sexta-feira, 20 de maio de 2011

O INSPETOR GERAL






Um público bem restrito do cinema atual conhece o trabalho do comediante Danny Kaye (David Daniel Kaminski,1913-1987). Pelos filmes que já assisti dele, considero uma injustiça esse desconhecimento a um dos mais talentosos artistas que saíram do teatro para diante das câmeras com um grande poder de expressão corporal.


Kaye era filho de imigrantes judeus ucranianos. Trabalhou desde os 13 anos de idade e foi descoberto na Broadway por Samuel Goldwyn (1879-1974) também imigrante judeu. Produtor de cinema desde 1916, Goldwyn contratou-o para interpretar papéis em comédias musicais cujos filmes já em tecnicolor (luxo nos anos 40) chamavam a atenção do público. Entre outros filmes que atuou estão: “Sonhando de Olhos Abertos”(Up in Arms/1944), “Um Rapaz do Outro Mundo”(Wonder Man/1945), “O Homem de Oito vidas”(The Private Life of Walter Mitty/1947) e “A Canção Prometida”(A Song is Born/1948). Depois faria filmes em diversos estúdios, seja no gênero que o consagrou como uma plêiade diversificada de tipos em “Hans Christian Andersen”(1952) “Cabeça de Pau”(Knock on Wood/1954), “O Bobo da Corte”(The Court Jester/1955) sem falar em musicais dramáticos como “Natal Branco”(White Christmas/1954) e “A Lágrima que Faltou”(The Five Pennies/1959).


O filme escolhido para apresentar esse ator à nova geração e que será exibido na sessão Cult do Cine Líbero Luxardo, neste domingo, 21, é “O Inspetor Geral” (The Inspector General/1949), uma das boas comédias que foi interpretada por Danny Kaye. Baseada num conto de Nicolai Gogol trata de uma aldeia russa do século XVIII em que todas as autoridades eram corruptas. Ao saber que o czar mandara um inspetor visitar a região e este inspetor surgiria incógnito, confundiu um assistente de curandeiro, empregado para fazer pantomima enquanto vendia falsos medicamentos, como a autoridade esperada. Nessa hora o personagem havia sido despedido de sua função por ter piedade de uma cliente que empregara suas economias na droga dita miraculosa (e com isso alertado que se tratava de uma fraude). Maltrapilho e com fome, é preso, mas, na cadeia, é descoberto como autoridade, pois levava sob um buraco em sua bota, a falsa “autorização” de Napoleão Bonaparte à venda dos produtos engendrados pelo saltimbanco vigarista. Sem saber ler e avesso às mesuras de pessoas gradas do governo ele passa a ser bajulado e vai descobrindo as tramóias dos anfitriões até a chegada do verdadeiro inspetor.


O conto de Gogol foi modificado por Philip Rapp,Harry Kurnitz e (sem assinar) Bem Hetch. A direção do filme coube a Henry Koster (de “O Manto Sagrado”).


A última vez que assisti a esse filme foi em DVD, numa das minhas idas ao Mosqueiro. Confesso que gostei do formato narrativo e das peripécias engendradas para ativar a confusão dos dois tipos vividos por Dany Kaye. E não sou fácil de rir em cinema, mesmo em grandes comédias. Além de bem narrado, com uma direção de arte impressionante, é um dos bons momentos do ator. Ele interpreta o bobalhão e canta, dança, faz acrobacias, e ainda posa de galã romântico. As musicas são de sua parceira e esposa Sylvia Fine com quem casou em 1940 e o acompanhou até morrer de hepatite por conta de uma transfusão de sangue contaminado ao ser operado para a colocação de um marca-passo.


Kaye esteve no Brasil como embaixador da UNICEF. Tratava do programa envolvendo crianças necessitadas. E na estadia brasileira mostrou seus pendores culinários. Era exímio também nisso. A exibição de “O Inspetor Geral” na Sessão Cult deste sábado, no Libero Luxardo é um “achado” que vai apresentar um interprete ao público jovem e, no fim das contas, vai mostrar uma inspirada comédia apoiada num clássico literário. E mais: um tema oportuno. Demonstra que corrupção e bajulação nas barras da política não saem de moda.


No elenco do filme, dois nomes ligados ao bom cinema norte-americano: Elsa Lanchester, que foi esposa do ator Charles Laughton contracenando com este em “Testemunha de Acusação”(1957), de Billy Wilder. Walter Slezak, é o outro nome, ator característico que esteve em “Sinbad o Marujo”(1947) de Richard Wallace com Douglas Fairbanks Jr. e em “Um Barco e 9 Destinos” (Lifeboat, 1944), de Alfred Hitchcock.

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