quinta-feira, 21 de abril de 2011

OLYMPIA 99 - UMA HISTÓRIA DE BELÉM













No próximo domingo (24) o cinema Olympia completa 99 anos. As pesquisas apontam para um recorde pelo menos nacional de sobrevivência histórica de um patrimonio cinematográfico, considerando-se que ele jamais mudou o nome, não saiu do lugar, não cessou as suas atividades por mais de um ano e mantém o mesmo recinto construído (ou “caixa construída”). Em se tratando de cinema, obviamente, sofreu várias reformas para se adaptar as conquista tecnológicas dessa arte & indústria & comércio. A fachada mudou bastante, mas a sua característica primordial, a posição da tela na entrada da sala de projeção, deixando que o espectador passe por baixo dela para chegar às poltronas, permanece como foi idealizada, com o objetivo, no dizer da época,” de ser apenas cinema e não mais um “theatro”(registre-se que os empresários que construíram o prédio, Antonio Martins e Carlos Teixeira, já mantinham um espaço versátil, ou seja, para teatro e cinema: o Palace Theatre, na mesma rua).

O Olympia guarda muitas histórias da cidade de Belém e foi testemunha de outras tantas.

Logo no ano de sua inauguração, bem perto dele, aconteceu o incêndio criminoso do jornal “A Província do Pará”, do então intendente Antonio Lemos, e daí seguiu uma passeata para a deposição desse político, alcançando-o em casa, na Tv. Gentil Bittencourt (antigo prédio do IBGE). De pijamas ele foi arrantado pelas ruas de Belém, liderando esse episódio o Dr. Virgílio de Mendonça. Essa situação foi filmada pelo cinegrafista catalão Ramon de Baños e projetada com o nome de “Sucessos de Agosto” (sobre isso há uma outra história contada no livro “Cinema no Tucupi”, de Pedro Veriano).

Dezoito anos depois, o cinema testemunhou a Revolução de 30, com os embates acontecendo na rua próxima (Assis de Vasconcelos). Nesses períodos, os filmes eram mudos e duas orquestras tocavam na casa, uma na sala de espera, outra debaixo da tela acompanhando as imagens, muitas vezes seguindo libretos que vinham com o filme. Só em novembro de 1930 é que chegou o cinema falado no Pará, cabendo ao Olympia inaugurar o processo “movietone” com a opereta “Alvorada do Amor”(1929) de Ernst Lubitsch, com Jeanette MacDonald e Maurice Chevalier.

Nos anos 40, o cinema foi negociado pelos donos da empresa com o banqueiro Adalberto Marques, tornando-se parte de uma firma local chamada Cinematographica Paraense Ltda. Em 1946 foi vendido para o grupo Luis Severiano Ribeiro. Nos anos 50 o péssimo estado das instalações levou a protestos estudantis que culminaram com uma reforma inaugurada em 1960, quando o Olympia se modernizou, com a instalação de equipamentos de ar condicionado e poltronas estofadas.

Toda essa história, em detalhes, deve ser contada em um livro que Pedro Veriano e eu estamos procurando organizar para ser lançado no dia do centenário, ou seja, no próximo ano. Ressalte-se que em 2006, o empresário Luis Severiano Ribeiro Neto considerou comercialmente finita a vida desse cinema e resolveu fechá-lo. Protestos de expressivos membros da sociedade paraense sensibilizados pelas chamadas de ACCPA e ABDeC à porta do cinema sensibilizaram o prefeito Duciomar Costa que conseguiu manter a casa por aluguel transformando-a em Espaço Municipal e dedicado, principalmente, a exibição de filmes. Hoje é confortante dizer que o velho Olympia está vivo. E na minha dissertação de mestrado (“Saias, Laços e Ligas”, 1990, a ser editada pela Paka-Tatu), descrevo, a partir de entrevistas com antigos freqüentadores do cinema, como estes viviam o tempo das sessões frequentadas pela elite local, onde o “sereno” era uma constante das classes populares.


Como parte importante de nossa história social, política e cultural, portanto, o cinema da Praça da Republica merece parabéns. A programação para este domingo está sendo organizada pela ACCPA & FUNBEL e consta da seguinte pauta:


16h - Hall do Cinema Olympia - Alan Navegantes (e seus teclados) se apresentará tocando um fundo musical com temas de filmes.
17h - Apresentação do Gran Coral Metropolitano, interpretanto musicas famosas do cinema - Local: Sala de exibição.
17h30 - O músico Salomão Habib interpretará trilhas de filmes adaptadas para violão com a exibição de imagens de filmes na tela do cinema.
18h30 - Exibição do longa-metragem inédito “Inverno da Alma” (Winter´s Bone, EUA, 2010), com direção de Debra Granik e elenco: Jennifer Lawrence, Isaiah Stone, Ashlee Thompson, Valerie Richards. O filme foi um dos candidatos ao Oscar deste ano.










2 comentários:

  1. 99 anos, nossa não é para qualquer um! Eu acho estrnho ver este cinema tão vazio.. não consigo entender... afinal as pessoas vão ao cinema para ver filmes ou para serem vistas? pq é essa sensação q tenho qdo vejo as filas no shopping... o último filme q vi ali (não foi o último, mas foi o q mais gostei) foi a cabeça de mamãe. Belo, como o local. =)

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  2. Cara Liliane,
    Nestes tempos conteporâneos as práticas têm sido o privilegiamento de filmes do estilo "blockbuster" que encantam o público que está mais próximo do divertimento. Nada contra quem vai em busca desses programas, mas acho que a variação e a tendência para ver outros filmes com uma linguagem mais de arte deveria
    ter maiores espectadores. Mas é isso, vamos aos 100 anos desse cinema, se Deus quizer!

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