A distribuição comercial de filmes no Brasil omite o público da cinematografia sul americana. A rigor, da latino-americana. É o caso do que se faz na Venezuela. O cinema venezuelano chega agora à Belém através da embaixada daquele país, primeiramente com exibições na UFPA e em seguida no cinema Olympia.
O que foi possivel observar no que me foi dado a ver é a exposição de uma proposta nacionalista que me lembrou o tempo da Mosfilm quando os cineastas, de alguma forma, procuravam mostrar os novos valores do regime soviético cuja cultura era negada a ver. Compreendo o aspecto político da empreitada, mas não se diga que isto é obstáculo para se fazer bom cinema, a exemplo, o que foi produzido pela Mosfilm. Grandes obras da cinematografia universal foram encomendadas, como os trabalhos de Eisenstein (“OEncouraçado Potenkim”, “Outubro”), Pudovkin (“A Mãe”), Djovenko e mesmo autores modernos como Grigori Tchoucrai (“A Balada do Soldado”).
“Zamorra”(2009) de Roman Chalbaud é um exemplo do que me referi. Narra o papel de Ezequiel Zamorra na luta contra oligarquias que impeliam sacrifícios à população humilde na Venezuela do século XIX. A exaltação dos valores do personagem importa mais do que a narrativa histórica, adotando-se um sectarismo que sintetiza episódios em favor de uma espécie de Robin Hood sul americano. A produção tenta aprimorar na reconstituição de época e o modo de narrar, bem acadêmico, expõe o filme a um publico menos exigente. Mas a condução do elenco não é boa, as falas soam declamações e o episódio em seu tempo está mal orientado. Contudo, o que se tem é um cinema venezuelano extraindo de seu formato narrativo o que se propõe a evidenciar.
“Tambores de Água: Um Encontro Ancestral”(2008) é um documentário muito interessante. Focaliza a manifestação musical de afro-descendentes expressa em repiques que formam trechos musicais em ritmos próprios da herança étnica. Um trabalho simples da cineasta Clarissa Duque que se recomenda especialmente aos antropólogos ou estudantes de antropologia e/ou ciências sociais de um modo geral.
“Miranda Regressa”(2007), co-produção com Cuba é outro filme de época,bem melhor - especialmente em termos de produção - do que “Zamorra”. Aqui se tem uma entrevista com o lider revolucionário Francisco Miranda numa prisão de Caracas em 1916. Em flash-back vê-se a atuação desse herói militar não só naVenezuela como na Espanha e em Cuba. Um requinte no figurino e locações é ajudado por uma fotografia que realça o tempo da ação com cores a valer um mural dos acontecimentos. Infelizmente o artesanato não ganha mais campo por percalços do elenco e pela ambição do roteiro em captar todo o processo de formação do líder em pouco mais de hora e meia de projeção. Mas é um trabalho que revela o diretor Luís Alberto Lamata embora críticos da própria Venezuela tenham achado insuficiente.
Esses filmes, além de “A Classe”(2007) de José Antônio Varela, que colegas da critica gostaram, e o documentário do norte americano OliverStone(diretor de “JFK” ) “Ao Sul da Fronteira”, mostram uma fonte de cinema em Belém que é totalmente inédito. Um projeto oportuno da Embaixada da Venezuela e da ACCPA. Cada um dos 5 filmes deve ocupar uma semana no quase centenário cinema Olympia. Com ingresso franqueado ao público em sessões diárias (sempre às 18,30 h).
REGISTRO
Agradeço ao circuito Cinépolis a chance de ter participado, a convite, de mais uma “sessão cabine”, na última 3ª Feira. Espero que outros programas do tipo sejam realizados e, nessa espera, conto com títulos que certamente terão por parte da critica uma boa receptividade como foi o caso de “A Árvore daVida”. E espero que esse evento se preocupe com filmes mais densos como “Melancolia”, de Lars Vom Trier, ou “Fausto”, de Sokurov vencedor agora doFestival de Veneza e já adquirido para exibições no Brasil através da Imovision. Uma circulada entre os próximos lançamentos e a efetivação dessa “sessão cabine” aos jornalistas é uma forma de construir mais um canal de comunicação aos programas que serão exibidos nessas salas.
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