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quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010
ABRAÇOS PARTIDOS
Pedro Almodóvar é hoje o mais conhecido cineasta espanhol. Não se pode dizer que tenha sucedido a Luis Buñuel posto que a obra de cada um é bastante especifica (a começar com o fato de que Buñuel criou-se no movimento surrealista que explodiu na Europa dos anos 20/30). Além disso, Almodóvar insere nas suas obras uma característica bem latina que é o melodrama. Se isso não era percebido em seus primeiros trabalhos, muitas comédias que se aproveitavam da liberdade de expressão surgida no cinema depois da ditadura Franco, nos títulos mais novos encontra-se bastante o modo peculiar de abordar histórias que se dirigem primeiramente ao coração (depois à cabeça).
“Abraços Partidos”(Los Abrazos Rotos/Espanha, 2009) é um típico melo de características latinas. Trata de um roteirista que ficou cego e por isso deixou ao meio o trabalho que englobava a direção de um filme. A cegueira foi em conseqüência de um desastre em que perdeu a vida, por estar com ele em um momento de amor, a jovem que seria a atriz desse filme, Lena (Penélope Cruz).
Entre o drama que atingiu o casal, corre a trama de um magnata da indústria, Ernesto Martel (José Luis Gómez), apaixonado por Lena apesar de saber da diferença de idades e do fato de ela ser “garota de aluguel”. Esta paixão leva-o aos limites violentos, começando por jogar a jovem da escada de sua residência, obrigando-a a trabalhar de muletas, ora aceitando a idéia de que seria melhor que ela morresse ao invés de perdê-la para o cineasta Mateo Blanco que depois de ficar cego resolve chamar-se Harry Craine (Luís Homer). Entre essas figuras estão, em papéis destacados, o filho de Ernesto, afinal o idealizador do desastre (que se sabe provocado), a secretária deste e o filho dela, personagem que vai ter papel destacado no prosseguimento da história.
O enredo melodramático esconde uma observação profunda que parte de uma seqüência. É quando Mateo, ou Harry, pede para uma mulher que o descreva (ele não vê). A câmera é encarregada de dizer como são os seus olhos, o seu rosto por inteiro, enfim, as suas características físicas. Esta base serve para se adentrar nas características psicológicas que serão avaliadas na inclusão dos fatos que deram origem ao drama. Nesse ponto incluem-se algumas lembranças de filmes anteriores de Almodóvar, como o papel do aparentemente tímido enfermeiro revelado o estuprador da mulher em coma, ou a postura de fantasma exercida pela mãe da principal figura feminina de “Volver”.
É interessante observar também que Almodóvar não faz cinema hermético, não procura utilizar-se de meandros de linguagem que limitem o acompanhamento superficial da platéia. Tratando deste “Abraços Partidos” há quem veja um pouco de Hitchcock. Pode-se ver muito dos mestres norte-americanos do passado. E ainda há um pouco de compatriotas do cineasta, como Victor Erice de “O Espírito da Colméia”, ou mesmo de Carlos Saura de “Cria Cuervos”.
“Abrazos Rotos” é um filme que deve ser visto. Ainda bem que chegou por aqui, pois não esta na pretensão do exibidor seu lançamento entre nós, passando a fazer parte do ilustre grupo que nos alcança em DVD.
Cotação: **** (Muito Bom)
CANDIATOS A OSCAR
Como um prêmio da indústria para a indústria é quase certo que “Avatar” ganhe o Oscar de melhor filme este ano. A produção de James Cameron inovou na técnica, deu boa rentabilidade na bilheteria, tem levado uma platéia significativa para o cinema. Naturalmente o diretor premiado será outra vez (pois aconteceu com “Titanic”) Cameron. O ator Jeff Bridges está nas apostas, mas ainda não vi o seu aplaudido “Crazy Heart”. A atriz, por favor, que não seja a veterana Meryl Streep por “Julie & Julia”. Ela nunca esteve tão ruim. O roteiro de “Amor sem Escalas” merece (até pelo diálogo inteligente). E em se tratando de animação não há páreo para “Up”, um excelente filme da PIXAR.
Nas indicações, está ausente Nicolas Cage, por “Vicio Frenético”, uma pena . E como filme estrangeiro aposto em “Fita Branca”, outra obra-prima de Michael Haneke, o diretor de “Cachê”.
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