aos filmes “de arte”, mas outras características é que determinam a sua inscrição e rotulagem de “filme comercial” ou de “mercado”;
Não se deve esquecer que há filmes populares de grande valor como manifestação artística como, por exemplo, "Noites de Cabiria", "Cantando na Chuva", e outros nessa linha.

Nenhum comentário:

Postar um comentário