segunda-feira, 19 de setembro de 2011

INIMIGOS AMIGOS



Assim como os cowboys e os índios se unem contra os extraterrenos em “Cowboys & Aliens”, e assim como “Megamente” passou de vilão a herói no desenho da DreamWorks, a impetuosa Chapeuzinho Vermelho de Charles Perrault associa-se ao Lobo Mau, seu inimigo, em “Deu a Louca no Chapeuzinho 2” (Hoodwinked Too! Hood VS Evil/EUA,2011) de Mike Disa. E mais: a vovozinha é presa por outro vilão (ou vilã) e a culpa cabe ao seqüestro de João(Hansel) e Maria (Gretel) personagens dos irmãos Grimm.

A moda de "salada cultural" pode confundir as crianças, mas os desenhos animados modernos, todos tridimensionais (mesmo se projetados em 2D), têm interesse que a confusão estimule a ação. Hoje não basta dizer que Chapeuzinho, ao visitar a avó, depara-se com o lobo malvado que deseja a velhinha como jantar. É preciso dar mais ênfase a ação e, no desenho em cartaz, a heroína chega a ir para a cidade grande na sua busca pelos seqüestradores e enfrenta o trânsito (que não deixa de ser outro vilão).

Infelizmente a animação é pobre, a narrativa primária, a idéia original naufraga numa trama mal engendrada. Pode ser que os espectadores bem pequenos gostem do programa. É de supor que os adultos vão se ressentir com essa mexida nos ícones de sua infância. É preciso, então, entender que nestes tempos de entrada de novos mercados no mundo das fábulas, as evidências confluem para a associação dos personagens e da mítica que estes criaram nas suas aventuras para a geração passada e se reelaborem para convencer a nova, acostumada a tratar com uma diversidade de tipos nos jogos eletrônicos. Qualquer dia desses veremos a avó da Chapeuzinho em luta de morte com o lenhador que a salvou.

Mas o melhor deste final de semana está em dois programas extras agendados pela ACCPA: “O Espantalho” e “A Comilança”. O primeiro, no original “Scarecrow”, é de 1973 e o melhor do diretor Jerry Schatzberg. A trama segue dois personagens, um ex-presidiário (Gene Hackman) e um andarilho que pretende voltar para a família desejando conhecer um filho que nasceu (Al Pacino). Eles viajam juntos pretendendo manter uma atividade empresarial em comum: uma garagem especializada em lavagem de veículos. No caminho encontram muitas personagens e situações que servem para dimensionar seus caracteres. É um “road movie” que adentra pelo cinema introspectivo. Raridade na época. Foi vencedor do Festival de Cannes.

“A Comilança” (La Grande Bouffe/França, 1973) é o filme mais conhecido do diretor italiano Marco Ferreri (1928-1997). No enredo,ele enfoca uma reunião de amigos com prostitutas para uma porfia: comer até morrer. Nesta simbologia da exacerbação dos prazeres como bandeira de uma classe, ganha uma narrativa suficientemente dinâmica para manter o interesse num assunto praticamente fechado a uma unidade de lugar. Grandes intérpretes ajudam: Marcello Mastroianni, Philippe Noiret, Ugo Tognazzi, Michel Piccoli e Andrea Ferrol encabeçam o elenco. Ferreri foi candidato a Palma de Ouro no Festival de Cannes do ano na categoria de melhor diretor.

“A Comilança” estará no Cine Clube Alexandrino Moreira (IAP) nesta 2ª feira, 19, às 19 h.

E no Cine Olympia está um programa de filmes venezuelanos. Muito pouco ou quase nada se conhece da indústria cinematográfica daquele país a julgar pela programação das nossas salas comerciais “vendidas” para o cinema norte-americano. O programa é patrocinado pela Embaixada da Venezuela e começou 3ª feira com a exibição de “A Classe” de José Antonio Varela. Sessão diária (exceto 2ª feira) às 18,30 h.

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