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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010
UM OLHAR DO PARAÍSO
Alice Sebold, 47 anos, uma escritora de língua inglesa (é norte-americana de Winscosin) que conseguiu agradar a um público expressivo, especialmente composto de adolescentes. Não chegou ainda ao patamar da conterrânea Stephenie Meyers (da série iniciada com “Crepusculo”), mas para se ter uma idéia de sua popularidade, seus 3 livros já foram editados no Brasil: “Sorte - Um Caso de Estupro”(1999/292 pág.), “Uma Vida Interrompida - Memórias de um Anjo Assassinado”(2002/356 pág,) e “Quase Noite” (2007/294 pág.). Esta popularidade ganhou campo na forma como Peter Jackson, o diretor de “O Senhor dos Anéis”, conseguiu comprar os direitos para filmagem do segundo livro, depois de se encantar com a leitura do texto original. Quando se dispôs a adquirir o livro este já estava comprometido, mas, ao receber o aval de Steven Spielberg conseguiu fazê-lo através da empresa do conhecido cineasta, a DreamWorks.
O roteiro, intitulado “Um Olhar do Paraíso” (The Lovely Bones) deve ter mudado alguma coisa, mas, basicamente, trata do assassinato de uma garota de 14 anos, Susie Salomon, cometido por um vizinho, George Harvey. O espírito da assassinada fica em um mundo intermediário entre o céu e a terra, acompanhando o drama da família e as novas investidas criminosas do assassino. A menina que acompanha Susie, no outro lado da vida, diz-lhe que ela ainda está presa a uma lembrança material. E é possível vislumbrar isso pelas seqüências iniciais, do desejo de Susie de ser beijada pelo colega de escola, Ray(Reece Ritchie), o que não ocorreu. Nem mesmo foi firmada uma conquista amorosa com o jovem na época da história, aquela em que o namoro não chegava à intimidade de hoje. Esse objetivo seria mais veemente do que ajudar a resolver o crime que a vitimou inclusive a descoberta de seu corpo que ficou preso em um cofre e, no fim, jogado em um depósito de ferro velho para ser soterrado.
A narrativa é em primeira pessoa como se Susie estivesse escrevendo um livro. O modo como as suas palavras chegam aos leitores/espectadores serve-se da liberdade do cinema (e no caso também da obra literária, se a adaptação for obediente) é mais uma licença da obra de arte. Lembrem-se que em “Cidadão Kane” ninguém ouviu o moribundo dizer “rosebud” além do espectador no cinema. E em “O Incrível Homem que Encolheu” ninguém vai ler o que escreve Scott, o personagem que diminui infinitesimalmente, embora a sua voz, narrando os fatos à guisa de memórias escritas, esteja sempre presente. Contudo, há certo descompasso entre tempo & espaço & ação. Exemplo: a irmã de Susie, Lindsay, investiga a casa do assassino e quando acha um caderno onde ele anota todos os seus crimes (é um “serial killer”), não se chega a ver o alarde do fato, mesmo porque é tempo de reconciliação do pai com mãe, que se afastou de casa depois da crise emocional que a morte da filha acarretou. Sabe-se, apenas, que o criminoso só vai ser justiçado quando já idoso cai acidentalmente de um barranco. O tempo que passou e a descoberta do crime parecem não merecer grande atenção, assim como o destino do corpo de Susie, que afinal vai permanecer sepultado no lixeiro de sucatas.
A visão do “outro mundo” refletida no filme é motivo para exibição esfuziante de efeitos óticos, com linhas e cores moldadas digitalmente. Há uma arvore que se desnuda e torna a ganhar folhas (ou pássaros) como uma pontuação dramática. Mas não é endossada no relacionamento mais intimo da vida e da morte, ou seja, do que se passa com o espírito da garota. Vê-se que ela encontra todas as meninas mortas pelo mesmo serial killer, e se ela espera o beijo do namorado para ganhar o plano espiritual pergunta-se: o que as outras esperam?
O que o roteiro deixa passar, ( não posso afirmar se é isso no livro original pois não li), o filme ganha pontos nas interpretações e na direção de arte. Stanley Tucci, como George Harvey o assassino, já coleciona prêmios e está concorrendo ao Oscar de ator coadjuvante. A estreante Saorise Rovan também tem destaque. O tipo não é fácil de compor, até por mostrar-se reticente, mas ela deixa marcada uma presença.
Esperava-se mais de Peter Jackson, sabendo-se que é dele “Almas Gêmeas”, um bom filme sobre problemas pessoais de duas jovens, obra que lançou a atriz Kate Winslet. Por isso “Um Olhar do Paraíso” não preencha a expectativa que o cercava. Mas ainda assim é um programa acima da média.
Cotação: Bom (***)
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