quinta-feira, 15 de julho de 2010

OS IMPERDOÁVEIS




Em 1992, o diretor Clint Eastwood quebrou um tabu: realizou um filme no gênero western e conseguiu que o mesmo recebesse quatro Oscar, incluindo-se os principais, ou seja, de melhor filme e melhor direção. Histórico feito haja vista que, grandes exemplares do passado como “No Tempo das Diligencias”(Stageacoach), “Matar ou Morrer”(High Noon), “Os Brutos Também Amam”(Shane), “Paixão dos Fortes”(My Darling Clementine) e “Rastros do Ódio”(The Searchers) não chegaram ao pódio do cinema norte-americano. Eastwood também inscreveu seu filme entre os 100 melhores de todos os tempos no entender do American Film Instititute. Trato de “Os Imperdoáveis” (Unforgiven/EUA, 1992) que no sábado será apresentado na Sessão Cult da ACCPA, no Cine Libero Luxardo.

O roteiro é de David Webb Peoples e a fotografia participante é de Jack N. Green. Em foco dois velhos pistoleiros (nos papeis, Clint e Morgan Freean), considerados aposentados, que assumem uma tarefa solicitada por um grupo de mulheres prostitutas de Wyoming, desejosas de vingar uma colega que sofrera violência ao ter seu rosto deformado por um valentão. Elas apelam para os pistoleiros porque o xerife da localidade (interpretado por Gene Hackman) é corrupto e brutal, não tomando qualquer medida policial para resolver o caso de agressão. Ao contrário, dando cobertura aos responsáveis pelo ato. Esta missão serve para sintetizar os elementos mais encontrados no gênero western. É uma forma de homenagem que Clint Eastwood como diretor faz ao tipo de cinema que fez a sua notória iniciação (ele começou a se destacar nos westerns spaghetti ).

Em “Os Imperdoáveis”, não é só a luta entre o “bandido” e “mocinho” que o público do cinema conhece desde que se entendem. Trata-se da síntese de uma luta universal dos mais fracos contra os mais fortes dialogando-se sobre quem é mais fraco e quem é mais forte no sentido moral. É o que se pode chamar de expressão da luta pelos direitos humanos.

Desta vez o cowboy está mais perto do que os europeus, especialmente os italianos, compuseram sem seus muitos filmes das décadas de 1960 e 1970. Ao invés das roupas leves dos heróis “imaculados” como os vividos por Tim Holt, Roy Rogers, Gene Autry, Charles Starret ou Alan “Rocky”Lane, eles alternam a indumentária com capas longas e usam carabinas além do revolver que antes era a arma ideal dos duelos. Também a direção de arte desprezava a arquitetura dos antigos “saloons” e a cinegrafia deixava o preto e branco ou as cores férricas que serviram para moldar a liberdade do “gunfighter” que veio de longe (como Shane) por um aspecto sombrio, carregado no vermelho, demonstrando a qualidade. Mas o principal é que a ação surge muito mais violenta. O roteiro, aliás, passou 20 anos correndo os estúdios de Hollywood sem conseguir que alguém se interessasse por ele. Tudo por causa da violência. Clint Eastwood leu e ficou fascinado. Aquilo era o western que sempre quis fazer. Os estereótipos do passado eram trocados pelos estereótipos que contracenaram com ele sob as ordens do italiano Sergio Leone. Talvez ainda mais realistas, com uma troca da plasticidade do enquadramento, uma das características do cineasta italiano, por uma postura mais próxima do John Ford de “My Darling Clementine”(Paixão dos Fortes). Mas em nenhum momento o ambiente é usado como enriquecedor do quadro (o caso de Ford com o Monumental Valley).

No inicio, vê-se o pistoleiro viúvo aposentado (tipo de Eastwood) criando porcos com o casal de filhos menores. A pequena fazenda está quase falida quando surge o ex-comparsa (Morgan Freeman) contando que há uma recompensa de mil dólares para quem vingar a maldade que fizeram com a jovem prostituta. Ele se anima. Na divisão é 500 dólares para cada um bastando para salvar o comércio de suínos. Daí se passa para a arquitetura do tipo encarnado por Gene Hackman sendo capital a cena em que ele mostra um revolver ao ajudante e deixa que este coloque a arma nas mãos de um preso que foi torturado. O cinismo do personagem demonstra quem é o xerife do lugar.

Afinal o vilão da história, a dividir a honra com Quick Mile (David Mucci), começando a ganhar o cetro quando ele negocia com o criminoso a compra de cavalos e o liberta pedindo apenas que pague multa.

Realmente “Imperdoáveis” é um titulo peculiar num gênero em que muitos tietes de cinema usaram como elemento de seu aprendizado nessa arte. É ainda hoje algo de novo. Vale a pena rever.

Um comentário:

  1. Luzia, um adendo: sua sinopse sobre o filme está errada, não? Naturalmente posso ser eu o engano, mas ao que me lembro o personagem de Eastwood recebe a proposta de "deixar a aposentadoria" para vingar a prostituta ferida das mãos de um jovem (e míope) pistoleiro e só depois sai à procura de Freeman, seu velho companheiro. Inclusive, o personagem de Freeman está casado com uma índia que se opõe a que o marido volte a empunhar a carabina. É inclusive "a vida por levar" que faz com que o personagem de Morgan queira o tempo todo abandonar a missão (e acaba fazendo-o, o que enche o personagem de Clint de culpa pelas consequências que se seguem)... Grande abraço, Luzia!

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