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terça-feira, 16 de fevereiro de 2010
CINEMA DE CARNAVAL
O colonizador português nos trouxe o carnaval, por volta de 1750, nessa época chamado de “entrudo” ou intróito, visto que a comemoração começava no início da Quaresma. Ou “carne vale” herdado de outras culturas européias. Mas poucas coisas se nacionalizaram tão bem. Hoje o Brasil é conhecido internacionalmente como “o país do carnaval... e do futebol”. Naturalmente que a festa sofreu muitas mudanças com o tempo. Hoje é principalmente um espetáculo de atração turística. A participação do folião avulso, daquele que saía nas ruas “de sujo”, procurando uma alegria bem particular, também agregada a blocos improvisados, isto ficou no passado em que a violência urbana era bem menor. Talvez eu exemplifique um quadro local, e me veja nele. Mas as mudanças no carnaval estão explicitas nos filmes realizados para lançamento na época. No caso, as “chanchadas”, como os críticos brasileiros dos anos 50 chamavam o que era produzido ou pela Atlântida cinematográfica de Severiano Ribeiro ou pela concorrente Herbert Richers. Um gênero que surgiu um pouco antes, no “Alô Alô” da Cinédia, empresa do veterano Adhemar Gonzaga, títulos que emergiram no alvorecer do cinema falado e, por utilizarem artistas do rádio, ganharam títulos expressivos dos modos de falar radiofônicos (“Alô Alô Carnaval”(1936), “Alô Alô Brasil”(1935).
Esta semana a ACCPA, entidade dos críticos locais, re-exibe um clássico da comédia carnavalesca: “Aviso aos Navegantes”, de 1950. A escolha recaiu no fato do 60°aniversário da produção. E por ser um dos exemplos mais expressivos do gênero.
A fórmula desse tipo de filme era muito simples: havia uma história em que figuravam um herói do tipo galã, uma heroína que deveria unir beleza à agilidade para lidar com situações perigosas, um vilão com a indispensável “cara de mau” e um ou mais cômicos. No caso de “Aviso aos Navegantes”, todos os tipos reproduziam o que haviam explorado um ano antes em outro filme, “Carnaval no Fogo”, o maior sucesso dos estúdios da Atlântida carioca, e do diretor Watson Macedo. Como herói, o ator Anselmo Duarte (falecido ano passado aos 89 anos), protagonizava o imediato de um navio que circulava entre Buenos Aires e Rio de Janeiro (isto na época do carnaval); como heroína, Eliana Macedo (sobrinha do diretor e que assinava somente Eliana), representava uma cantora de teatro de revistas; o vilão era José Lewgoy, apontado como um “espião” sem causa ou fato explicativo plausível; os comediantes de apoio compunham-se da dupla Oscarito e Grande Otelo que, no anterior “Carnaval no Fogo” arrancou aplausos fazendo uma paródia de “Romeu e Julieta”. No caso de “Aviso...”, Oscarito representava um clandestino no navio onde se passa a história e Otelo, o cozinheiro de bordo que aproveita a descoberta do clandestino para ajudar nos afazeres, ou a escravizá-lo na faxina.
Correrias, gracejos reproduzindo ditos em moda e um romance eram mediados por números musicais, cuja atuação era de artistas populares do rádio contratados para lançarem o que gravariam para o próximo carnaval. A idéia era de que os nomes mais famosos dos programas radiofônicos (e discos, na época só de 78 rpm) transmitiriam o que seria mais cantado pela população. Poucas vezes essa perspectiva não era atendida. Quem, por exemplo, pensaria que Emilinha Borba cantando “Tomara que Chova”, não seria um sucesso dos bailes e dos blocos de rua?
Também fazia parte da chanchada as intercessões com a mescla de música erudita. O pianista Bené Nunes dava inicio a uma adaptação, por exemplo, de um clássico de Tchaikovsky para transformá-lo em samba. Seria o meio de atrair um tipo de platéia. Aliás, em entrevista, o diretor de cinema Carlos Manga citou a influência do modelo norte-americano de filme-musical: “- Eles tinham “Cantando na Chuva” nos tínhamos “Tomara que Chova”. E o modelo era quase sempre os musicais de Metro, lançados no Brasil nas salas que a empresa possuía em duas cidade do sudeste (Rio e São Paulo).
Esses filmes espelhavam a ingenuidade de um tempo. E falavam a língua de um cinema popular, usando a moda e fazendo a sua moda. Muitas “gags” de Oscarito ficavam nas falas dos adolescentes de então. E a verdade é que esses filmes lotavam os cinemas. Aqui em Belém havia filas imensas quando lançados. Como o dono da Atlântida, nesse período, era Luis Severiano Ribeiro Jr. o lançamento tinha um potencial enorme, pagando o seu custo e dando lucro. O bastante para o gênero durar por mais de 20 anos, até a inocência sumir na forma e conteúdo.
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