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sábado, 17 de abril de 2010
CASO 39
Não é de hoje que o cinema procura endossar o terror contrastando com o que possa parecer mais angelical, geralmente seguindo um postulado religioso, bem a gosto do grande público, lembrando que a figura do diabo foi extraída de um anjo rebelde e, por isso mesmo, pode se vestir com roupagem afim. Vem a lembrança: “A Inocente Face do Terror”(The Other, 1972) de Robert Mulligan (de uma história e roteiro do ator Tom Tryon), como também “O Exorcista”(The Exorcist, 1973) de William Friedin segundo William Peter Blatty, e, recentemente, “A Órfã”(The Orphan, 2009), de Jaume Collet Serra de um roteiro de David Leslie Johnson e Alex Mace. Claro que há outros exemplos, todos representados por crianças que espelham candura, mas trazem consigo os supostos “espíritos maus”. Só no último caso citado é que se sabe, no fim, que não se trata de uma criança, trata-se de uma figura que toma o corpo de criança aproveitando-se da sua presença física para exalar maldade.
“Caso 39”(Case 39/EUA, 2009) trata de Lillith Sullivan (Jodelle Fernand), garota de 11 anos que mora com o pais, mas o seu nome alcança a defensoria pública como maltratada por estes. Uma assistente social, da equipe especializada da escola, Emily Jenkins (Renée Zellwegher) encarrega-se do caso e, na visita que faz à casa da família em questão percebe, realmente, que pai e mãe se portam de forma estranha e a garota parece oprimida por causa disso. Com o passar do tempo, e uma visita inesperada à mesma residência, Emily descobre que a menina ia sendo assassinada pelos genitores, colocada no forno. Daí em diante segue o processo que busca uma adoção da menor e a prisão dos pais. Como a jovem assistente social se oferece para tomar conta da menina, esta passa a ser sua hóspede e, gradativamente, revela uma postura diferente do que aparenta.
Poucas pessoas vão se perder no enredo recorrente e deixar de perceber a subseqüente abordagem das imagens que vão surgir na tela a partir da segunda parte da sessão. As personagens vão assumindo a perfeita estereotipia na condição enfocada, a ação transcorre num crescente de terror, e o final não difere do que sempre ocorre quando há envolvimento no gênero.
É possível creditar alguma substância no argumento de Ray Wright, mas o roteiro que ele mesmo elaborou para Christian Alvart dirigir subtraiu qualquer interpretação analítica, como o caso de uma criança incompreendida ou de uma educação que levasse a um comportamento violento por parte da criança em conseqüência dessa educação. Resta o terror corriqueiro. Este se alimenta de recursos de linguagem como o uso de lentes que “afunilam” décor para reforçar o medo, a iluminação com as cenas de chuva que sempre endossam o ambiente onde vai acontecer alguma coisa ruim, enfim, as armadilhas formais que perfazem alguns sustos no espectador. Que atualmente não está tão ingênuo a ponto de estremecer de medo pela linguagem adotada num cinema apelativo como a maioria das produções que se tem visto.
Salvam-se os atores, com René Zellwegger protagonizando um tipo muito diferente dos que já desempenhou em comédias como os dois filmes de uma personagem que ficou famosa - Bridget Jones. A pouco conhecida Kerry O”Maley compõe muito bem a angustiada mãe de Lilith e a própria Lilith (Jodelle Ferland), jogando bem as expressões de sarcasmo que escondem o “monstro” interior.
O diretor é o mesmo da ficção-cientifica “Pandorum”(EUA/Alemanha, 2009) , muito curiosa mas que não chegou aos nossos cinemas.
Finalmente, vale ressaltar uma seqüência que não é nova mas está muito bem construída em “Caso 39” : o psiquiatra interpretado por Bradley Cooper cai na inimizade da menina misteriosa após contar à este que o medo que sentiu na vida foi de abelhas que o perseguiram em criança. Ao chegar em casa o rapaz recebe um telefonema e e ao atender, ganha uma espécie de ordem da menina e não demora começa a expelir abelhas do corpo (até dos olhos). É um momento grotesco que funciona.
Cotação: Razoável (**)
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