domingo, 5 de dezembro de 2010

O SOLITÁRIO



Sabe-se que os títulos dos filmes estrangeiros são traduzidos, no Brasil, com vistas na possibilidade de mercado e alguns cometem desatinos passando longe do fulcro do problema tratado. Este “Solitary Man”(EUA, 2009) ganha o nome de “O Solteirão”. E começa equivocado ao se saber que o principal personagem, Bem Kalmen (Michael Douglas) já fora casado. Ao surgir na tela já consumiu um divorcio, exibe um comportamento de mocinho conquistador sem se dar conta da idade (mais de 50 anos) e solicita ao único neto que não o chame de avô, em público: “- Chame de pai.”

Na trama, o personagem Kalmen foi um empresário do ramo de carros. Era a estrela de uma concessionária até que começou a engendrar negócios escusos para aumentar seu rendimento. Isto o levou ao desemprego. Sem dinheiro e sem o charme juvenil é uma caricatura de mocinho que chega a bater e apanhar de pessoas jovens de sua convivência.O roteiro de Brian Koppelman, também diretor associado a David Leven, não se limita a biografia de um Don Juan em crepúsculo. Analisa essa resistência do homem maduro em enfrentar o tempo e se posicionar como poderia se trabalhasse honestamente. O “troco” dessa resistência é a solidão. E o que o filme quer é justamente mostrar um solitário, no caso um “looser”(perdedor).

Já se disse que os bons atores perseguem os bons papéis. Michael Douglas já foi produtor, já foi mocinho de filmes de aventuras, interpretou dramas eróticos onde reproduzia a imagem de um mulherengo alicerçado pela herança paterna (Kirk Douglas, o pai). Presentemente o ator tem investido tipos meio cafagestes, mais vilões do que heróis, e nos últimos dois anos foi este solitário que se vê agora nos cinemas brasileiros. Mais recentemente protagonizou Gekko, em “Wall Street”, o corretor da bolsa de valores que por falcatruas vai preso e ao ser libertado prossegue engendrando artimanhas lucrativas, chegando a se incompatibilizar com a única filha de quem não se molesta a subtrair uma parte da herança familiar a que ela tem direito.

O filme de Koppelman apresenta muito bons momentos. Não se realiza ao todo porque há sérias falhas de ritmo, certas repetições e pintura desnecessária de tipos que são explorados sem que haja melhor aprofundamneto em poucos planos. Um dos momentos excelentes é o fecho, quando se vê em plano médio o solitário no banco de praça onde dizia ter conhecido a esposa, incapaz de manter um novo dialogo com ela, visto no meio da tela como uma figura perdida. É a síntese do tema (e titulo). E a coroação do trabalho de Michael Douglas, aqui em grande forma (ultimamente enfrenta uma batalha contra o câncer).

O cinema norte-americano tem jogado no circuito alguns temas interessantes em filmes não muito bem construidos. Assim mesmo, tem deixado a oportunidade de estabelecer parâmetros sobre essas figuras sociais e a circulação delas em meio a temas como a esperteza, a vilania e o esforço na recuperação da confiança. Para um olhar apressado a situação de “O Solteirão” parece ser o de recuperar um tempo de juventude e manter-se “dando aulas estratégicas” na conquista das mulheres, preferencialmente jovens. Na verdade, o personagem de Michael Douglas é de um perdedor que aspira ser amado, mas não inspira mais sentimento em ninguém. Pode-se dizer que é uma tragicomédia e que não se sabe como vai terminar, pois, na cena final, enquanto sua ex-mulher espera por ele no carro como ultimo apelo para a sua recuperação, ele acompanha, com os olhos ávidos, uma bela jovem que passa à sua frente. E o filme termina. Vai do/a espectador/a delinear um fim sobre essa figura. Um tema interessante.


REGISTRO


O cinema perdeu três figurões: Mario Monicelli, Irving Kershner e Leslie Nielsen. O primeiro, um dos maiores diretores italianos que deixa a herança de comédias críticas e, em minha opinião, um excelente filme político: “Os Companheiros” (1963). Trato dele depois. O segundo, não foi apenas o diretor de “Star Wars, o Império Contra-Ataca”, o melhor da série produzida por George Lucas. Foi também o responsável por obras densas como “Sublime Loucura”( Fine Madness/1966) e “O Amor É Tudo”(Loving/1970). O terceiro, comediante de “Corra que a Policia Vem Aí” e de muitas outras chanchadas. Essas figuras marcaram momentos de muitos espectadores.


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