sábado, 29 de outubro de 2011

CINEMA PARA CRIANÇA & LUCRO



Não é à toa a enxurrada de filmes endereçados aos pequenos espectadores. Mais hoje do que ontem. E a primeira explicação pousa nesta qualidade histórica: nos seus primórdios, o cinema queria conquistar as platéias adultas até como forma de se firmar economicamente (cf. estudos sobre o “primerio cinema” com o livro de Flávia Cezarino). Os grandes estúdios norte-americanos, construídos em sua maioria por emigrantes judeus, viam um veio lucrativo na atração de quem podia pagar ingresso para descobrir o fascínio das imagens em movimento ( e as classes menos abastadas estavam por lá deixando seu níquel). E este cliente era seduzido pela novidade, por uma fantasia que extrapolava o parâmetro infantil (para a criança, o maravilhoso fazia/faz parte de seu raciocínio). Nos idos da “cena muda”, os filmes aplaudidos pelos infantes eram as comédia visuais que se produziam com vistas aos adultos. Mas vou ao que interessa agora. Por que, numa semana comum em uma cidade como Belém do Pará observa-se que cerca de 5 títulos próprios para menores de 12 anos estão sendo exibidos nos cinemas, contra 4 para adultos? Coincidência? Em primeiro lugar há uma explicação mercadológica: a criança insiste com os pais para ir ao cinema (tenho netos nessa idade). E vai. Como vai acompanhado são mais ingressos vendidos. Além disso, 30% dos filmes “infantis” são exibidos no processo 3D e isto quer dizer entrada mais cara. O sistema de projeção tridimensional é o mais procurado pela tecnologia de potencial de venda.

Antes as crianças ganhavam temporadas de desenhos dos Estúdios Disney e filmes de aventuras ingênuas, alguns abordando contos de fadas ou histórias das “mil e uma noites”. Certa vez, tratei disso neste espaço, criticando as ingenuidades que apelavam até para a falta de incentivo à inteligência de nossas crianças Também continuavam a surgir comédias onde a graça era tentada preponderantemente pela ação (poucas vezes os diálogos eram mais importantes no enredo). Hoje há necessidade de uma tecnologia que leve a criançada (garotos e garotas, diga-se) a preencher uma expectativa alicerçada nos “games” e nos programas de TV. Chega a tecnologia do CGI, e todos os “cartoons” editados com auxilio de computadores, ganhando uma forma tridimensional por mais que a projeção seja em 2D.

Um filme como “Gigantes de Aço” é aplaudido pela garotada que não quer saber se os robôs em cena são pessoas fantasiadas ou desenhos. Pode-se dizer a ela que os atores trabalham com atores, sim, mas estes são transformados, na edição, por animações que traduzam as máquinas especificadas no roteiro. Da mesma forma, na versão moderna de “Os 3 Mosqueteiros”, a técnica digital leva as personagens para naves que são transportadas por dirigíveis e abordadas por outras do mesmo feitio como se as antigas batalhas marítimas passassem ao cenário aéreo naturalmente. E os meninos e meninas do século XXI preferem um Comandante de aeronave chamado Blood a um Capitão Blood de galeras do modelo vivido pelo veterado ator de uma geração, a minha, Errol Flynn.

As animações que antes eram restritas à “oficina” Disney, hoje ganham campo em quase todas as produtoras de Hollywood: há os desenhos da produtora DreamWorks (ligada a Paramount), a Blue Sky da Twenty Century Fox (onde trabalha o brasileiro Carlos Saldanha), a da Universal (que criou o divertido “Meu Malvado Favorito”), da Columbia Pictures (como “Tá Chovendo Hamburger”) e de muitas empresas menores. A média atual, contando-se apenas a produção norte-americana, é de uma animação por lançamento semanal (na próxima já estará nas telas dos EUA “O Gato de Botas” da DreamWorks, com desenhos dos autores do aplaudido filme Shrek).

E na linha européia também há filmes do gênero. Recentemente assistimos por aqui ao excelente “O Mágico” (Le Illusioniste) do francês Sylvain Chomet (autor de “As Bicicletas de Belleville”, outro exemplar desta fonte). Mas essa produção é mais distante do nosso mercado, e bem mais exigente esteticamente.

Por hoje, penso no fator mercadológico do cinema que domina o Brasil vindo dos EUA. Uma tradição que ainda não foi possivel mudar. A distribuição e a exibição andam juntas e os lucros são pensados mais do que a diversidade estética para esse tipo de produto. Pelo menos na “praça” de Belém”.

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