quarta-feira, 18 de agosto de 2010

MEU MALVADO FAVORITO

















O superlativo do vilão rende um herói de coração aberto que se aposenta das maldades para se dedicar a três meninas órfãs cujos dotes são apropriados para que ele construa planos que pretende aplicar em determinado momento. Com essa idéia, Ken Daurio e Cinco Paul, roteiristas contratados pela empresa Ilumination, aliada aos estudios da Universal Pictures, subsidiam os diretores Pierre Coffin e Chris Renaud da animação “Meu Malvado Favorito” (Despicable Me, EUA, 2010, 95 min.), a mais próxima do que a PIXAR vem realizando, ou seja, a animação que encanta crianças e motiva os adultos.

No enredo, Gru, o grandalhão malvado concebe o maior roubo do século: o do nosso satélite natural. Para roubar a lua ele tem pela frente o filho de um banqueiro, Vector, inventor ardiloso que entre muitas peraltices substituiu as pirâmides do Egito por moldes de plástico. Sem o financiamento bancário, Gru pretende invadir a fortaleza onde mora Vector e se apossar da tecnologia que este criou para diminuir os objetos, pois seu foco é a lua. Na espionagem que faz à fortaleza de Vector, percebe a facilidade com que as três orfãs vendendoras de bombons conseguem sensibilizar o garoto. Assim, Gru vai ao orfanato da cidade e adota as meninas que havia expulsado de sua casa tempos antes. Elas seriam as “iscas” para chegar ao concorrente e transformar o seu sonho maluco em realidade.
Gru é apresentado através de suas pequenas maldades, logo após ter noticias do novo inventor que supõe superá-lo em invenções malsãs. Assim, ora ele apresenta um brinquedo feito de um balão para estourar no rosto de uma criança, ora bate com o seu carro-jato em pobres motoristas que passam. Curioso é que este vilão lembra por sua fisionomia o inspetor de restaurantes que foi visto em “Ratatouille”, da PIXAR, Anton Ego. O que difere é o corpo mais gordo, típico de desenhos tidos como “de vanguarda” (como os da UPA), produzidos não só por norte-americanos, nos idos de 1950/60.

O que os realizadores objetivaram foi, a meu ver, conseguido: muitas situações realmente criadas para o envolvimento com o humor, uma critica diplomática aos poderosos das finanças, uma abordagem cômica das aventuras do tipo James Bond, e uma trama sentimental irresistível posto que mexe com crianças (mesmo as mais ingênuas a desafiar qualquer figura explorada pela Disney).

O filme ainda ganha um bônus: a edição em 3D. Os efeitos são ótimos e o espectador ganha mais motivo de diversão nos primeiros planos elaborados para o suspense.
É louvável, também, o fato de a animação explorar uma nota saudável à garotada. Os bons sentimentos, como o amor ao próximo, ganham pontos acima de ambições mirabolantes. O gigante Gru acaba “se derretendo” com as suas filhas adotivas e é emblemático o momento em que ele dá um beijo de boa noite em cada uma delas, tarefa que antes tinha sido cobrada pela garota menor e ele havia dispensado com a pose de grandalhão insensível.

As cópias brasileiras, todas dubladas, levam ao inconveniente desse tipo de técnica que é a perda de avaliar performances elogiadas de atores norte-americanos como Steve Carrel (Gru) e a veterana Julie Andrews que dubla a voz da mãe de Gru. Os nossos dubladores estão, contudo, à altura da competência dos originais, como se vê no sotaque russo (ou de algum outro país do leste, certamente) exibido por Gru e bem copiado pelo dublador nacional (o comediante Leandro Hassum; Vector é assumido pela voz de Marcius Melhem). O que fica com o espectador mais exigente é a curiosidade de ouvir os originais de astros de Hollywood nesses papeis dos tipos hilários do filme.

“Meu Malvado Favorito” foi para mim uma surpresa. Ao sair da sessão domingo me deparei com netas/o e filha, na fila e, com prazer, recomendei-lhes o que havia visto. O filme é muito interessante. E não quer ser mais do que isso, mesmo com os “recados” que alertei. É o tipo do programa que o norte-americano chama de “all family”. Vitória de mais um estúdio especifico a provar que o império Disney não é mais exclusivo do gênero.

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