quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

ENTERRADO VIVO





O diretor espanhol Rodrigo Cortés foi responsável tem cinco curtas metragens em sua filmografia e já foi premiado pelo National Board of Review. O roteiro do segundo filme de longa metragem “Enterrado Vivo”(Buried/Espanha,2010, 95 min.), em exibição em Belém, desafiou o sistema de produção cinematográfica no que concerne a um longa de objetivo comercial. Isto porque a ação se dá inteiramente dentro de um caixão a dois metros abaixo do solo onde se acha Paul Conroy (Rian Reynolds). Trata-se de um motorista norte-americano atacado com seus companheiros enquanto trabalhavam, sendo ele sepultado no campo de guerra, por iraquianos que desejam documentar o que se passa com ele para obter resgate do país invasor de seu país.


O texto de Chris Sparling não dá concessões a flashbacks ou qualquer outra imagem de fora do caixão de Conroy (no máximo há uma transmissão via celular da morte de uma refém). É todo tempo o homem angustiado pedindo que o salvem da situação desesperadora.


A idéia não é só lembrar o conto do escritor, poeta, crítico literário norte-americano Edgar Allan Poe que em 1850 escreveu “The Premature Burial” gerando o filme “Obsessão Macabra” /EUA, 1962 dirigido por Roger Corman. O enterrado de Cortés se acha com algumas peças vitais para a demanda objetiva dos seus perseguidores: ganha um isqueiro, um telefone celular, uma lanterna e um bilhete dos iraquianos informando-o de que está sofrendo um seqüestro e que ele deve filmar, com o celular, tudo o que está vivendo ali, para que as imagens sejam transmitidas aos seus patrícios e, com isso, estes resolvam pagar aos “terroristas”o resgate de ao menos um milhão de dólares.


O personagem luta pela preservação do oxigênio e da bateria de seu telefone. Liga para as autoridades de seu país e para seus empregadores e se defronta com uma gélida burocracia estatal e empresarial. Daí o filme caminhar para outro setor além do suspense gerado na agonia do motorista (que não é um militar, mas um civil em serviço). Passa pela critica à guerra iniciada na invasão do Iraque, caminha pelo pouco caso que se dá à vida humana, navega pela lentidão do processo institucional nas áreas de governo e num emprego pouco afeito à situação social de seus funcionários e mostra as prioridades de quem se vê perto da morte em confronto com as leis determinantes dos contratos de trabalho.


As filmagens no ambiente proposto foram difíceis e isto é de inicio percebido. Quase toda a narrativa é composta de closes. Grande esforço para o ator, idem para a câmera, um desafio de iluminação que se amplia na preferência pela lente anamorfica.


O filme impressiona. As telas pretas e o silêncio são pontuações inventivas como elementos de suspense, gerando o escape de uma integração absoluta ao comercialismo e mostrando uma narrativa pouco usual porque deixa de oferecer tipificações emblemáticas para aproximar o personagem do sentimento emotivo mais vulgar do público. Que está mais interessado em saber que dispositivos serão efetivamente revelados para a salvação da vítima. A obviedade da ação se torna então um limite à narrativa visto que tolhe o personagem de acesso a buscar uma saída daquela prisão radical. Ele tem apenas que se contentar com seus interlocutores externos - a família, o sequestrador, a empresa onde trabalha, a burocracia do governo norte-americano. Que constroem, pelo diálogo mantido, a disposição em funcionar como espectadores e buscadores do local onde a vítima se acha enterrada. Este elemento é que torna ligada a ação e o conhecimento gradual da situação em processo de término caso as condições objetivas que dão apoio ao motorista se mantenham até uma operação-resgate.


O filme tem seus fraquejos técnicos e a licença ao suspense de manter com energia quem está quase sem ar no fundo da terra parece ser falhas “mecânicas”, como o manejo do celular, notado por um crítico do filme. Mas não há concessão. As palavras finais de um soldado em vias de morrer sintetizam a critica que se faz ao conflito que se arrasta por muitos anos (e a temática amplia o cenário quando o fato de uma pessoa estar enterrada quer dizer esquecida). Mas é original e contundente, com uma edição prodigiosa do próprio diretor.


HOMENAGEM


Na reunião da crítica local realizada no último dia 21 para eleição dos melhores filmes do ano foi sentida a ausência do fundador da Associação de Críticos, Acyr Castro, que se desculpou por ter reduzido suas idas ao cinema durante o ano. Logo mais Acyr será homenageado pela Imprensa Oficial, onde atuou como diretor em um período de governo do Estado.

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