Em “Identidade...” Moore protagoniza uma psiquiatra que repele a idéia de múltiplas personalidades, mas tende à dúvida ao se defrontar com o caso de um jovem, recomendado pelo pai (também médico e pesquisador), capaz de mudar bruscamente de atitude, dizendo-se ora uma pessoa, ora outra. Ao assumir o caso, a psiquiatra passa a observar que o rapaz tende a adquirir mais personalidades. E como o roteiro de Michael Cooney não dá muitas explicações, pode-se pensar em possessão espiritual, com o jovem assumindo almas de mortos recentes ou não. Naturalmente o que interessa ao roteirista é o que a história possa gerar em termos de terror. O final é bem característico, até no ridículo que evoca.
“Os Esquecidos”é produção anterior, mas, desta vez, trata-se do desaparecimento de uma criança, ou do seu corpo - se é que morreu em um desastre aéreo - atormentando a mãe a quem todos censuram porque “a criança nunca existiu”. O roteiro também não é pródigo em explicações. No caso, é mais confuso do que o de “Identidade Paranormal”. Pergunta-se: por que todo mundo diz que a personagem jamais foi mãe e a mesma coisa se fala do pai de uma coleguinha do garoto que só nas lembranças dos pais se faz presente.
“Identidade Paranormal” é dirigido por Mans Marlind e Bjorn Stein (dupla sueca ligada à TV). “Os Esquecidos” por Joseph Ruben. É de supor que o agente de Julianne Moore tende ao gênero ficção-cientifica & terror, e aos filmes classe B. É possivel que a atriz se interessasse para esses tipos que em nada acrescentam à sua carreira, embora não deixem de prender o espectador no cinema ou diante da TV. Os mais exigentes não devem gostar. Mas quem está em casa e quer apenas uma hora de diversão (sem culpa) talvez ache um motivo de “relax” assistindo aos dois filmes. É o mesmo prazer que muitos sentem ao ver o “trash”, aquele subgênero elaborado/criado com parcos recursos para impressionar pela superfície.
O grande problema dos dois filmes mencionados, mesmo nas condições de “thriller” sem compromisso com a cinestetica apurada, é as reticências sem conteúdo do roteiro. Um filme pode não finalizar uma história (ou não ter nenhuma). Mas o final em aberto, deixando ao espectador que o faça, pode ser base de uma obra de vulto. Ninguém sabe, por exemplo, o que aconteceu com o repórter vivido por Jack Nicholson em “O Passageiro”, de Michelangelo Antonioni. Ele pode ter morrido quando a câmera se desloca para uma janela gradeada, passa por ela e vê a rua. Mas não se diz nem mesmo o motivo dessa fuga de imagem. Nada de explicações, como o mesmo cineasta se exime de dizer que fim levou a jovem desaparecida numa praia em “A Aventura”. E se Arthur Clarke não escrevesse um livro contando em detalhes o roteiro de “2001, Uma Odisséia no Espaço” muitas pessoas sairiam do cinema (como se deu mesmo) questionando o destino do astronauta que se vê a caminho do planeta Júpiter.
Cinema não se obriga a ser um mero contador de histórias. Ele é a janela que se abre ao espectador para que este navegue pela imaginação dos autores (roteiristas e diretor). E esta navegação muitas vezes pede para que o espectador participe/ reflita. A interatividade diante de um filme é mais difícil do que a existente na literatura, quando o leitor, sozinho, imagina o que lê. E isto porque este leitor constrói a imagem do que lê: no filme a imagem é revelada e cabe a quem está assistindo idealizar ou concluir liames do enredo, ou o âmago do conteúdo, com a missão de chegar a todos, mesmo sabendo que há reações particulares.
Os exercícios paranormais das produções modestas com Julianne Moore não conseguem se comunicar para que seja elaborado um raciocínio. É uma aposta na fantasia pela fantasia, e nos dois casos rompendo com o tempo e o espaço em favor do “happ-end”.
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