Em uma história policial o/a espectador/a acompanha com interesse duas formas de narração: como se dá o crime e como ele é investigado pelos defensores da lei. Como aficionada do gênero desde adolescente, consumindo os livros de Agatha Christie, Edgard Allan Poe, Dashiel Hammett, Raymond Chandler, Rex Stout, George Simenon, além das revistas que traziam contos de Ellery Queen (nome de guerra da dupla Frederic Dannay e Manfred B. Lee), e hoje fã das séries de TV como Law & Order, CSIs e outros, gosto das duas formas de o argumento ser exposto. Por isso não questiono a opção do roteirista Renê Belmonte, auxiliado por Lucio Manfredi e Tais Moreno em “Assalto ao Banco Central”(Brasil/2011), quando resolveram explorar os fatos alternando a dinâmica preparação do assalto com a operação da Policia Federal. Isto não tira o suspense da história: ao contrário, joga-o em mão dupla. Como é um fato real você sabe que o roubo aconteceu e talvez até saiba que nem todos os criminosos foram presos. O que a ficção endossa é o caráter de alguns dos assaltantes e como eles se posicionaram depois da tarefa que consumiu mais de 3 meses, um túnel de 84 metros e muitos sacos de areia “exportados”, para perplexidade dos vizinhos da casa que alugaram para construir o túnel que os levaria para dentro da caixa forte do banco.
O filme ora em cartaz é uma tentativa do cinema brasileiro provar que está artesanalmente apto para fazer um tipo de “thriller” mais encontrado nas produções norte-americanas ou francesas (o clássico “Rififi” de Jules Dassin). O diretor Marcos Paulo, consagrado na TV por novelas e programas diversos, estréia na tela grande com o aval de um bom elenco e boa direção de arte. Em principio pouco se tem a exigir se o objetivo rende-se ao cinema comercial. Mesmo assim é forçoso ressaltar a presença dos estereótipos do gênero, as seqüências desnecessárias (como o relacionamento sexual de um assaltante), e a falta de mais detalhes em outras (o posicionamento do chefe da quadrilha após a prisão de muitos comparsas, a justificar o seu comportamento nos planos finais, ao sorrir nas vizinhanças do delegado recém-aposentado). Os personagens, divididos entre os assaltantes e no âmbito policial apenas o delegado interpretado por Lima Duarte (um dos tipos mais interessantes do elenco) e sua assistente (Giulia Gam), são moldados por características e não por qualquer densidade psicológica. Do grupo de ladrões, o mais interessante é o que mais se apóia na caricatura: Vinicius de Oliveira como o tipo que ao confessar o crime ao pastor de sua igreja(protestante) recebe deste o “conselho”para que deposite o seu quinhão, nesta igreja. Este apelo ao humor é isolado. Pinturas exageradas como a da “femme fatale”amante do chefe da gangue, tentam jogar no conjunto elementos que no entender da produção devem melhorar a venda do produto.
Mas o que se exige de um filme comercial é primeiramente uma dinâmica que prenda o espectador na poltrona do cinema. Isto a edição (montagem) não chega a conseguir de todo. Percebe-se o esforço da trilha sonora nos hiatos fragmentados de narrativa, não deixando que o filme abandone o suspense almejado pelos espectadores, especialmente aos que apreciam o gênero. Mas faltou a ironia que normalmente eleva as histórias criminais, especialmente em filme de longa metragem. O exemplo clássico é “Rififi”onde a meticulosidade do plano de roubo a uma joalheria começa a se esfacelar quando um dos participantes não resiste em dar um presente a uma mulher. No caso do banco central de Fortaleza, um fato real que figurou como o segundo maior assalto da história desse tipo de crime no Brasil, não ficou no cinema a impressão tragicômica dos parceiros do crime diluírem seu êxito em brindes ou na rebeldia ao que planejou o idealizador do golpe. Interessante a intervenção do veterano Milton Gonçalves como o pastor esperto que se aproveita da ingenuidade do fiel de sua igreja.
“Assalto ao Trem Pagador”, produzido há quase 50 anos, dá bem a idéia do que se fez melhor. Mas, de qualquer forma, o filme de Marcos Paulo deve contribuir nas bilheterias. Hoje o mercado é outro e a televisão é supremacia, fato que me leva a exemplificar “Assalto ao Banco Central” como um piloto de tele-série.
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