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quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
SHERLOCK HOLMES
Enquadro-me na geração que leu boa parte dos livros de Sir Arthur Conan Doyle, onde se focaliza o detetive Sherlock Holmes. Essas histórias ganhavam o cinema através de filmes modestos, protagonizados por atores que detinham semelhança física com as figuras imaginadas a partir dos livros. Por este motivo há por onde surpreender com o filme “Sherlock Holmes” (/Ingl/EUA/2009) dirigido pelo inglês Guy Ritchie. A imagem do perspicaz investigador que se via no corpo esguio de Peter Cushing, ou, mais atrás no tempo, de Basil Rathbone, é agora um jovem atleta (Robert Downey Jr), mais uma vez provando sua prodigiosa versatilidade. E o inseparável amigo Dr. Watson, passou a ser Jude Law, outro ator bem diferente do homem de meia idade que satisfazia a imaginação dos leitores..
O novo Holmes continua sendo um prodígio em dedução, usando esse poder em momentos bem diversos dos que eram tratados nos romances de Conan Doyle. Sua imagem agora é de praticante de luta-livre, pensando nos golpes que deverá dar para levar o adversário ao nocaute. Tende também a escapar sorrateiramente das investidas inimigas à maneira dos heróis dos quadrinhos, hoje “habituées” dos blockbusters de Hollywood.
Mas não se deve pensar as novas características do herói em detrimento de um espetáculo com o objetivo de divertir. O novo Sherlock, assimilando a feição anglo-americana é muito bem humorado, usa bem o absurdo de suas aventuras no sentido cômico sendo auxiliado pelos efeitos especiais do cinema contemporâneo, explorando o que pede o público jovem, afinal quem paga mais ingresso nas salas exibidoras.
O filme de Guy Ritchie, ex-marido de Madonna, é, sobretudo, divertido. Usando a montagem como a principal arma narrativa consegue estimular as platéias em duas horas de projeção sem nenhum perigo de deslizar para o enfado que a mesmice sempre patrocina. Os cortes bruscos ajudam no suspense que seria percebido como ingênuo se o espectador conseguisse parar para pensar. Por isso, certamente, o filme está chamando as platéias de todas as idades para o cinema e conferir a quem vem o novo Holmes. Em termos de bilheteria só foi suplantado por “Avatar”, de James Cameron, um novo campeão de popularidade. Mas é de espantar o fato de um herói do século XIX ombrear com outros do século XXI, ou melhor, de outros séculos adiante, numa porfia cinematográfica onde a tecnologia usa democraticamente a ampulheta, ou seja, serve ao passado, como seja, a Inglaterra vitoriana, como ao futuro onde os heróis são habitantes de outro planeta e os vilões podem ser astronautas que possuem a faculdade de corporificar as figuras de seus sonhos.
Ritchie tem em sua filmografia filmes de ação como “Snatch”. Ganhou prêmios do cinema inglês também um “razzie” americano (para o que se considera o pior filme do ano,”Swept Away”) . Este “Sherlock Holmes” é a sua produção mais cara e o sucesso comercial já deu inicio a uma seqüência. Quem assistiu a outros trabalhos anteriores seus vê uma continuidade filmográfica. Nada de genial, mas o bastante para demonstrar domínio de linguagem. E o diretor afirma que nunca foi aluno de escola de cinema, tendo aprendido na prática o que hoje sabe fazer.
Robert Downey Jr. foi escolhido para viver Sherlock Holmes depois que Ritchie comprovou seu desempenho no papel de “Chaplin”. O ator provou, interpretando o criador de Carlitos que tem expertise para representar um inglês do tipo de Holmes. Não seria de outra forma uma visão do detetive imaginado por Conan Doyle. Como ele mesmo diria no que concerne a representação: “é elementar, meu caro Watson”.
Cotação: *** (Bom)
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