O personagem bárbaro, Conan, foi criado por Robert E. Howard em um “pulp fiction”(literaturade ficção) ou “pocket book”. Chegou ao cinema em 1982 pelas mãos de John Millius. Foi o filme que revelou o halterofilista austríaco vencedor do concurso de Mister Universo, Arnold Schwarzenegger. Aos olhos de hoje, quando os blockbuster apoiados em épocas passadas tomaram o sinônimo de “mau gosto”, essa produção ganhou o Globo de Ouro de melhor revelação feminina (Sandahl Bergman) e em compensação resultou numa outra qualificação de premiação, a “Framboeza”, categoria de pior ator a Schwarzenegger, mais tarde governador da Califórnia.
Hoje o tipo e o tema voltam às telas dentro do esquema de lucro fácil quando os executivos das produtoras procuram revisar os roteiros antigos e contam o que as bilheterias mundiais registraram no período hábil.
O novo “Conan, o Bárbaro (Conan, the Barbarian/EUA/2011) inicia com uma cena de extremo mau gosto: a esposa gestante, ferida no campo de batalha, pede ao marido que deseja ver o filho antes de morrer. Ele então toma nas mãos uma faca e corta-a nos moldes de uma“cesariana”. A personagem ainda segura a criança e lhe dá o nome de Conan.
O pequeno é criado pelo pai e instruído no manejo da espada. Mas o tempo é o pré-medieval, ou seja, no fim da idade antiga, quando os bárbaros destroem grandes impérios. Não demora e uma briga de facções leva o velho guerreiro à morte. O filho, rapaz, vê tudo e desde este momento assume uma missão de vingança. O resto é fácil de avaliar. E na construção do espetáculo cinematográfico atual entram em cena muito CGI e, com isso, detalhes de barbaridades (o tipo é hábil em decapitar adversários).
Há muita luta, muito sangue e, uma fotografia que encobre na penumbra “funcional” (cabem as aspas) detalha o escabroso, tudo no intuito de mostrar a valentia do novo Conan. Isso e o relacionamento morno com a mocinha convocada: Tamara (RaquelNichols). O machismo do herói trata a jovem sem chance de qualquer plano lírico. Ela também maneja a espada e isso parece o bastante para ser rotulada de “mulher do vingador”.
É de supor que um filme como este é nocivo para uma platéia que vê as coisas na superfície e acha divertida a exibição de violência. Quanto mais explicita a selvageria, mais esse tipo de platéia aplaude. Veja as sessões nos cinemas quando a garotada está em massa. Os produtores desse tipo de programa e, neste caso, figura o diretor Marcus Nispel, sabem dessa preferência. E eles pouco se importam se depois de uma sessão de “banho de sangue” um espectador imaturo se arma para as imitações nas esquinas (ou em sua própria casa). A responsabilidade de comerciantes que fazem cinema deveria colaborar para diminuir a perspectiva de violência. Não vejo necessidade de mostrar um corpo esquartejado para dizer que Conan matou alguém. O primeiro filme expunha menos esse artefato de guerra, era mais sutil. A explicitude é geralmente uma prova de incapacidade narrativa.
Há,contudo, maior violência no baixo nível estético dessas produções. É isso que mais auxilia no vazio mental de cabeças que pouco ou nada reconhecem entre a ficção e a realidade. É só lembrar o episódio com o filme “Clube da Luta (EUA,1999) em que o ex-estudante de medicina Mateus da Costa Meira (6º ano),29, entrou em uma sala de cinema do Morumbi Shopping (zona sul de São Paulo) e atirou em 60 pessoas que estavam assistindo ao filme, matando três, tentando matar outras quatro - que ficaram feridas – e colocando em risco a vida de outras 15 pessoas. Ele foi preso e condenado a 120 anos de reclusão, em 2004.
A verdade é que não é só o diretor Marcus Nispel o responsável pelo abacaxi em cartaz nacional. Há todo um arsenal de produção colaborando para o pior. E Schwarzenegger deve se sentir um Laurence Olivier ao ver o trabalho do jovem Jason Mamoa, o seu sucessor como o mocinho bárbaro. Aliás, bárbaro é mesmo o filme todo. Não no sentido de bravata (há quem lance o adjetivo como elogio). É mesmo sinônimo de péssimo.
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