O veterano ator norte americano já falecido, John Wayne, ganhou o seu único Oscar (fora candidato por “Iwo Jima, O Portal de Gloria” em 1949) protagonizando um delegado caolho na primeira versão de “Bravura Indômita”(True Grit/EUA,1969), dirigido por Henry Hathaway, extraido do livro de Charles Portis, escrito um ano antes das filmagens.
Hoje, Jeff Bridges é candidato pelo mesmo papel na nova versão da história e com o mesmo título, escrita para o cinema e dirigida pelos irmãos Joel e Ethan Coen. Comparar os dois filmes e as duas interpretações é fatal. Mas se a primeira seguia mais de perto o modelo antigo do western, privilegiando a postura do caubói destemido sem ligar para os estereótipos em volta, a segunda usa a mitologia criada pelo gênero como uma espécie de homenagem, até mesmo pela concepção nostálgica alicerçada pela fotografia (também candidata ao Oscar) que usa contraluz, névoa, mudança de estação (a chegada do inverno) e fusões como se via nos trabalhos do diretor George Stevens (“Shane” e “Giant”). O novo “Bravura Indômita” (True Grit/EUA, 2010) chega à poesia com um final que leva uma das personagens de volta ao cenário de sua aventura de anos distante, sendo vista em grande plano nebuloso, caminhando sem um braço após saber que os companheiros do passado não estão mais presentes.
Creio que os irmãos Coen, nesta investida em um gênero apagado depois da morte de John Wayne, tenha sido realmente de uma homenagem. Há exatos 31 anos o velho ator de muitos filmes de faroeste perdeu a batalha contra o câncer e há 41 que o livro original foi escrito e se tornou rapidamente best-seller. Por outro lado, os Coen ganharam o Oscar de 2007 com um filme que apresentava elementos do gênero western (na geografia e na constituição dos tipos): “Onde os Fracos Não Tem Vez”(No Country for Old Men). Motivos a mais para arriscar nos heróis e vilões que o cinema imortalizou desde que se entendeu como espetáculo popular (leia-se lucrativo).
Quem, como eu, cresceu assistindo aos filmes de caubói, percebe as incoerências, como o “mocinho” não perder briga, ter uma boa mira quando usa a pistola, não manchar a roupa nem mesmo deixá-la molhada por muito tempo após sair de um mergulho, ou mesmo deixar cair o chapéu quando briga. O que tentou mudar esse figurino foi o “westen spaghetti”, versão européia, mais intensa na Itália (daí o nome) que deu continuidade à mitologia norte-americana, mas apresentando heróis de capas largas, barbados, sujos, e, principalmente, violentos. Foi o tempo dos Ringo, Django etc, que tentavam dissipar a ingenuidade dos Hopalong Cassidy, Rocky Lane ou Roy Rogers. Pois os Coen preferiram ressuscitar os velhos modelos. Há alguma inserção mais violenta, como as mortes dos “bandidos” e a postura do mocinho (antes era difícil um herói matar um capanga de vilão logo num primeiro confronto). Mas não se fere o gênero na sua essência. O delegado Rooster Cogburn, interpretado por Jeff Bridges, resmunga como o modelo antigo e ajuda a mocinha (no caso uma adolescente) Mattie Ross (Hailee Steinfeld, atriz da idade da personagem, 14 anos,). E o “amigo do mocinho”, nem tanto estereotipado, LeBouef (Matt Dillon) também apresenta um comportamento aparentemente instável mas é o que dá força ao suspense pretendido pelo roteiro (como bom amigo é o que chega na hora de resolver as pendencias finais da história).
A narrativa dos Coen também não procura fugir do esquema original de western. Linear, aproveita o que pode dos elementos de linguagem, seja com brilhantes enquadramentos, mostrando o essencial no plano (até os grandes planos, como John Ford preferia, são colocados de forma a que se veja um ponto de interesse além da paisagem), seja na trilha sonora que usa um instrumental do folclore norte-americano sem que isso passe a um plano além do descritivo.
A trama pode ser contada em poucas linhas: uma adolescente pede a um delegado alcoólatra que lhe ajude a achar o assassino de seu pai, fugido para a região indígena. Ela acompanha o personagem expondo-se aos previsíveis perigos. E os tipos são convincentes. Além de Bridges e Dammon as máscaras de Josh Brolin (Chaney) e Barry Pepper (Lucky Ned Pepper) impressionam. Com uma vantagem: a violência não é mostrada de forma aterrorizante como nos “spaghetti” (mesmo os de Sergio Leone, o mestre do subgênero). Há certo humor no meio do caminho. Muito para fazer do filme um dos bons programas do ano, digno de estar competindo a prêmios (10 ao todo) no final do mês. Vejam.
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