Carlos Saldanha é carioca e ganhou fama nos EUA dirigindo o departamento de animação da 20Th Century Fox, intitulado “Blue Sky”. Dele a direção de “A Era do Gelo 2 e 3” sendo que o “3”, chamado, originalmente, “Dawn of Dinosaurs”, figurou entre as maiores bilheterias de Hollywood em 2009.
Saldanha quis homenagear a sua terra com um desenho de longa metragem a que chamou de “Rio” (EUA, 2011). Escrevendo o roteiro com Don Rhymer, colocou em cena todos os elementos turísticos que vendem a imagem do Rio de Janeiro. Situou a história na época do carnaval, usou a selva (Brazil é selva para o estrangeiro, especialmente o norte-americano) como o habitat de seus heróis, sinalizou o samba na trilha sonora, incluiu, pelo menos, uma imagem de futebol (vista na TV), tocou de leve na favela, sabendo da popularidade de filmes como “Cidade de Deus”, e desenhou o Corcovado, o Pão de Açucar, os arcos da Lapa e Copacabana no auge do verão.
O argumento aborda uma espécie masculina de arara azul, ave rara posto que em extinção, vivendo na cidade de Minnesota (EUA), mais precisamente, na livraria de uma jovem chamada Linda, e colocou um preservacionista como o brasileiro que aparece por aquelas bandas e estimula a dona do pássaro para levá-lo ao Rio, onde terá a chance de procriar. A aventura carioca tem como vilões os contrabandistas de animais (o chefe deles muito parecido com Quentin Tarantino), outras aves (nada amistosas) e muitos pequenos macacos. Blu, o arara “americanizado” vai conhecer Jade, afinal sua paixão, e aprender a usar seus pendores de ataque e defesa. Mas os problemas começam pelo fato de o herói não saber voar. E as tentativas na Pedra da Gávea, acompanhando uma asa delta, é um dos poucos recursos cômicos.
O filme inicia com uma seqüência muito criativa: as aves cantam e voam enaltecendo as belezas do Rio quando começam a ser aprisionadas. O corte desloca a sequencia para Blu em sua rotina confortável (e monótona) na cidade norte-americana. O que segue é a chegada à terra carioca em tempo de carnaval. Tudo que é atração turística é apresentado pelos desenhistas. E as situações perigosas não apresentam novidades ficando o que se pode ver como original a faculdade de um arara incapaz de usar as asas para voar, posto que não aprendeu. E mesmo sem coragem de namorar. O filme pinta o “estrangeiro” como um tímido, e no caso os tímidos que se tornam valentes como tantos do cinema tradicional. Até os números musicais lembram filmes antigos. Isto não é defeito, mas signo comercial: Saldanha sabe das preferências do fã brasileiro por velhos sucessos dos estudios da Metro Goldowing Mayer ou, mesmo, da sua empresa (a Fox produziu os musicais com Carmen Miranda).
As crianças devem gostar. Há muita ação que só pode ser criticada pelos adultos cansados da fórmula em outros exemplares do gênero. Mas o fecho, apesar de também não trazer novidade, é muito sensível: Blu vai voar para salvar a amada. E mais: na hora desse vôo encontra a sua dona, Linda, mas não vai a seu encontro antes de cumprir a sua missão de amante corajoso. “Rio” é uma animação simpática que cumpre a sua finalidade: um aceno de um filho da terra que alçou vôo para outra paragem. Mas sem perder a dádiva de voar.
As críticas que o filme pode receber devem ser, justamente, pela americanização do enredo e da tipificação do Rio de Janeiro. A carência de uma crítica social já se estabelece na efeméride em que Saldanha inscreve seu argumento: o período carnavalesco. E sobre os demais tipos, como disse, são recorrentes: os ladrões nascem no morro, a parte pobre da cidade é a que causa mais perigos, a ligação entre a contravenção e os contraventores é um garoto negro, ingênuo (que depois se redime) enfim, alguns detalhes se emparelham com uma outra perspectiva do RJ. A glamourizada, a que vende imagens, a que só é percebida mundialmente pelo carnaval.
Mas a animação é interessante. O problema é a recorrência ao deja vu.
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