Há uma hora
quinta-feira, 23 de junho de 2011
EM UM MUNDO MELHOR
O titulo original de “Em Um Mundo Melhor”, “Haeven” em dinamarquês quer dizer “vingança”. O filme mereceu (mesmo) o Oscar de melhor filme estrangeiro, este ano, e andou despertando polêmica entre os céticos e os que ainda acreditam que, de fato, pode haver ou é possivel construir “um mundo melhor”.
O roteiro de Anders Thomas Jensen aborda a situação de dois meninos colegas de escola: Christian (William Johnk Nielsen) e Elias(Markus Ryagaard). A sequencia inicial do filme apresenta o primeiro garoto fazendo a oração de despedida no funeral de sua mãe. A câmera capta-o de costa e de um ângulo um pouco alto (quase um “plongée”). O menino cita “O Rouxinol”, um poema de Hans Christian Andersen. Comove a todos ao ligar o espírito da mãe à ave que alça vôo de um mundo conturbado. Terminada a fala, o pai cumprimenta-o pela bela oração, mas se observa a frieza do garoto (há um campo e contra -campo elucidativo desse mal estar entre pai e filho). É explicado posteriormene essa situação: Christensen assistiu a uma cena em que o pai proporcionara a eutanasia à esposa que sofria as dores de um câncer terminal (ela havia pedido para morrer).
Quanto a Elias era vitima de bullyng na escola. Os colegas, especialmente o grandalhão Sofus (Simon Maagaard Holm) implicavam com a sua arcada dentária (proeminência dos incisivos), mas não revelava esses incidentes. Quando Christian percebe as ocorrências maldosas dos colegas junta-se a ele e vai a seu socorro. Começa uma grande amizade.
Médico de campanha, o pai de Elias atua numa área miserável da África. Está em vias de separar-se da esposa, uma enfermeira. O pai de Christensen pouco se distingue no roteiro do filme. Mas é percebido como uma pessoa de posses que mora numa mansão com a mãe. Focaliza-se mais o trabalho de Anton (Mikael Persbrandt), um desses “médicos sem fronteira”, especialmente quando em meio a guerrilha é obrigado a tratar do chefe de um bando, responsável por aplicar violência, estupro e assassinato de forma brutal em várias mulheres da aldeia próxima. Como paciente sofre de um ferimento na perna e tem medo de perdê-la.
O caráter de Anton é definido aí e depois quando vai contatar um homem que havia insultado seu filho, recebendo um tapa no rosto sem reagir. Seria o arquétipo do bom cristão. As vidas dessas personagens são abordadas em seqüências que se entrelaçam em narrativa fragmentada sem prejudicar o acompanhamento de uma história de grande força emotiva. Mas não há concessão à pieguice.
A situação é precipitada quando Christensen idealiza explodir o carro do agressor do pai do amigo. Ele e Elias preparam e colocam uma bomba caseira sob o veiculo quando circulam pessoas e Elias tenta impedir a aproximação delas procurando avisá-las. Torna-se a vitima da explosão. O que há de mais tenso no filme é justamente a epifania ou percepção da manifestação da natureza ou do significado essencial de uma dada coisa ou situação, através dos planos. No processo de apresentação dos tipos, nota-se o desdobramento do médico em salvar vidas. Seu cansaço não tem limites, mas sua abnegação é maior em tentar ao menos prosseguir em sua atuação num mundo hostil. Onde a morte é um detalhe na tentativa da sobrevivência dos seres humanos daquele lugar extremamente estéril de sentimentos dos que controlam o poder da comunidade. As maiores vítimas, mulheres jovens têm seu ventre aberto para extrair os bebês em seguida o estupro da morta. É desse estado de coisas que emerge um homem bom. A ponto de mostrar ao filho que “dar o outro lado da face para o tapa” não desmerece quem não está necessariamente no fim do tunel da agressidade embora vivendo a violência.
A violência escolar também é outra denúncia presente. A “naturalização” das atitudes intra-alunos tem sempre uma escapatória para os superiores. Aonde entender os limtes desse jogo entre “seres aptos” e “não aptos” para viverem socialmente?
A diretora Simone Bier mostra-se hábil em trançar fatos evidenciando o que há de mais sugestivo em cada um. E principalmente consegue excelentes desempenhos, ressaltando-se os menores e em particular William Nielsen, o Christensen.
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