Nada que possa ser dito sobre o filósofo paraense Bendito José Viana Nunes em torno de suas obras, de seu conhecimento, de seu valor cultural subtraem sua imensurável simplicidade e sabedoria mostrando respeito pelo saber de outras pessoas.
Neste momento de seu falecimento quero registrar a sua presença efetiva nas atividades que Pedro Veriano e eu iniciávamos para criar e manter o então cine-clube da APCC com uma programação eficiente e diferente do que era exibido no circuito comercial. Junto com sua Maria Sylvia conseguiram a aproximação com a UFPA através do então Reitor José da Silveira Neto e não só foi criado o Centro de Estudos Cinematográficos, como este órgão associou-se ao CC-APCC nas sessões no Auditório do Teatro Martins Penna.
Mesmo sem uma sequencia de encontros presenciais, daí porque foi suspresa saber de sua morte, como filiados a uma rotina construída pelo bem do cinema alternativo paraense foi que mantivemos uma grande amizade.
Em dois momentos tivemos a certeza de seu respeito pelo que faziamos. Num, quando certo jornalista criticou a crítica do Pará, no caso, era só o Pedro Veriano em “A Província do Pará”. Sabendo que PV iria publicar uma resposta, Bené telefonou e aconselhou-o: “Não responda, é isso o que ele quer”. Fui à Província recolher o texto que já estava nas mãos do Wilson Corrêa e já diagramada.
Em outro momento, quando dois professores do NAEA não queriam receber um texto meu no qual eu procurava relacionar a linguagem do cinema às correntes teóricas positivista, estruturalista e dialética, então submeti à sua leitura, porque fiquei insegura. Ao ler o texto ele me aconselhou a manter meu trabalho e questionar a posição dos tais professores. Recebi a nota menor, mas mantive o trabalho acadêmico. Essa era a pessoa em quem eu confiava que me dizia não entender a postura da geração atual de universitários (quando dava aulas na graduação do IFCH/UFPA) que demonstrava não gostar de ler. Criticou também as políticas das agências acadêmicas que só priorizavam os professores com pós-graduação.
A alta competência do Bené deu-lhe uma pós-graduação maior ainda reconhecida mundialmente: a da sua experiência na criação de obras importantissimas da literatura, da filosofia, mostrando saber muito maior do que qualquer doutor oficialmente confirmado por essas agências.
Adeus Bené! Vá em paz!
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