Os teóricos norte-americanos atribuíram como “jumps cut” (corte aos pulos) a técnica usada por Jean Luc Godard em seu primeiro longa-metragem: “Acossado” (À Bout de Souffle/França,1960). Reconhecem que daí surgiu “um novo alento” no cinema (comparando-o com o que Orson Welles fez em 1941, com “Cidadão Kane”). Esse tipo de edição mexeu com o raciocínio indutivo da platéia. Quem foi criado assistindo/vendo cinema do jeito-padrão dado por David Griffith nos anos 10, tinha dificuldade em acompanhar uma ação que pulasse de uma seqüência a outra sem explicar como o enredo está sendo traçado (ou conduzido). Por exemplo: se o personagem de Jean Paul Belmondo está lendo um jornal na rua e depois aparece dentro de um carro em movimento sem que o espectador o veja tomando o carro e arrancando ruas afora, o impacto leva a pensar que houve um “cochilo” do projecionista ou um erro de quem dirigiu o filme. Antes dessa independência formal havia medo de se desenvolver uma história em cinema sem contar o seu desenvolvimento, ou seja, o inicio do enredo, seu encaminhamento e, até mesmo, como deveria terminar (não necessariamente contando o final). Era pouco entendido o motivo de uma pessoa, no filme, abrir uma porta e não sair do outro lado dessa porta. Tampouco concebida a passagem do tempo sem uma cortina escura (fade out) que valesse como um “ponto em seguida”(ou mesmo, parágrafo). E o recurso da fusão (uma imagem sobre a outra indicando pelo tempo em que permanecia visível o quanto de tempo se passou entre as duas). A “cronometragem” dos primórdios da linguagem cinematográfica exercia poder total sobre o raciocínio do espectador.
Com Godard o que o cinema norte-americano intitula de “plot”, ou “trama”, ficou supérfluo. Para o cineasta, o cinema não é escravo de uma linha narrativa. Pode divagar, não necessariamente pedindo a quem o veja que divague com ele. Daí veio o choque dos cinemas de Godard com Truufaut. O pioneiro da “nouvelle vague” e amigo de Godard desde os primeiros tempos de jornalismo, amava o cinema do jeito que aprendeu a ver cinema. Um caso de paixão, gostando de como as imagens moldadas por diretores tradicionais chegavam à sua mente. Godard repelia, clamava pela inovação, pelo novo meio de usar a câmera e a sala de edição. Brigaram quando Truffaut explicou em detalhes como via cinema em seu antológico “A Noite Americana”(Day by Night). Os estilos conflitantes levaram os dois cieneastas a polos opostos. E seus fãs os seguiram. Há quem ame os filmes de Truffaut e toda a métrica do cinema tradicional e há quem ame os de Godard com a perene rebeldia (entre os quais me associo).
“Acossado” é, portanto, um divisor de águas. O simples enrredo sobre um ladrão que ao roubar um carro mata um policial e daí em diante foge estradas afora, chegou até a gerar um filme de Hollywood dirigido por Jim McBride, em 1983, com Richard Gere e Valerie Kaprisky (por intitulado “A Força do Amor”). Ali se dizia como a indústria se ocuparia da nova onda européia. Mas ficou nesse exemplo de adaptação. Os Godard seguintes cada vez mais distaram da cinematografia industrial e alguns enveredaram conscientemente pelo chamado manifesto político quando o cineasta adotou a simpatia pela linha chinesa de Mao Tse Tung.
Ainda hoje, aos 80 anos, Godard faz cinema. Seu “Filme Socialismo”(2010) é a prova de que não envelheceu ou se arrependeu. Sempre há um sopro inovador, uma pugna pela quebra da hegemonia artesanal.
“Acossado” está de volta a Belém fazendo sessão normal do Cine Libero Luxardo de quarta a domingo. Cortesia da Cinemateca da Embaixada da França. Programa importante para quem estuda cinema. E ama Godard.
Com Godard o que o cinema norte-americano intitula de “plot”, ou “trama”, ficou supérfluo. Para o cineasta, o cinema não é escravo de uma linha narrativa. Pode divagar, não necessariamente pedindo a quem o veja que divague com ele. Daí veio o choque dos cinemas de Godard com Truufaut. O pioneiro da “nouvelle vague” e amigo de Godard desde os primeiros tempos de jornalismo, amava o cinema do jeito que aprendeu a ver cinema. Um caso de paixão, gostando de como as imagens moldadas por diretores tradicionais chegavam à sua mente. Godard repelia, clamava pela inovação, pelo novo meio de usar a câmera e a sala de edição. Brigaram quando Truffaut explicou em detalhes como via cinema em seu antológico “A Noite Americana”(Day by Night). Os estilos conflitantes levaram os dois cieneastas a polos opostos. E seus fãs os seguiram. Há quem ame os filmes de Truffaut e toda a métrica do cinema tradicional e há quem ame os de Godard com a perene rebeldia (entre os quais me associo).
“Acossado” é, portanto, um divisor de águas. O simples enrredo sobre um ladrão que ao roubar um carro mata um policial e daí em diante foge estradas afora, chegou até a gerar um filme de Hollywood dirigido por Jim McBride, em 1983, com Richard Gere e Valerie Kaprisky (por intitulado “A Força do Amor”). Ali se dizia como a indústria se ocuparia da nova onda européia. Mas ficou nesse exemplo de adaptação. Os Godard seguintes cada vez mais distaram da cinematografia industrial e alguns enveredaram conscientemente pelo chamado manifesto político quando o cineasta adotou a simpatia pela linha chinesa de Mao Tse Tung.
Ainda hoje, aos 80 anos, Godard faz cinema. Seu “Filme Socialismo”(2010) é a prova de que não envelheceu ou se arrependeu. Sempre há um sopro inovador, uma pugna pela quebra da hegemonia artesanal.
“Acossado” está de volta a Belém fazendo sessão normal do Cine Libero Luxardo de quarta a domingo. Cortesia da Cinemateca da Embaixada da França. Programa importante para quem estuda cinema. E ama Godard.
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