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terça-feira, 13 de julho de 2010
O ULTIMO REDUTO
Rabah Ameur-Zaiméche é o diretor de “O Último Reduto”(Le Dernier Maquis/França, Argélia, 2008) filme que está em exibição no Cine Olímpia. É o terceiro filme do diretor que escreve e dirige e de quem já foi exibido em Belém “Volta Para Casa” (Back Home, 2006) e “Wesh Wesh Que se Passa?”(Wesh, Wesh Quest-ce qui se passe ?, 2001). O tema traduz-se numa discussão sobre a relação entre trabalhadores e patrões evidenciando as crises do sistema capitalista e a conversão em revolta e violência.
O enredo capta, nos arredores de Paris, o ambiente de uma oficina reparadora de paletes (estrados de madeira para proteção de carga) e caminhões onde se acham empregados imigrantes muçulmanos. O dono do negócio estimula a religiosidade dos operários para mantê-los com um salário modesto, sem reclamos. Incita-os a que construam uma mesquita e elejam o seu líder espiritual. Mas, apesar do empenho dos trabalhadores e desavença entre eles pela forma de escolha do líder religioso, os negócios não vão bem e o empregador resolve fechar a oficina. Os operários que trabalham como torneiros mecânicos reclamam. Eles não fazem parte de nenhum sindicato e não possuem recursos para montar um especifico no local. Por outro lado, não aceitam remanejamento para o serviço de acomodação de paletes. Tentam uma greve bloqueando a entrada da oficina com um caminhão. Mas o chefe não aceita é seviciado pelos rebeldes, com os empregados de outro setor se posicionando ao lado dele, com a vitória cabendo ao mais forte.
Esse enfoque da luta entre o capital e o trabalho não é um tema estreante em cinema. Há exemplos ilustres como “Os Companheiros” de Mario Monicelli e “Rocco e Seus Irmãos” de Viconti. Em “O Ùltimo Reduto” é diferente, contudo. Inicia pelo esvaziamento de possível sectarismo. O patrão não é visto como uma pessoa má. Em duas ocasiões ele é apresentado de forma cavalheira. Uma é quando assina um documento dando como acidente de trabalho a auto-circuncisão de um operário que achava ser uma exigência para ser muçulmano e líder. Outra é quando leva de barco um castor, ou um rato gigante (não é bem definida a espécie do animal) do poço da firma, onde foi encontrado, para o matagal próximo. O ato de salvar o animal quando muitos queriam matá-lo no local onde se escondeu e mostrou-se bravio, demonstra um sentido humano ou uma tendência preservacionista. Por outro lado, os funcionários são vistos, preferencialmente, através do prisma religioso. Vivem a sua fé e os diálogos se detêm em torno disso. O roteiro enfatiza que o muçulmano entrega a vida a Alá pensando sempre na sua entrada no paraíso. Mas quando se instala a crise eles se mostram individualistas.
Para tratar um tema sempre interessante, mormente quando abraça a imigração, vendo um estrangeiro acomodar os seus hábitos e costumes numa terra distante, a técnica é quase documental, com os atores exibindo uma naturalidade que lhes dá a feição de figuras da história. Mas o diretor argelino não se acomoda na linguagem neo-realista nem no “cinema verité” dos anos 1970 (o de Jean Rouch & Edgar Morin, por exemplo). Sempre com a câmera estática, deixando a seqüência se exaurir sem cortá-la, trocando o ritmo narrativo pela contemplação (a lembrar o russo Andrei Tarkovski ou o grego Theo Angelopoulos), ele alonga a metragem e, com isso, desafia um público que está acostumado ao tipo de cinema dinâmico. É um linguajar muito peculiar, muito denso em todos os sentidos, exigindo atenção do espectador comum.
O diretor Rabah Ameur-Zaiméche está entre os jovens talentos de origem argelina. E é um colecionador de prêmios incluindo festivais importantes como os de Cannes e Berlim. Ele também desempenha um dos personagens de seus filmes. No atual, protagoniza Mao, o patrão. O nome é uma ironia a lembrar o líder chinês. E não são poucas as menções irônicas, as metáforas, as citações que o cineasta usa em seus trabalhos.
Acompanhar a sua obra nessas produções que a Embaixada da França, através de sua rica Cinemateca distribui para diversas nações, inclusive o Brasil, seria acumular recursos das escolas cinematográficas mundiais e que não fáceis de captar por aqui, pelo menos no circuito exibidor comercial.
Em tempo: depois das exibições de “O Ultimo Refugio”, que irão até domingo, dia18, o Cine Olympia vai estar quinze dias em manutenção, sem as exibições contumazes. Retorna em agosto, com todos os programas, ou seja, os filmes das embaixadas e as sessões organizadas pela ACCPA.
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