Há uma hora
quinta-feira, 20 de maio de 2010
ROBIN HOOD
Robin Hood, moldado na mitologia inglesa, alcançou muitas gerações de brasileiros através do cinema. A primeira abordagem de suas aventuras se deu na fase silenciosa, precisamente em 1912, com direção de Etienne Arnaud. Mas tudo o que se fez até 1922, incluindo um filme de 1913 dirigido por Theodore Marston com William Russel, perdeu para o exemplar protagonizado por Douglas Fairbanks e dirigido por Allan Dwan, que ficaria muitos anos como o espetáculo definitivo sobre o arqueiro de Sherwood. Até surgir, em 1938, “Aventuras de Robin Hood”(Adventures of Robin Hood) de Michael Curtiz com Errol Flynn. Foi o primeiro filme colorido com o personagem e o roteiro ágil, seguindo a lenda sem alterar detalhes, entusiasmando todas as platéias. Daí para os dias de hoje muitos Robin Hoods surgiram nas telas (há cerca de 25 versões para cinema e TV), chegando até mesmo a exemplares brasileiros como os protagonizados por Renato Aragão (“Robin Hood, O Trapalhão da Floresta,1974) e por Xuxa (“O Mistério de Robin Hood”,1990).
O filme atual, “Robin Hood’(EUA/ Ingl..2010) dirigido por Ridley Scott com Russel Crowe, procurou criar um certo realismo em torno do personagem. Imprimiu uma biografia de identificação, ao mostrar quem era Robin de Longstride, órfão de pai desde os 6 anos, realizando pequenos trabalhos até se engajar no exército do rei Ricardo Coração de Leão e, com ele, participando de uma das Cruzadas. O filme trata o tipo como um episódio histórico, apresentando novos fatos, desde o lugar de uma invasão francesa na costa inglesa com resistência armada que Robin comanda ao lado do rei. Considera os soberanos ingleses no limite da maldade: Ricardo, na Terra Santa, havia morto dezenas de muçulmanos de forma cruel (o arqueiro Robin teria assistido ao massacre e por isso se indispôs contra o monarca); e João, o irmão que ficou no trono, procurando recuperar as finanças inglesas arrasadas na campanha do governo anterior, criou tremendo arrocho na economia popular, aumentando impostos e saqueando fazendas. Tudo isso teria levado o jovem guerreiro a uma posição independente, tornando-se um “fora da lei” e passando a habitar a floresta e lutar contra os ricos para dar aos pobres.
O roteiro de Brian Helgeland termina onde os outros filmes sobre Robin Hood começaram: quando o personagem se embrenha nas matas e passa a agir por conta própria ao lado de um grupo de amigos. Isto não quer dizer que Ridley Scott tenha preferido dissertar sobre o caráter do arqueiro acima do protótipo de herói. O heroísmo vem também de outros momentos. Como o que Robin atende, no campo de batalha, ao moribundo Sir Robert Loxley (Max Von Sidow) levando a espada que este guarda com carinho e lhe fora dada pelo pai, à aldeia onde nasceu. Encontra Lady Marion (Cate Blanchett), esposa de Sir Robert e o romance é esboçado. A jovem segue, então, o arqueiro participando ativamente na luta contra os franceses e continuando ao seu lado mesmo na desgraça.
A produção milionária, o cuidado que Ridley Scott imprime nessa produção, incluindo uma fotografia nebulosa, geram uma espécie de painel temporal. Mas nada sugere a lenda conhecida do galante bandoleiro que usa a sua habilidade no arco e flecha contra os exércitos reais. Aquela ingenuidade perde-se no realismo do filme. Até a fantasia do arqueiro é descolada de sua indumentária deixando de usar o “uniforme” que o identificava: uma calça verde colante e o chapéu com uma pena na lateral.
O realismo de Scott foi uma opção do diretor dentre as várias versões circulantes no Reino Unido sobre a figura carismática de Robin Hood. O fato de nada constar sobre essa história nos escritos ingleses, não quer dizer que o tipo não existiu. Isso hoje é possível tratar quando se pensa que muitas populações iletradas deixaram a sua história através da oralidade, nas mãos de outros, dos viajantes, dos cronistas. Por suposto, o personagem inglês viveu durante o século XIII e uma das primeiras referências a ele vem através do poema épico Piers Plowman, escrito por William Langand, em 1377. Quando foi compilada a Gesta (canto épico medieval) de Hood no ano de 1400, essas histórias já circulavam há alguns anos.
O diretor Scott abandonou a ingenuidade que marcou os demais filmes sobre Robin Hood e deu a ele uma tonalidade diferente, deixando os velhos amantes do tipo desconsolados. O filme atual tem 140 minutos.
Cotação: Bom (***)
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