Títulos são sempre uma maneira de avaliar o conteúdo de algo. Vejo assim em certos trabalhos acadêmicos lidos e que nem sempre condissem com o título que dado pela pessoa. Dessa forma, os filmes retratam, muitas vezes, esses equívocos, daí se dizer que não se deve ver filme pelo nome. Este argumento quer enfocar do que já mencionei aqui. Quem está supondo que “Namorados Para Sempre”(no original “Blue Valentine”) fosse mais uma comédia romântica, dessas que o cinema norte-americano vem produzindo com a mesma avidez com que produz os “blockbusters” baseados em quadrinhos, vai se decepcionar. Os namorados, no caso, não se juntam a ganhar aquela frase que encerra os contos de fadas (“...e foram felizes para sempre”). Por consolo, em Portugal o filme se chamou “Eu e Tu”. Ficaria ótimo se fosse narrado na primeira pessoa. Mas não é.
No enredo, Cindy (Michelle Williams) e Dean(Ryan Gosling) conheceram-se ainda jovens, ambos vindos de famílias destroçadas por várias contingências. Ela é enfermeira trabalhando num hospital, ele fazia “bicos” como pintor e, impulsionado por ela, passa a fazer serviços de carregamento e entrega. O casal tem uma filha, Frankie (Faith Wladyka) que no inicio do filme é vista no colo do pai procurando a cadela de estimação que desaparecera. O enfoque, a partir desta sequencia, adentra por recursos que tentam viabilizar o estremecimento da afetividade dos casados. O sumiço do cão pode ser visto como o sumiço de um modo de manter o casamento dos personagens. Mas se isto é ver demais, não é, por certo, a opção do diretor e roteirista Derek Ciafrance (no roteiro associado a Cami Delavigne e Joey Curtis) a usar sempre a câmera manual como se estivessem fazendo um filme amador, um desses registros domésticos de rotina caseira.
Cindy é uma garota do seu tempo, extrovertida, Dean é ciumento. O casal é visto em tempos diferentes no correr da narrativa, sabendo-se quando está no passado e se está no presente pela maquilagem dos atores como pela afeição que demonstram. Mas sempre há uma predileção por planos próximos e isto se intensifica na medida em que surge uma crise muito séria no meio.
Não há uma predileção por determinado tipo na construção do roteiro. Ora se vê Cindy com um “ficante”, ou no seu trabalho, ou em casa (e aí poucas vezes esboçando um sorriso), ora é Dean com a barba malfeita, via de regra contrariado e bêbado, não disfarçando uma instabilidade emocional que data de sua formação de menino carente.
É importante observar o casal de forma que os tipos estejam bem delineados para que se demonstre o que sentem. Ao assistir ao filme lembrei de “Um Caminho Para Dois”(Two For the Road) de Stanley Donen, onde Audrey Hepburn e Albert Finney vivem um casal que também se amou e no correr do tempo foi ficando indiferente. No filme lembrado, a ação é igualmente fragmentada para se ver o comportamento das pessoas no tempo. Mas os flashes de vida são normalmente alegre, reforçados em cores vivas e na musica marcante. Em “Blue Valentine” a fotografia é dura, o sublinhamento musical prende-se demais ao problema focalizado sem que fique na memória do espectador, e a separação fatal não ganha uma dimensão de saudade que fica quando os ex-namorados estão vivendo suas vidas de forma independente. Pode-se dizer que agora há mais apelo realista. E vai daí o ridículo que o nome do filme em português ofereceu: “Namorados para Sempre”. Claro que foi uma armação comercial que o lançamento próximo do Dia dos Namorados intensificou. Na verdade eles não ficam para sempre, ou melhor: não ficam. E quem os vê compreende que é o destino mais coerente da trama.
O desempenho de Michelle Williams está excelente, mas não se deve deixar em segundo plano o seu comparsa. Ryan Goslin não foi candidato ao Oscar, mas foi nominado ao Globo de Ouro e de várias associações de críticos dos EUA. A produção independente é a segunda do diretor Derek Cianfrance na ficção de longa metragem (antes ele realizou o aplaudido “Brother Tied”em 1998). O sucesso deu margem a que ele fosse procurado e está com dois filmes prontos para estrear. Vai longe. Não perca “Namorados para sempre”.
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