Na cultura ocidental, o dia 24 de agosto (dedicado a S. Bartolomeu), ficou marcado historicamente pela matança dos huguenotes (etimologicamente, a união dos termos franceses, Huis Genooten /colegas de casa, grupo de estudantes da Bíblia, e alemão, Eid Genossen /colegas de juramento). Trata-se dos protestantes que sofreram perseguição na França do século XVI comandada pelos súditos da Rainha Catarina de Medicis. Esse dia de agosto levou ao refrão: “o diabo está solto”. Presentemente conheci outra cultura que coloca o dia 11 de novembro de 2011 como o preceptor de uma energia que torna vulnerável a proteção celestial aos seres humanos e deixa que “os demônios se aproveitem para testar a resistência desses seres”.
Esses dois indicativos remetem ao filme “11-11-11” (EUA/Espanha, 2011) escrito e dirigido por Darren Lynn Bousman que se aproveita dos velhos mitos e conta a história de um escritor descrente, Joseph Cronet (Timotthy Gibbs) que perde a esposa e o único filho num incêndio em sua casa. Logo depois desse trauma ele segue de Nova York para Barcelona para assistir ao pai doente. Nessa cidade espanhola encontra o irmão mais novo, Samuel (Michael Landes), um clérigo com idéias confusas. Mesmo assim, o que se torna evidente no filme é a luta de Samuel para reativar a fé do irmão. O pai moribundo tenta avisar o filho descrente sobre um mistério que ronda a casa desde a morte da esposa e do outro filho. Joseph observa ao seu redor imagens assustadoras. Morre o patriarca e os fatos se precipitam para uma verdadeira batalha de assombrações, com o clérigo, a principio, transformado em vitima e, depois, revelado como um fanático que deseja fundar uma nova religião escrevendo um novo livro a ser inserido na Biblia.
O filme poderia ser interessante se o argumento explorasse um liame critico em que se destaca a proliferação de seitas no mundo moderno e a alienação advinda ou não de traumas emocionais. Ao invés disso, Darren Bouman prefere realçar os clichês de “filmes de terror”. Começa com os acordes musicais graves quando se dá uma tomada súbita. Não há clichê mais solicitado do que este dentro do gênero. Em seguida, o filme não estrutura convenientemente o papel de Samuel, sabendo-se apenas que ele nasceu quando sua mãe já tinha sido considerada infértil (depois do parto difícil do irmão mais velho). O autor quer levar à surpresa do final e a moda atual nos filmes “para assustar” é usar final macabro. Afasta-se do “happy end” quando os personagens centrais venciam os fantasmas fabricados quase sempre por Hollywood.
Um ponto que me pareceu interessante no filme foi a máscara do ator Timothy Gibbs. Ele chega a convencer na primeira hora da projeção, mostrando a imagem de um homem amargurado. Por certo, há um inicio promissor pela apresentação dessa figura, na primeira sequencia, centrada no drama vivido por ele após a tragédia que acomete sua família. A surpresa do espectador vem sequenciada com a clicheria que entorna a boa vontade em extrair melhores momentos do filme. Infelizmente isso não ocorre e o final é mesmo ridículo, com uma reviravolta sem embasamento, toques de mistério inesplicáveis e a desdita cada vez mais próxima da contagem do tempo. Dele e nosso.
“11/11/11” é uma produção que ambiciona o lucro fácil até pela estratégia de lançamento. A produtora escolheu a data/titulo para estrear o filme mundialmente. Quando muito colocou essa estréia um dia antes em alguns países. Claro que coube ao Brasil um punhado de cópias. Fosse um projeto mais responsável, um produto mais sério, talvez nem chegasse às nossas telas grandes, sendo diretamente jogado no mercado de DVD.
Será mais uma data a inscrever o cinema na era dos mitos sobre religião e crença.
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