O cinema norte-americano, ainda dominante como indústria e comércio (como indústria talvez perca para a Bollywood indiana, mas comercialmente é inegável sua supremacia), vive de modismos. No período da “guerra fria” entre EUA e URSS, o enfoque nos muitos filmes era de “vilões” russos. Depois foi mudado para terroristas islâmicos. Agora o “charme” passa por criaturas lendárias ou seres de outros planetas. E franquias de gênero. Embora não seja uma fórmula ocidental, posto que no Japão já se fizesse, por exemplo, mais de dez filmes seguindo um titulo, o regular tem sido Pânicos 1,2,3 e 4, ou Halloweens da mesma forma. Isto não quer dizer que se inventem novos caminhos para um mesmo assunto. Recentemente os livros de Stephenie Meyer, iniciados com “Crepúsculo”(Twilight) geraram a moda de vampiros galantes, incorporados em jovens colegiais, que namoravam colegas a ponto de paixão. A inglesa J.K. Rowlings seguiu este caminho com os seus livros que também se apegavam ao fantasioso (Harry Potter). Mas não é preciso buscar inspiração (e pagar direitos) na(da) literatura. Os donos dos estúdios pedem que seus roteiristas imaginem histórias românticas em que seja usado muito efeito especial e se humanize personagens que podem ser moldados em antigas lendas ou seres espaciais, sabendo-se que a ficção-cientifica tem tido a preferência de uma larga escala de público nos últimos 50 anos (desde o período do vôo de Gagarin, o astronauta russo).
“Eu Sou o Numero 4”(Number 4/EUA,2011), ora em cartaz, é isso: o “mocinho”, estudante como o vampiro de Stephanie Meyer, não é uma pessoa comum e sim um ET (extraterrestre) chegado de um planeta distante e perseguido por criaturas de seu mundo ( haviam assassinado 3 “colegas” seus, sendo ele a próxima vitima). Claro que o tipo evoca simpatia de uma jovem e da platéia. Sem a possibilidade de transformar sua face em “cara feia”, ou caninos de lobo, podia passar por um “nerd” vulnerável a bullyng. Cabia bem o tema se o roteiro explorasse esse quadrante e adentrasse pelo drama do “diferente” perseguido (sendo possivel pensar até no assassino de Realengo). Mas ninguém espere qualquer densidade do “script”. A ordem (agora de Steven Spielberg e Michael Bay como produtores e D.J. Caruso como diretor) é cativar pelo insólito. E para ganhar mais campo com os jovens espectadores, investe-se em CGI, ou efeitos digitais que joguem na tela os desastres capazes de lembrar os melhores videogames.
As franquias não variam por se dedicarem a um tipo de audiência. Os donos da “fabrica de fazer filmes” sabem, por borderôs eletrônicos, quem está em boa posição no ranking de bilheteria no cinema (pagando ingresso) e apostam na juventude. Por mais que no Brasil a turma pague meia-entrada isto é mais expressivo pelo número de pagantes e até pelo fato de assistirem mais de uma vez o mesmo filme.
Quem assistiu a “Barton Fink”(1991), dos irmãos Coen, tem uma idéia de como é tramada a fórmula. Neste filme premiado em Cannes, um escritor laureado é contratado por um grande estúdio de cinema e o dono desse estúdio pede-lhe que “faça um filme com Wallace Berry” (ator popular nos anos 30). Diz: “Tem que ser um filme de luta de boxe, ou “luta livre” ou “tem que ser enredo onde haja um cachorro”.
Quem assistiu a “Barton Fink”(1991), dos irmãos Coen, tem uma idéia de como é tramada a fórmula. Neste filme premiado em Cannes, um escritor laureado é contratado por um grande estúdio de cinema e o dono desse estúdio pede-lhe que “faça um filme com Wallace Berry” (ator popular nos anos 30). Diz: “Tem que ser um filme de luta de boxe, ou “luta livre” ou “tem que ser enredo onde haja um cachorro”.
Não adianta o escritor alegar a sua criatividade. O nome de um premiado na área do texto é o bastante para servir ao complexo industrial que produz “o que o público quer ver”. E em cinema, ainda hoje, o conceito industrial é de “divertissement”(divertimento) e, como tal, elaborar tramas que façam sonhar, ou que seja deleite em outras áreas. No mundo da informática é uma conseqüência natural a imersão na ficção-cientifica que empregue mais elementos técnicos emoldurando a fantasia com itens de suspense. Qualquer densidade na criação é coincidência ou “ver demais”. E sobre isto a crítica tem discernimento, não digerindo com facilidade o que chega ao mercado. O alerta aos programas já é uma visão crítica do que o público pode optar por assistir, pois, somos livres para escolher. E assim deve ser.
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