Derivando de uma história de Andrew Wright roteirizada por ele e John Garvin “Santuário”(Sanctum/EUA, 2010) é dirigido por Alister Grieson. O fato abordado teria sido real e naturalmente obteve a maquilagem do roteirista (que já esteve preso em caverna) para gerar um espetáculo cinematográfico rentável. Não à toa que um dos produtores é James Cameron, apaixonado por expedições submarinas desde que filmou “Titanic”.
O fato aconteceu em Papua, na Nova Guiné, quando exploradores de diversas nacionalidades resolvem explorar uma caverna pré-histórica sabendo que as águas do interior dessa caverna migram para o mar através de diversas fendas. Eles querem saber o roteiro desses emaranhados de vias submarinas, levando algum equipamento moderno, mas cientes de que não podem usar artefatos pesados e audaciosos quando sabem que a região é constantemente assolada por tempestades. E é isso que acontece: um ciclone inunda a caverna e o grupo formado por 7 pessoas refugia-se num bolsão de ar mas não sabe como fugir dali. E pelas mensagens da superfície (que deixam de ser transmitidas), percebem que vai ser difícil uma missão de socorro. Como diz um dos expedicionários: “- Virão só para recolher os mortos”.
O liame de enredo repousa no relacionamento do chefe da expedição, Frank (Richard Roxburgh) com seu filho Josh (Rhys Walkefield). O primeiro é veterano em tarefas semelhantes e o segundo é um calouro embora tenha fama de bom montanhista, ou seja, em escalar montanhas. Além deles há um casal de namorados (ou noivos), Carl (Iohan Grufudd) e Victoria (Alice Parkinson). Os demais coadjuvantes são citados na hora em que sofrem traumas, mas não ganham estrutura bastante para sensibilizar o espectador. Este “fio da meada” serve apenas para encaixar as cenas de acidentes subterrâneos (e submarinos) que a produção explora com a 3D. Além de belas paisagens africanas vistas no inicio em tomadas aéreas, as paredes da caverna focalizadas em travelling aproveitam bem a técnica para consubstanciar um espetáculo mais para atração de feira do que propriamente de cinema.
O suspense gerado pelas pessoas enterradas vivas e ainda mais sujeitas a morrer afogadas é suscitado de forma parcimoniosa, ligada sempre ao maravilhoso da cenografia natural (e o pouco que complementa esta cenografia em um “set” australiano). Mas o resultado está longe de empolgar como em clássicos do nível de “A Montanha dos 7 Abutres” (The Big Carnival) de Billy Wilder, ou no recente “172 Horas” (172 Hours) de Danny Boyle. Mesmo porque as figuras em foco são estereótipos e no modo como são exploradas não passam de elementos de uma espécie de jogo. O filme, aliás, pode ser definido como um vídeo-game em que somente o resultado é marcado. Ou como se diz, já está dado.
O termo “Santuário” vem da expressão que se dá a majestade da caverna. E constantemente Frank, o líder do grupo de exploradores, fala de uma lenda locada em Shangri-la com o Lama norteando um ritual. Realmente as imagens das galerias de pedras seculares, vistas com a dimensão que as aproxima do espectador, impressionam. É o tipo do programa exclusivo de tela grande e para ser visto com aqueles óculos que propiciam o relevo. Tirando isso, salta forte o melodrama, a narrativa acadêmica sem inspiração e alguns maus desempenhos. Pode-se mesmo dizer que James Cameron pouco atuou no trabalho do colega diretor. Confiou na sua paixão pelos abismos. Aliás, foi durante a filmagem de “Segredo do Abismo” que ele brigou com a então esposa Kathryn Bigelow, que seria a diretora do filme – no final dirigido por ele.
“Santuário” não é bem um naufrágio cinematográfico. Mesmo porque nunca se arvorou a ser uma obra de arte. É um show e como tal pode ser visto.
Eu não vi esse filme em 3D, mas o achei sensacional. A fotografia é muito bela e a história é surpreendente.
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