quarta-feira, 21 de julho de 2010

VAMPIROS EM ECLIPSE




Leio no jornal: “Onda de vampiros toma conta dos EUA”. Os/as jovens, principalmente, passaram a cultuar os seres imortais que se alimentam de sangue humano, tipos que deram margem ao clássico literário de Bram Stoker (Dracula). A onda seria causada por séries de televisão (como “True Blood”) e pelos livros de Stephanie Meyer transformados em filmes (a série “Crepúsculo”).

A grande pergunta que se faz é: por que a juventude da primeira década do século XXI passou a gostar desses entes esboçados há muitos anos, produto de uma cultura primordialmente anglo-saxã?

É possível que haja respostas a esse questionamento sobre os gostos dos adolescentes a esses tipos seculares. Como sou adepta da objetividade sobre a formação da cultura e suas nuances sociais fico a espera de uma pesquisa de opinião que me forneça esses dados para apoiar os disse-me disse do interesse dessa faixa etária. O que se vê, nessas histórias de vampiros e lobisomens que assumem posturas de rapazes (no caso dos vampiros também de moças), via de regra, estudantes de escolas secundárias, é o apelo sexual platônico. Será esse o vetor de aproximação do interesse pelas histórias?

Em “Eclipse”, o vampiro Edward (Robert Pattison) não só continua a assediar Bella (Kristen Stewart) como chega a esboçar uma atração pelo lobisomem Jacob (Taylor Lautner). Não é bem explícita, mas o/a espectador/a pode imaginar uma relação homoafetiva em processo. Quanto a Bella, continua desejando sexualmente a Edward, mas este afirma que não o faz antes do casamento. Note-se que o “rapaz” tem mais de cem anos, o que pode registrar esse conservadorismo. Por outro lado, a garota, que no filme conclui o curso colegial, já não se importa em transformar-se em vampiro. E ameaça “ficar” com Jacob – que a livra de um grupo de novos vampiros criados por uma colega. E mais: num momento, Edward pede a Bella que se afaste de Jacob. Arma-se, então, um quadro de romance à antiga, apostando na fidelidade da “mocinha” até que ela venha a assumir fisicamente o seu compromisso com o namorado (Edward) e, num livro (que se transformará em filme) posterior, vai engravidar.

Trocando as referências sociais dos tipos, a saga da Sra. Mayer evoca tese semelhante à de Romeu e Julieta. Trata-se de um amor contrariado. Não é uma oposição familiar, mas uma oposição cultural. Sem a capa do fantástico, Bella seria impulsionada a ser “ficante” (mesmo que depois case oficialmente) de Edward. E Jacob poderia se apresentar como um personagem saído de outra peça de Shakespeare, talvez de “Otelo”, (seria Iago?) ganhando campo entre o casal mais para confundir do que para dividir.

Por falta de tempo (sei que é importante conhecer esses novos romances) não li nenhum livro de Stephanie Meyer. Mas vi os filmes. E como cinema todos estão no mesmo nível. Há muitos planos próximos dos tipos principais, com as câmeras procurando realçar a imagem de Robert Pattison como um novo James Dean para os produtores de Hollywood (veja-se o ator no interessante filme “Lembranças’). O problema é que Kristen Stewart não consegue mudar de expressão. Como estudante jovem, filha de pessoas com recursos, está sempre triste. É de supor que aspire ser uma figura sobrenatural e, para saciar o seu gosto, tem que arriscar a vida. A personagem diz, no filme atual: “Eu te amo mais do que todos os músculos de Jacob juntos”. Uma resposta ao ciúme do namorado. Mesmo assim, entre um vampiro e um lobisomem a idéia é de que a garota não consegue dissipar a hesitação com um sorriso. Para Meyer, a roteirista Melissa Rosemberg e o diretor David Slade, o amor tem um significado de extemporaneidade que ultrapassa o lugar comum atual e atinge o clímax da espiritualidade nas ambivalências de uma faixa etária que está a procura de sublimação de seu afeto.

O terceiro filme da série “Crepúsculo” não é pior nem melhor do que os outros. Mas até por isso é adorado. As/os fãs lotam as salas exibidoras e bisam o programa tantas vezes quanto possam (gastar). Não será o critico, portanto, quem vai dar a última palavra se a produção é boa ou ruim. Fã é fã, cult é cult, abacaxi é fruta. Cinema é que outra coisa.

Um comentário:

  1. Estórias vampirescas, antes o tema perfeito para um conto de terror_ que durante muitos anos era motivo de noites mal-dormidas para qualquer criança_ e que, atualmente se encontram no passado.
    O que se observa nos dias de hoje, seja em filmes, livros, ou mesmo nos próprios quadrinhos, é a busca pelo novo, por estórias que chamem a atenção de um grande público. Posso não ser uma doutora no assunto, mas vejo como muitas dessas obras que surgem resultam de buscas à lendas ou fatos famosos do passado, alguns ligados á cultura do seu próprio país, outros ligados a uma cultura já globalizada.
    Então o que faz com que a nossa juventude se interesse por filmes como Eclipse? Se eu respondesse a essa questão diria que o fato da globalização ser algo tão proximo a nós acaba fazendo com que aos poucos adotemos a cultura de outro país como a nossa própria, não esquecendo também de que se tornou costume a quebra de antigos Tabus, como a de bruxas e fantasmas. Aqueles que há anos eram vistos como os malvados, os "anti-cristo", agora ganham novas personalidades, são humanizados, passam a viver romances e , com seus poderes, tornam-se os heróis das próximas estórias. Para finalizar, a escolha do elenco é a parte primordial, afinal a aparência é essencial na venda dos produtos...

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