quinta-feira, 2 de junho de 2011

BEBER OUTRA VEZ (?)







“Se Beber Não Case”(The Hangover/EUA/2010) usou artificios criativos no gênero da comédia. Procurou manter o que o melhor cinema adota em recortes do absurdo transformando imagens em puro surrealismo. Animais são vistos circulando no apartamento dos amigos farristas, como uma galinha e um tigre, por exemplo, sem que se explique sua presença no lugar ou sua origem e destino. O filme tendia a fugir à mesmice do gênero. Talvez por isso tenha conseguido sensibilizar outras faixas de espectadores e, obviamente, faturar além do que os produtores esperavam. E como na grande indústria de cinema, especialmente hoje, o que vende mais é explorado à exaustão, surge uma seqüência que esta semana foi lançada internacionalmente: “Se Beber não Case 2”(The Hangover 2).

O que os roteiristas Craig Masin, Scot Armstrong e o diretor Todd Philips imaginaram? Repetir as proezas dos amigos Phil (Bradley Cooper), Stu (Ed Helmes), Doug (Justin Bartha) e Alan (Zach Galifianakis) jogando a ação para Bangkok (Tailândia). A desculpa é que Stu vai casar com uma tailandesa. Entra na pauta o exotismo (no olhar norte-americano), o turismo, situações grotescas devassando a cultura local, e o mesmo impasse de antes colocado da mesma forma: no inicio do filme Phil telefona para a noiva do amigo dizendo que não vai mais haver casamento. Agora quem desaparece não é um dos camaradas, mas o futuro cunhado do herói, o jovem Teddy (Mason Lee).

É triste a falta de originalidade da produção repetindo o que produziu com esmero pouco mais de um ano. Até as fotografias que a turma faz durante a farra e só vai ver muito tempos depois de voltar à sanidade é motivo para anedota nos créditos finais.
As situações bizarras desta nova “despedida de solteiro” acrescentam cenas de nu frontal masculino (raridade em comédia norte-americana mesmo recebendo R de cotação da censura dos estúdios, ou seja, programa para maiores de 17 anos) e muito preconceito. Há frases que definem Bangkok como um fim de mundo. Isso com evidências de ruas sujas repletas de barracas para vendas diversas, como se tudo ali fosse uma feira (só escapam os grandes planos onde se vislumbra uma metrópole com dezenas de arranha-céus). E muito lixo. Bem, esse retrato é o que Hollywood costuma fazer quando filma locais que considera “inferiores” ou afeitos a um tipo de turismo que lembra aquilo que Stallone viu recentemente no Rio com o seu “Mercenários”.

Do grupo anterior continua Zach como a figura mais divertida com lances inesperados. Agora se presta aos percalços do argumento e faz discursos sobre uma cultura “bizarra”. Para se ter uma idéia da mesmice, Stu deixa de perder um dente para acordar com uma tatuagem no rosto. E até Mike Tyson dá as caras, ele que era o dono de um tigre no primeiro filme, agora mostrando que alem de campeão de peso-pesado é...cantor.

Francamente, o mais divertido de “Se Beber Não Case 2” é comparar, plano por plano, o que se repete do episódio Um. Desaparece qualquer vestígio da inventiva do filme anterior, jogando-se “fade-outs”(cortinas escuras) e elipses da mesma forma da aventura em Las Vegas. Se um apartamento de luxo na cidade norte-americana se transforma em um pardieiro tailandês a troca só serve para criticar o “estrangeiro”. Há até um chinês, Mr. Chow (Ken Jeonq) ligado ao tráfico, responsável pelas complicações que envolvem um macaco (não mais uma criança, como no primeiro filme) animal que é o agente da venda aos consumidores da droga. Nesse evento (uma alusão de que parte do toxico mundial vem da Asia), Paul Giamatti, o excelente interprete do recente “Minha Versão do Amor”, surge como interessado no dinheiro do tráfico e que será responsável pelo fecho moral desse lance, mantendo os “bons costumes” do seu povo, usando as estratégias policiais convencionais.

O mais trágico nessa história de farristas inveterados é a possibilidade de eles retornarem à carga se o filme atual, como se prevê, faturar alto. Agora quem vai casar? Talvez, quem sabe, casar de novo? Tudo é possível nos que acionam a máquina de fazer dinheiro com projeção de imagens em movimento.

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