segunda-feira, 5 de abril de 2010

O BOM, O MAU E O FEIO



Um filme uruguaio vencedor de prêmios internacionais jamais chegaria à Belém se não fosse o DVD: “Gigante” de Adrian Biniez. Em foco, um funcionário de supermercado, Jara (Horacio Camandule), obeso e tímido, que tem por obrigação monitorar através de câmeras de vídeo instaladas nas diversas dependências do prédio,a rotina de empregados/as da casa. Nesse oficio, ele conhece e se apaixona por Julia (Leonor Svarcas), jovem que vive modestamente e que procura namorado pela Internet. Esta paixão, que ele esconde por sua índole, leva o personagem a momentos de descontrole, chegando a ser despedido do emprego. Na mesma ocasião, Julia também é despedida. Com este quadro os dois se encontram numa praia, recanto que ela procura para aliviar momentos de estresse. Uma narrativa simples embora lenta, seguindo de certa forma o temperamento de Jara. Tanto ele, como intérprete e Biniez como diretor, conseguem um clima de introspecção e ao mesmo tempo de analise social. É o trabalho de estréia do cineasta. Digno de felicitações por isso.
Se “Gigante” foi um bom filme que vi semana passada, “Piratas do Rock” (The Boat that Rocket/EUA,2009) foi o reverso. Apesar da presença de Philip Seymour Hoffman, um dos melhores atores da atualidade (vencedor do Oscar por “Capote” e excelente em “Sinédoque Nova York”), o roteiro é de chanchada que aposta no interesse do público jovem e a direção do neozelandês Richard Curtis, diretor do muito bom “Simplesmente Amor”/Love Actuallit.2001), que segue uma anarquia visual ao procurar o caminho de Richard Lester nos filmes com os Beatles, mas sem a espontaneidade que estes revelavam.
E o “feio” (pq não dizer péssimo) foi “Maluca Paixão” (All About Steve/EUA, 2009), filme que deu a Sandra Bullock (merecidamente) o “Framboesa”, um troféu entregue anualmente aos piores da indústria cinematográfica. Também produtora do filme, a atriz realmente assusta no papel caricato de Mary, uma elaboradora de palavras cruzadas para um jornal modesto, solitária, conversa com um coelho e trabalha o tempo todo. Por isso, os pais resolvem arranjar-lhe um encontro com um rapaz, filho de amigos da família (todos judeus) cameraman de uma emissora de TV. A jovem pensa no desejo dos pais de quererem que ela case, que tenha filhos. E no primeiro encontro a sós com Steve (Brudley Coper) se entrega ao sexo, atitude que surpreende o rapaz. O filme só ganha interesse na parte final, quando Mary cai numa mina abandonada, a muitos metros de profundidade, e uma multidão espera pelo resgate que demora muito. Mesmo assim, o papel de Sandra é lastimável, deixando a imagem de uma “maluquinha” tagarela. A direção é de Phil Traill e o filme foi tão ruim de publico e critica nos EUA que a produtora, 20th Century Fox, lançou em países como o Brasil só em DVD.
Compensando o desempenho sofrível de Sandra Bullock revi em DVD uma das mais legitimas obras-primas de John Ford:”O Delator”(The Informer/EUA, 1935). Por seu trabalho, Victor McLaglen, um dos atores preferidos do cineasta, ganhou o Oscar. Ele interpreta o arruaceiro e beberrão Gypo, ex-integrante do IRA , o grupo revolucionário irlandês, que por falta de recursos, passando sérias necessidades, delata o amigo Frankie McPhillip (Wallace Ford) assassinado pela policia inglesa. Atormentado pela culpa, abusa da bebida e tenta enganar os comparsas de Frankie, embora não consiga fugir do remorso.
A fotografia de Joseph August consegue as imagens expressionistas dignas do melhor do cinema mudo alemão. O roteiro é de um colaborador de Ford (que adaptou “Vinhas da Ira”): Dudley Nichols. Vê-se resquícios da narrativa usada no cinema mudo como o final, com o Gypo, o delator, de braços abertos gritando a todos que a mãe de Frankie o perdoara explorando-se nessa cena a imagem de Cristo.
Um clássico autêntico.

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