O cinema independente norte-americano procura quase sempre fugir dos estereótipos gerados pelos grandes estúdios. Na maioria dos casos aposta no realismo. Mesmo, porque supostamente tem menores custos por capturar ambientes cotidianos do que produzir uma falsa verdade ou cenários espetaculares. O caso do despojamento de grandes somas para a produção se acha em “Inverno da Alma” (Winter Bone/EUA,2010) que está em exibição no cinema local (no caso, no veterano Cinema Olympia, escolhido para comemorar o 99° aniversário dessa casa).
O roteiro e a direção cabem a Debra Granik cineasta que se revelou com “Down to the Bone”(EUA/2004) inédito por aqui, elogiada abordagem sobre uma jovem (Vera Farmiga) viciada em drogas, produção que recebeu prêmios e indicações pela qualidade do trabalho da diretora.
O roteiro e a direção cabem a Debra Granik cineasta que se revelou com “Down to the Bone”(EUA/2004) inédito por aqui, elogiada abordagem sobre uma jovem (Vera Farmiga) viciada em drogas, produção que recebeu prêmios e indicações pela qualidade do trabalho da diretora.
O termo “bone” (osso) volta na odisséia de outra personagem agora em “Inverno da Alma”, a jovem Ree (Jennifer Lawrence), vivendo com a mãe doente e tomando conta de um casal de irmãos menores. Filha de um traficante procura o pai misteriosamente sumido desde que saiu da prisão em liberdade condicional. A procura ganha maior dimensão, ou extrema necessidade, quando a policia cobra o pagamento da fiança que ele assumiu penhorando a pequena propriedade onde moram os familiares e os bens agregados.
As primeiras cenas, realçadas na bela fotografia de Michael McDonough a partir de imagens com câmera digital, mostram crianças brincando, um espaço bucólico, evocando uma aparente calma. Mas logo que surge Ree, e pela sua fisionomia se sabe que há problema, acentuando-se na hora em que vai pedir à vizinha que alimente um cavalo. E prossegue a exposição do que preocupa a jovem, mesmo quando ela passeia com os irmãos tomando-lhes lições de formação de palavras, de soletração e de números. Não demora a câmera focaliza o carro da policia chegando e o xerife expondo a situação em que se encontra formalmente a pequena fazenda. Onde estará Jessup, o pai que ninguém vê?
A busca segue pistas através de pessoas ligadas ao tráfico, como o tio e irmão de Jessop, “Teardrop”(John Hawkes, candidato ao Oscar de coadjuvante), mas só ganham subsidio na fala com Merab (Dale Dickey) esposa de um ex-parceiro do pai de Ree, que lhe aponta o lugar onde estão os restos mortais do desaparecido.
O ápice do drama imaginado pelo escritor Daniel Woodrell e roteirizado pela diretora e por Anne Rosselini, é quando a mocinha de 17 anos (Ree) vê cortarem as mãos do cadáver de seu pai para que essas sirvam de prova de sua morte e, conseqüentemente, da impossibilidade de ele quitar sua divida (e com isso salvar a casa da família). A iluminação e os closes da garota e sua companhia revelam a dimensão do fato, alimentados pelo ruído de uma serra elétrica.
O ápice do drama imaginado pelo escritor Daniel Woodrell e roteirizado pela diretora e por Anne Rosselini, é quando a mocinha de 17 anos (Ree) vê cortarem as mãos do cadáver de seu pai para que essas sirvam de prova de sua morte e, conseqüentemente, da impossibilidade de ele quitar sua divida (e com isso salvar a casa da família). A iluminação e os closes da garota e sua companhia revelam a dimensão do fato, alimentados pelo ruído de uma serra elétrica.
“Inverno da Alma” lembra, até pela posição geográfica do argumento, outro filme independente que fez sucesso: “Rio Congelado” (Frozen River/EUA,2008) de Courtney Hun, ambientado na fronteira de New York com Quebec, a reserva indígena Mohawk. Há outra fronteira no filme de Debra Granik - entre dois estados de Missouri com Arkansas, nas montanhas de Ozark. O frio faz proceder ao titulo, e mesmo o que recebeu no Brasil, que amplia o clima sintonizando simbolicamente aos conflitos pessoais apresentados.
Como Ree, Jennifer Lawrence, com apenas um ano a mais da sua personagem na época, é a grande revelação do elenco. Foi candidata ao Oscar de melhor atriz, sendo vencida por Natalie Portman. Mesmo não desprezando maquilagem ainda assim deixa que se vislumbre detalhes como o machucado no rosto que persiste em planos posteriores (normalmente deixa-se de lado essas situações numa narrativa tradicional). O filme foi premiado em Sundance e Berlim.
O último plano, dos irmãos abraçados e Ree prometendo fidelidade à essa união, é um toque poético que intensifica a admiração por este filme simples e bonito. Programa imperdível.
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