De todos os esportes que geraram filmes, o boxe me parece o mais feliz. Somam-se obras meritórias como “Punhos de Campeão” (The Set-Up/1949), ”O Invencível”(The Champion/1949), ”Marcado Pela Sarjeta”(Somebody Up There Likes Me/1956), ”Réquiem Por um Lutador”(Requiem for a Heavyweight/1962), “O Touro Indomável”(Raging Bull/1980) e “Menina de Ouro”(Million Dolar Baby/2004). Isto sem falar em luta-livre como o caso do recente “O Lutador” (The Wrestler/2008). Agora é a vez de “O Vencedor”(The Fighter/2010) entrar nesse clube. O filme assinado por David O. Russel entra este ano no páreo do Oscar concorrendo em 7 categorias.
O roteiro de Scott Silver, Paul Tamasy e Eric Johnson baseia-se na vida do boxeador Micky Ward (no filme interpretado por Mark Wahlberg), treinado pelo irmão, Dicky Ecklund (Christian Bale), um ex- lutador de grande potencial que não soube aproveitar o talento metendo-se com drogas, capaz de ganhar lutas consideradas difíceis (como a que o incluiu entre os mitos de sua cidade) e chegar ao campeonato numa disputa acirrada.
Como nos outros exemplares do gênero, “O Vencedor” encaminha-se para uma luta apoteótica. Até chegar a isso, o trabalho do diretor David O. Russel é conseguir retratar o relacionamento entre familiares e todo o drama dos irmãos que se dedicaram ao boxe, especialmente Dicky, brilhantemente interpretado por Christian Bale (muito longe do Jamie Graham que ele encarnou quando tinha apenas 13 anos em “O Império do Sol”- Empire of the Sun/1987, de Steven Speilberg). O tipo físico apresenta-o emagrecido, tentando dissipar seus problemas com sorrisos forçados, visto muitas vezes em close. A insistência em focalizá-lo leva a se pensar que é o principal interprete e não Mark Wahlberg.
O relacionamento dos rapazes com os familiares, o papel da mãe principamente, é o enquadramento necessário para a humanização dos tipos. Alice (Melissa) protege Micky, procura esquecer Dicky e alimenta a vaidade de chegar a ser mãe de um campeão. Mas quem alija Dicky como treinador do irmão (“porque falta muito ao trabalho”) é o pai, George (Jack McGee), ele próprio treinador e que acaba aceitando a opinião do outro filho quando o estilo de luta de Micky, atacando o adversário só depois de vários rounds, precisa do impulso do irmão, que numa seqüência, visto na cadeia pelo uso de drogas, mostra-o incentivando o irmão a aceitar seu aconselhamento por uma mudança no plano de luta do então treinador. Dicky acompanha pelo telefone a luta do irmão e se sente desesperado ao saber das etapas perdidas pelo “garoto”que ele ajudou a ser um bom “boxeur”. No último momento este se revela incondicional ao conselho do irmão e no ataque ao adversário vence a luta.
Basicamente o roteiro não traz novidades. Quem conhece os acontecimentos que nortearam a carreira de Micky Ward não vê muita diferença do que está na tela, achando que o lutador foi mesmo manuseado pela família, especialmente pela mãe, que se fazia de gerente de sua carreira. Ele aceita as mudanças ou a independência dos familiares sendo capaz de sai vencedor no ring internacional, não só pela ação do irmão enjeitado como pela paixão que passou a nutrir pela jovem vizinha Charlene (Amy Adams). No caso, o filme consegue dimensionar as personagens graças ao bom rendimento do elenco. Realmente todos estão afinados, mas a luta final, que nos outros exemplares desse tipo de enredo é um prodígio de edição, ganhando o ritmo que transporta o espectador do cinema para o estádio onde se dá a contenda, não é tão prodigiosa a julgar em uma comparação. Bem feita, como de resto a narrativa acadêmica se porta, ninguém pensa na platéia, que o “happy end” vá fugir. E nem é preciso saber que Micky Ward foi campeão mundial em sua categoria. O cinema de rotina diz a que veio.
Inegável o protagonismo de Melissa Leo como a mãe autoritária, desempenho que a candidatou ao Oscar 2011. Espero lhe dê mais sorte do que na época concorreu pelo excelente “Rio Congelado”(Frozen River/2008).
Nenhum comentário:
Postar um comentário