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terça-feira, 15 de junho de 2010
DUAS SENHORAS
São muitos os filmes franceses dos últimos anos que tratam de imigrantes árabes. “Duas Senhoras”(Dans la Vie, França, 2007, 73 min.) é um deles. Dirigido e roteirizado pelo marroquino Philippe Faucon, trata de Esther (Ariane Jacquot), uma idosa judia impossibilitada de se locomover, percorrendo o apartamento numa cadeira de rodas, convivendo com o único filho, um médico, e precisando dos cuidados de duas enfermeiras, uma durante o dia, outra à noite. O enfoque se inicia quando Sélima (Sabrina Ben Abdallah) uma jovem palestina é contratada para o serviço de enfermagem noturno. Logo em seguida sabe-se que a enfermeira do dia pede demissão. Sélima acha que sua mãe, Halima (Zohra Mouffok), pode substituir. Os encargos domésticos desta e as regras do casamento impõem compromissos com o marido, um mulçumano rígido que não admite a transferência da esposa a uma casa onde, além da perspectiva do trabalho pago ainda se depara com a diversidade religiosa das famílias. As estratégias de Halima, entretanto, conseguem vitórias, conduzindo-a ao lar da enferma, procurando adequar-se às novas regras domésticas e à dieta alimentar de Esther. O novo trato por alguém que cuida carinhosamente e não na rispidez profissional aproxima as duas mulheres e torna mais prazerosa a vida da paciente. A ponto de esta exigir que o filho Elie (Philippe Faucon), necessitando ausentar-se da cidade, deixe-a na companhia da família palestina.
A temática aposta na coexistência pacifica e a própria Esther chega a lembrar com saudade o tempo em que judeus e muçulmanos viviam bem na faixa de Gaza. A narrativa aproxima o drama ficcional do documentário. Pode-se enquadrar o filme naquela estética do “cinema verité” propagado por Jean Rouch nos anos 1970. A câmera é sempre manual, os cortes são bruscos, o enquadramento é simples e as seqüências são curtas, limitando-se ao necessário. O desempenho de todo o elenco prima pela naturalidade deixando a impressão de que não se trata de atores profissionais e sim de pessoas que reproduzem suas experiências de vida.
O trabalho de Faucon procede dentro de objetivos importantes. Através da fala de um ministro islâmico sabe-se que não existe um empecilho religioso a ser detonado na hospedagem de uma judia na casa de uma palestina. Halima diz a ele que estaria infringindo a caridade deixando de cuidar de Esther, visto que “a religião não é um fator hereditário”.
Outro enfoque muito bem definido pelo diretor e roteirista é sobre as estratégias femininas para o alcance de alguns ganhos no cotidiano, sem conflitos. A exemplo, o modo de Halima conversar com o marido Ali ( Hocine Nini) demonstrando-lhe em que medida é importante o trabalho fora de casa e os recursos que vai auferir para realizar seu ideal de visitar Meca; depois, conseguindo que sua então amiga Esther seja hóspede da família ao negociar com o marido; e em seguida, procurando adequar os hábitos familiares aos da paciente. Esta, por sua vez, tende a mostrar ao filho as dificuldades em aceitar a paraplegia tratada por pessoas sem qualidades, e apontar como prazerosa sua convivência com a família mulçumana sem criar problemas para a viagem dele. Nessa linha de soluções, os dois eixos se cruzam - o das estratégias domésticas e da política.
A história se passa na França e não há um “set” elaborado além das casas por onde circulam as personagens. E os tipos estão muito bem colocados. Impressiona, sobremodo, o tipo de Ariane Jacquot, a obesa Esther que requer cuidados especiais e que traduz o desejo de ajuda de uma mulher de outro credo religioso, considerada, na circunstancia histórica, até como uma inimiga, que se desvela no modo como cuida de seus mínimos afazeres.
Um belo filme, pouco visto internacionalmente, por culpa de uma distribuição comercial modesta. A nós chegou graças à Embaixada da França e sua prestimosa cinemateca.
Cotação: *** (Muito Bom)
AGRADECIMENTO
Agradeço a todos/as os/as amigos/as que me felicitaram de alguma maneira pelo meu aniversário acontecido no final de semana. Quando se alcança um patamar na escada da vida, especialmente aliando o fator tempo à produtividade e aos diversos tipos de conquista, o conforto interior se une ao reconhecimento dessa escalada por parte de quem nos rodeia.Por isso é que não nos sentimos vulneráveis à passagem dos anos.
Que Deus abençoe a todos/as.
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