quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

FRANQUIAS NO CINEMA

















“Premonição 4” é mais um exemplar das franquias usadas pelo cinema. A fórmula não é nova e se baseia na preferência do público. A cada dia o possível espectador/a defronta-se com pelo menos uma franquia nas telas de sua cidade. Hoje, por exemplo, encontram-se além de “Premonição 4”, a animação “Alvim e os Esquilos 2” e ainda “High School Musical-O Desafio”, este variando no fato de ter sido realizado em território nacional (é a versão musical da série que a Disney edita e lança nos mercados de cinema e vídeo). Outras franquias testam a persistência do gosto da platéia. Raras vezes uma delas ganha a dimensão de obra adulta, digna de aplausos. O caso de “Batman, o Cavaleiro das Trevas”. E se considerarmos a trilogia “O Poderoso Chefão” podemos eleger o número 2, embora, a rigor, seja uma extensão do primeiro filme.
O critico diante das franquias comerciais comuns é um estranho no ninho. O que dizer, por exemplo, deste novo “Premonição” onde a trama repousa num novo presságio do herói e numa nova revanche da morte? O interessante é que essas franquias muitas vezes se reciclam atropelando seus próprios enredos. A exemplo, “Hora do Pesadelo” e “Sexta Feira 13” em que o vilão pode até morrer, mas não demora a retornar. Roteiristas são contratados para criar uma “ressurreição” viável, capaz de driblar quem, obviamente, quer ser enganado. O mesmo se diz com “Jogos Mortais”. A rigor, a série já teria acabado posto que o assassino psicopata já saiu de cena. Mas há sempre o rastilho de um a herança. E chegam herdeiros do personagem, tão perversos quanto ele.
Quem assistiu a “Barton Fink, Delirios de Hollywood” (quem ainda não viu se prepare para vê-lo no dia 23, no Cine Clube Pedro Veriano) aprende que a maquina produtora de filmes similares é muito antiga. No roteiro dessa obra de 1991, dos irmãos Coen, um escritor premiado aceita um vultoso contrato com um estúdio de cinema, na década de 30, e vai para Hollywood disposto a “revolucionar” o meio. Ledo engano: lá chegando ganha um pequeno escritório, uma antiga máquina de escrever, e ordens de imaginar uma história para determinado ator. O chefe do estúdio quer que seja criado um filme para o intérprete, na época do chamado “star system” em que muita gente habituara-se a ir ao cinema para ver o protagonista. Não interessa que a pessoa indicada para escrever a trama seja um intelectual festejado (William Faulkner entrou nesse esquema). No filme dos Coen, o roteirista trabalha olhando para um quadro em que se vê uma praia. Para ele é a fuga. Pensa em sair dali, em ganhar uma liberdade que sufocou assinando um pacto que lhe pode gerar prejuízos e não lucro.
Esse mecanismo pouco mudou na industria cinematográfica moderna. Hoje, o processo de construção de filmes é ainda mais especifico, baseando-se em pesquisas feitas nos computadores. Lembro de um fato: antes, e em especial no tempo em que chefiei o escritório da Embrafilme na região (anos 70), os exibidores preenchiam “borderôs” dos filmes contratados e enviavam esses relatórios para a distribuidora. Eram modelos impressos que o dono do cinema relatava a situação do filme. Hoje cada ingresso tem um código de barras e na entrada da sala de exibição ele é contabilizado diretamente para o dono do filme e o escritório central do circuito exibidor. Quer dizer: hoje se sabe em Los Angeles quantas pessoas assistiram “Avatar” em Belém do Pará. A contabilidade é mais ágil e aparentemente mais segura (para os donos da mercadoria).
As franquias são, portanto, o exemplo cristalino da ditadura do público. Aqueles filmes que alguns ainda agora chamam “de arte”, podem até ser contratados por preço fixo. Para o distribuidor é mais negócio. Ele sabe que o produto não é atrativo, que a sua capacidade de renda fica restrita aos intelectuais, sendo melhor pegar o certo (preço fixo) do que o duvidoso (borderô, valendo a cobrança por um percentual de venda de ingresso).
Como se vê, cinema é indústria, é mercado, é um negócio feito para dar lucro. É claro que as salas exibidoras gastam muito. Mas os distribuidores estrangeiros já colocam o seu produto em uma “praça” como a nossa, com as despesas pagas. Nesse meio de vida, quem analisa um filme seja através de sua forma bem ou mal cuidada, seja de sua temática bem ou mal explorada, fica seguindo o “passo doble” da própria produção. É repetir o que já escreveu, é cotar por baixo o que já cotou, é bancar Diógenes com a lanterna atrás de uma novidade alvissareira.

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