Como parte da série “Além da Imaginação”(Twilight Zone), Richard Matheson, escritor especializado em ficção - cientifica escreveu o roteiro de “Steel”(Aço), episódio produzido em 1963 e dirigido por Don Weiss tendo Lee Marvin no papel principal . Este mesmo roteiro serviu de inspiração ao que escreveram John Gatins e Dan Gilroy atribuindo a história original a Jeremy Leven (não citam Matheson) para “Gigantes de Aço”(Real Steel/EUA, 2011) dirigido por Shawn Levy. Trata de uma época futura em que a profilaxia da violência levou a limitar as lutas de boxe aos robôs. Cada participante usa um robô de sua propriedade e a competição segue o mesmo caminho das lutas tradicionais não se sabendo, apenas, se existem classes de peso.
A idéia deixa margem à construção do relacionamento entre pai e filho bem a gosto do produtor Steven Spielberg. O menino, órfão de mãe, está sendo disputado na justiça pelos tios, e o pai, ex-pugilista e agora fabricante de robôs para lutas a partir de sucatas ou de compra de modelos baratos, precisa de dinheiro e aceita desistir do pátrio poder, a que tem direito, por determinada quantia. Mesmo assim, o menino tem de passar uma temporada com ele enquanto os tios por afinidade vão viajar para a Europa. Nesta temporada, Max, o garoto, passa a ser o grande amigo e ajudante do pai, solidificando uma grande amizade.
O roteiro desdobra-se na parte esportiva, detalhando a competição dos gigantescos bonecos, e na relação pai e filho, ganhando campo a partir do momento em que o menino, acostumado a jogar vídeogame, encontra um robô enterrado na lama e o conserta com seus conhecimentos nos jogos, levando-o a competir nas lutas domésticas até atingir a técnica para enfrentar elementos profissionais.
“Gigantes de Aço”é o tipo do filme em que os acontecimentos e situações são antecipadamente conhecidos, mas, mesmo assim, a ação é acompanhada com muito interesse. E isto é devido não só ao “toque Spielberg” (produtor executivo), que em seus trabalhos tem o hábito de incluir crianças em busca de afeto, como aos dois atores principais, o já veterano Hugh Jackman (42 filmes, entre estes “A Senha” e três “X-Men”) e o menino canadense Dakota Goyo (16 titulos no currículo, iniciando-se aos 5 anos em comercial de TV). Bem dirigidos por Shawn Levy (que se redime do segundo “Uma Noite no Museu”), eles conferem o tom sentimental desejado.
Este é o tipo de filme em que a mesmice serve aos bons propósitos. Se a ferocidade natural do ser humano continua a ser demonstrada mesmo quando se troca, num ringue, pessoas por máquinas (a torcida é a mesma), a construção do relacionamento familiar a partir de um homem que mal conheceu a sua parceira (falecida sem que haja indicios dos detalhes ) e uma criança que renegou ao nascer, passa por detalhes construtivos como a demonstração de inteligência jovem (o menino impõe suas idéias e na maioria das vezes acerta) e uma rara visão do futuro em termos cinematográficos (a ação se passa em 2020) sem os excessos fantasiosos comuns no gênero. Além disso, um vilão é punido de forma sutil, como a demonstrar que “os maus por si se destroem”(não há revanche do herói). Igualmente, o processo competitivo aparece como arma de dois gumes, seja na fé que o menino deposita em seu engenho, seja na ambição desmedida de quem maneja a área esportiva, jamais aceitando concorrente à altura, preferindo comprar o contendor a experimentar uma possível derrota.
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