quinta-feira, 12 de agosto de 2010

O MUNDO IMAGINÁRIO DO DR.PARNASSUS




Integrante do grupo de comediantes ingleses Monty Phyton e como diretor de cinema, Terry Gilliam logo demonstrou inclinação pelo estilo fantástico, pelas imagens elaboradas de espaços fictícios. Dele são as obras bastante elogiadas como “Brazil”, “Os 12 Macacos”, “O Pescador de Ilusões” e “As Aventuras do Barão Muchausen”. Agora Gilliam chega com “O Mundo Imaginário do dr.Parnassus”(The Imaginarium of Dr Parnassus/EUA, 2009), ficção enfocando uma trupe comandada por um mágico (o Parnassus do titulo), que vaga pelas cidades (não importa de que país anglo-saxão), seduzindo espectadores com seus truques mirabolantes.

Parnassus(Christopher Plummer), beberrão inveterado, fez um pacto com o diabo há alguns anos. Segundo este pacto, ele teria a vida eterna, mas daria o seu filho ou filha ao demônio (Tom Waits) quando ele ou ela atingisse 16 anos. É esta a idade de Valentina (Lily Cole), a sua linda filha única. Naturalmente o item do contrato é contestado e Parnassus reluta em entregar a sua garota ao demo. Nesse ínterim a trupe abriga Tony (Heath Ledger), um enforcado que ao escapar da corda passa a sofrer de amnésia. O romance entre Tony e Valentina e as manhas do diabo são entrecortadas com os números de mágica apresentados e as aventuras em que se mete Tony.

O que mais se evidencia aos olhos do espectador ao assistir o filme é a fotografia de Nicola Porini e a direção de arte de Anastasia Masaro. É um deslumbramento a sucessão de imagens oníricas onde uma forma que privilegia o fantástico consegue até mesmo que Gilliam resolva um grande problema acontecido durante as filmagens. Explico: o filme estava em sua fase inicial quando faleceu Heath Ledger, o premiado ator que personificou o Coringa de “Batman, O Cavaleiro das Trevas”. Desta vez um diretor não seguiu a lição de um colega (Ridley Scott) que incluiu planos com cenas representadas pelo falecido Oliver Reed durante as filmagens em “Gladiador”. Faltava muito para que Ledger concluísse seu tempo de desempenho no filme e o melhor foi substituí-lo por dois outros intérpretes: Johnny Depp e Jude Law. O espectador não sente as mudanças nem tanto pelas fisionomias, mas pela posição surrealista em que se coloca o personagem, aqui e ali em momentos que pedem comportamentos dispares.

O problema do filme é que o roteiro (de Gilliam e Charles McKewon) é fragmentado e não por culpa dos tropeços de filmagem. Havia pouca trama e muita fantasia a explorar e essa situação deu ao cineasta uma preocupação preponderantemente pictórica. Pode-se dizer que “...Dr Parnassus” é, em síntese, uma das magias do principal intérprete. E essas magias tendem ao surreal, valem por si e não carecem de explicações.

Apesar da pretensão de deslumbramento, o filme aposta na estrutura fabulista e, nesse ponto, lembramo-nos dos recursos que o diretor aplicou para explorar a vida dos irmãos Grimm(“The Brothers Grimm/2005). O melhor, portanto, é absorver o trabalho de Gilliam como um dos contos dos irmãos alemães que deram ao mundo muitas histórias de fadas, ainda hoje contados para as crianças, como Branca de Neve e Cinderella. Nesse ponto, a visão do velho Parnassus procede em cinema como uma síntese da força imaginativa dos autores clássicos de contos de fadas. O filme caberia, portanto, numa seqüência do trabalho de quatro anos atrás. Pena é que as situações surjam embaralhadas e, com isso, o resultado afaste o público infantil. Mas quem conhece os trabalhos de Terry Gilliam para o cinema não vai se decepcionar. O filme é bem afinado com o seu estilo, até na fração de humor herdada do grupo Phyton. Um programa interessante e divertido.

Um comentário:

  1. Professora,
    parabéns pelo blog e pelos textos. Ótimos como sempre. seu blog é leitura obrigatória para quem gosta de cinema. Mas gostaria de lhe dar uma sugestão: coloque a opção de linkar os textos via Twitter.

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