Quem foi criança conhece “Rapunzel”, uma das histórias do livro “Contos Para a Infância e Para o Lar” dos irmãos Grimm. Trata de um casal que desejava muito ter filhos, vivia ao lado de um jardim murado pertencente a uma bruxa. Ao se realizar o sonho, a esposa, no final da gravidez, viu uma arvore com suculentos frutos no jardim, e desejou obsessivamente comer um desses frutos. O marido invadiu os domínios da bruxa, contudo, ao voltar para casa, foi flagrado e acusado de furto. O homem implorou misericórdia, mas a mulher só o liberou com a condição de que a criança esperada lhe seria entregue ao nascer. Desesperado, o homem concordou; uma menina nasceu, e foi entregue à bruxa, que a chamou de Rapunzel, o nome da planta que estava sendo roubada. Quando a criança alcançou doze anos foi trancafiada pela mãe de criação numa torre altissima, com apenas um quarto no topo. De suas idas e vindas ao jardim e vizinhanças, subia na torre pelas longas tranças de Rapunzel, e em seguida colocava o cabelo num gancho de modo que pudesse subir por ele quando quizesse. Certo dia, um príncipe cavalgava no bosque próximo e ouviu Rapunzel cantando no alto da torre. Extasiado pela voz, foi a procura da menina e acabou escalando o muro até a prisão da donzela. O resto da história não é difícil de adivinhar: Rapunzel volta ao convívio dos pais pelas mãos do príncipe e a bruxa é castigada.
Esta referência à história se deve a expor a menos conhecida das crianças brasileiras, dos contos dos Grimm. “Enrolados”(Tangled/EUA,2010), o novo filme de animação dos estúdios Disney vai à fonte dos escritores alemães mais uma vez (adaptou muitas outras, como “Branca de Neve e os 7 Anões”) e muda o argumento para adapta-lo melhor à nova faixa de público. É assim que o namorado de Rapunzel deixa de ser príncipe e passa a ser um ladrão. A mocinha ganha o titulo de princesa e a sua prisão na torre não é devido a um fruto roubado pelo pai e sim à uma flor de poderes mágicos, encontrada na floresta e que dá á bruxa o poder de permanecer sempre jovem. A princesinha usa os longos cabelos não só para fazer a bruxa subir ao seu aposento, mas este tem poderes mágicos de curar feridas. O namorado que a principio descobre a princesa por seu proprio modo de escalar alturas, no fim das contas usa os cabelos da amada para se aproximar dela e esconder-se de seus inimigos, ele que é um aventureiro simpático, mais para Robin Hood do que para ladrão comum.
Como nas outras adaptações para desenho animado, personagens extras surgem para dar um toque de humor à narrativa. No caso atual é um cavalo chamado Maximus, de inicio inimigo de Flynn, o ladrão(e o nome lembra o galã de filmes de capa e espada Errol Flynn), mas acabando por se tornar um excelente ajudante.
Em termos técnicos, usando computadores e 3D, a animação é primorosa. Também a trilha sonora volta a candidatar a Disney no setor. Como em “Megamente”, o vilão, no caso o ladrão, não representa um lado mau. A bruxa assume todos os qualificativos de perseguidora da bondosa e bela heroína. E também não se vê uma mocinha do tipo que dorme para ser despertada por um beijo do amado. Rapunzel é de briga, e a cena de curar uma ferida do namorado com uma lagrima é a correspondência do que ela faz, no conto original, com a cegueira do rapaz, assim encantado pela bruxa.
O filme deve agradar a um publico especifico. Ontem agradaria a todos. Hoje, a garotada de videogame, por suposto, deve rejeitar. Mesmo assim é saudável a volta do estúdio aos contos de fadas. Sonhar é preciso e voltar à infância com a arquitetura atual tem seu valor. Remete aos “papos” sobre os encantos da infância do “antigamente” que tirava da imaginação o que desconhecia e o que hoje reduz essa magia pelo explendor da técnica. Daí, o filme não deixa de ter outras coisas para envolver. A memória sobre a infância dos que já têm setenta anos ou mais, (alguns viventes do interior do estado) revela um tempo em que os pais se empenhavam em comprar os livretos da Edições Melhoramentos e, à noite (sem tevê ou, mesmo, luz elétrica) sentavam-se rodeados pelos filhos que se deleitavam com a narrativa. Hoje, não só isso, mas a
entonação da voz do meu pai é uma saudosa lembrança.
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