Os programas de cinema desta semana escolhidos pela ACCPA são protagonizados por Henry Fonda ( 1905-1982), ator que interpretou personagens marcantes em filmes que se tornaram clássicos da cinematografia norte-americana e além dela: “Tempestade Sobre Washington”(Advise and Consent/1963) de Otto Premminger, e “12 Homens e Uma Sentença”(Twelve Angry Men/1957), de Sidney Lumet. O primeiro será apresentado hoje, 25/03, na sessão de 19 h do Cine SESC (Boulevard Castilho França) e o segundo no sábado, 26, às 15h30, como Sessão Cult do Cine Libero Luxardo(Centur). Exibições gratuitas de filmes realmente importantes.
“Tempestade Sobre Washington” aborda a política norte-americana em tempo de “guerra fria”(a porfia com a URSS comunista). O roteiro escrito por Wendell Mayes com base no livro de Alen Drury trata da nomeação para Secretário de Estado, de um congressista com fama de ser de esquerda (Henry Fonda) indicado pelo presidente dos EUA. A oposição ataca e vasculha a vida desse congressista encontrando a sua filiação ao PC, na juventude. Resta o candidato ao cargo provar a sua idoneidade e o congresso aceitar as provas que apresenta, respeitando a ordem presidencial que não muda com o agravo dos acontecimentos.
O filme reflete um episódio com recorte espacial, mas tem ação ainda no presente. A denúncia a um jogo de interesses é flagrante e persistente. Mesmo considerando que o Chefe de Estado está doente, preste a falecer, não possuindo nenhuma mancha em seu currículo, o fato é motivo para os opositores mostrarem sua articulação feroz no jogo político. Mesclam-se nas malhas do poder entre opositores e a situação, líderes que têm interesses privados magoados, Um deles é protagonizado por Charles Laughton em seu último trabalho no cinema, como o senador Seabright Cooley. Dedica-se a contaminar os argumentos dos colegas da situação pela nomeação do indicado e não se sensibiliza com os acontecimentos dramáticos que surgem em meio à sua campanha.
“Tempestade sobre Washington” faz parte de uma série de filmes provocativos do diretor Premminger, o mesmo que anos antes derruia a censura dos estúdios (o famoso Código Hayes) com o seu “Ingênua até Certo Ponto”(The Moon is Blue/1953). Para este cineasta, a polêmica era mais importante do que a própria realização estética. A exemplo, “O Cardeal”(the Cardinal) em que ele traçava um longo relato de uma crise de fé a que um membro da igreja católica era acometido desde que a sua irmã morrera por não ter se submetido à uma cirurgia que lhe tirasse uma criança preste a nascer.
O senado que Premminger compôs para o filme está entre os pontos mais desafiadores da linha dita “liberal” de Hollywood. E, na época da realização, a URSS estava de pé, a crise patrocinada pelos mísseis em Cuba ganhava as manchetes e desafiava o presidente John Kennedy.
O filme deu ao veterano ator Burgess Meredith o premio do National Board of Review e esteve em várias mostras internacionais.
“12 Homens e Uma Sentença” apresenta Henry Fonda como o líder de 11 jurados que vão julgar um caso de homicídio. Não há um acordo imediato entre essas figuras e os argumentos de promotoria e defesa passam pela inteligência e sensibilidade do grupo.
O filme veio de um roteiro original escrito por Reginald Rose. Apesar de sua estrutura não é derivado do teatro. E o ritmo dado pelo diretor (ainda ativo) Sidney Lumet é de cinema dinâmico. Um trabalho que impressionou a ponto de ganhar o Globo de Ouro na categoria drama, e o Leão de S.Marcos em Veneza ao diretor, além de muitos prêmios e citações internacionais. Foi candidato a 3 Oscar (filme, direção e roteiro). Um clássico legítimo que venceu o tempo.
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