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terça-feira, 28 de setembro de 2010
GAFANHOTO E PESSOAS COMUNS
O escritor Nathanael West era gerente de um hotel em Kennmore Hall (NY) dedicando-se, posteriormente, à literatura. Com o sucesso, passou a elaborar roteiros de cinema. Publicou quatro romances muito bem colocados pela crítica e vistos com temas originais, nos anos 1930: "Miss Lonelyhearts", "The Dream Life of Balso Snell", "A Cool Million" e “The Day of the Locust". Faleceu em um acidente automobilistico em dezembro de 1940.
Este último romance escrito em 1939, com 128 páginas, foi levado ao cinema com o título, no Brasil, de “O Dia do Gafanhoto” (The Day of the Locust/EUA, 1974), pelo diretor inglês John Schlesinger (1926-2003). O foco é a Hollywood dos anos 1930, ainda imersa na crise economica iniciada em 1929, detendo-se no mundo do glamour onde circulam astros e estrelas. Sonhos e esperanças são parte dos sentimentos dos jovens aspirantes a ator/atriz que pretendem o estrelado e supondo ser uma “parada ganha”. O fio condutor segue então o que comumente se chama “ordinary people”, ou seja, pessoas comuns que esperam alcançar esse sonho. No caso, capta a trajetória de uma “starlet” (Karen Black) personagem de pequenos papéis, que não disfarça a sua ambição por ganhar uma posição de destaque nesse novo mundo. Tod Hacket (William Atherton) o desenhista que também tenta a sorte, conhece Faye que não aceita ser cortejada por ele, por ter sua própria maneira de encarar o “alpinismo”: ser amada por um jovem ricaço e bonito. Para tanto ela aceita casar-se com um contador rico, Homer (Donald Sutherland), mas não descarta também as insinuações românticas do jovem desenhista. A odisséia desta personagem no ramo em que a ambição encontra guarida na recíproca dos estúdios pela perspectiva de crescimento do capital investido caminha para a tragédia na longa seqüência onde se vê um levante público diante de uma importante estréia de um filme em um grande cinema.
Marcando fortemente o processo de decadência de um sistema de produção cinematográfica, o filme levanta questões sobre o jogo mantido entre as pessoas subjugadas pelo poder e a ambição. Mas revela também que aquele mundo glamourizado, na subjacência, explora a prostituição, as brigas de galo, o alcoolismo, situações que nem sempre são reconhecidas ao ser projetado como um “mundo dos sonhos” que povoa os anseios das pessoas comuns. Pode-se comparar com a apoteose de uma opera com o toque de tragédia comum ao gênero. Neste ponto, residem as críticas favoráveis ou não. As “tintas” narrativas de John Schlesinger constroem um painel aterrorizante de uma face nada glamourosa da arte e espetáculo que precedeu a sua carreira. É provavelmente a visão menos agradável do “mundo de fantasias” que o cinema norte-americano procurava vender quando não havia concorrência como a televisão, por exemplo.
Interessante registrar que o termo “locust” embora signifique gafanhoto, também tem sido usado como referência a “pessoas comuns”, aqueles que são vistos como perdedores ou que não têm voz social. Assim é que a alusão ao título tem muito a ver na sequencia final com cenas impactantes denunciando um tipo de violência no cinema. Símbolos e metáforas fazem parte do processo de criação dessa sequencia.
O desempenho de Karen Black deu-lhe candidatura ao Globo de Ouro. E o ator veterano Burghess Meredith, que protagoniza o pai da personagem, figurando como um velho comediante e alcoolatra concorreu ao Oscar, ao Globo e ao Bafta (prêmio inglês). O figurino de Ann Roth ganhou este último prêmio.
Visto como um painel da ultima fase dos “anos dourados” da cinematografia, “O Dia do Gafanhoto” foi alvo de muita discussão por muito tempo. O diretor estava numa ótima fase e no ano seguinte faria outro sucesso: “Maratona da Morte”(Marathon Mann, EUA, 1976). Ele morreu em 2003 aos 83 anos.
O filme estará em cartaz, hoje, terça feira, às l8h, no Cine Clube Pedro Veriano (Casa da Linguagem/ Tv. Assis de Vasconcelos com Av. Nazaré). Faz parte do programa denominado Cinema Sobre Cinema, exibindo filmes que tratem da arte cinematografica em suas diversas faces, da realização à exibição.
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